Assim como a busca interminável da humanidade por vida inteligente além da Terra, a missão de Contato ficou marcada por corações partidos, arrogância, intromissão de engravatados e momentos sublimes. Confira essa que é uma história oral de Contato, um filme que desafiou tudo e todos. Os problemas eram imensuráveis. Naquela época, Hollywood estava acostumada com um aventureiro, e essa era a história de uma mulher que partia em uma jornada intergaláctica enquanto seu companheiro ficava em casa. Quase todos os roteiristas e cineastas que deram pitaco no script de Contato se atrapalharam em fazer a protagonista, Ellie Arroway, ficar mais palatável para os executivos dos estúdios. Além disso, os aliens não matavam e nem tinham aparência esquisita, como na grande maioria dos filmes de ficção científica. Mesmo assim, Contato sobreviveu a diversas alterações de roteiro, muitas das vezes sofrendo cortes e mudanças brutais. Sua última versão chegou aos cinemas no dia 11 de julho de 1997, nas mãos do diretor Robert Zemeckis com Jodie Foster de protagonista e Matthew McConaughey como o estudioso da filosofia cristão. Tragicamente, quando a sonhada obra de Sagan e Druyan estreou, o astrônomo não pôde testemunhar o seu nascimento. No aniversário de 25 anos do filme Contato, a Vulture, revista digital do grupo Vox Media, conversou com várias pessoas que trabalharam na produção do longa. O resultado disso foi essa grande entrevista, que você pode acompanhar na tradução a seguir, incluindo Zemeckis, Foster, McConaughey, Druyan, Sasha Sagan e a produtora veterana Lynda Obst. Eles discordaram em vários aspectos do desenvolvimento de Contato, mas chegaram a um consenso: Contato foi um feito e tanto, já que esse é o tipo de filme que os grandes estúdios raramente fazem, e provavelmente nunca mais irão fazer – já que ele foi extremamente intelectual, desafiador, emocionalmente instável, cheio de metáforas, e também onde ninguém fuzila alienígenas na frente da bandeira americana. “A gente fazia isso. Fazíamos filmes que ressoavam e entretiam”, disse Foster.

Fazendo o primeiro Contato

Durante os quase 20 anos de desenvolvimento, Contato caiu nas mãos de dúzias de roteiristas, diretores, produtores e executivos, todos com ideias diferentes sobre os motivos que levariam Ellie a ser atirada à estratosfera em busca de vida inteligente. Durante um tempo, parecia que Druyan e Sagan, que se casaram em 1981, perderiam a personagem para sempre para maquinações suspeitas dos estúdios. Ann Druyan: O ano era 1978. Carl e eu estávamos trabalhando na série de TV Cosmos. Havia um ditado naquela época que dizia: “Bom, se as mulheres são tão inteligentes quanto os homens, por quais motivos não há nenhuma mulher com as capacidades de Leonardo Da Vinci ou Einstein?”. Isso nos deixou furiosos. Eu tinha acabado de co-escrever a parte de Cosmos que tratava da Grande Biblioteca de Alexandria e sobre Hipátia, a líder da biblioteca, que era uma matemática cujos estudos eram focados nas equações diofantinas, que viraram o foco de Newton posteriormente. Sua recompensa por ser a grande estrela intelectual da biblioteca em 415 foi ser arrancada da sua carruagem e teve seu corpo destroçado. Na época, todos queriam fazer algo com o Carl. Ele era um fenômeno cultural. Sabíamos que poderíamos conseguir um contrato para um livro e um filme. Nós concordamos uma noite, sentados na piscina da nossa pequena casa em West Hollywood, que faríamos uma história em que não só uma mulher seria a heroína intelectual, mas também, assim como na tradição de Gilgamesh, ela partiria numa jornada enquanto o homem ficaria em casa. Lynda Obst, produtora: Nora Ephron foi uma das minhas melhores amigas e também minha mentora. Ela promovia os maiores jantares do mundo, e este foi um particularmente especial em 1974. Eu me lembro da Nora dizer assim que eu cheguei: “Lynda, quero que você conheça Annie, ela gosta de baseball tanto quanto você.” Nós logo ficamos muito próximas. Ann e Carl se conheceram naquela festa também. Quando eles estavam trabalhando em Cosmos, aquele era o meu primeiro ano como produtora executiva. Eu estava extremamente infeliz e deslocada de tudo que era real e importante para mim, mas estava animada que eles iriam passar um ano em Los Angeles. Druyan: Em algum ponto entre 1979 e 1989, Lynda foi até nós e disse: “Vocês deviam escrever um filme.” Nós chegamos a um acordo em que eu faria a parte emocional e ele faria toda a parte científica e técnica. Nós trocávamos de páginas todos os dias enquanto montávamos a história juntos. Nossa filha, Sasha, tinha 2 anos na época. Sasha Sagan: A primeira lembrança que eu tenho são de gigantescos quadros brancos, e eles sempre me diziam: “Não ouse tocar aí.” Eles estavam apaixonados. Eu entrava na sala de jantar e os via – esse é o exemplo perfeito de coisa assustadora para qualquer adolescente, mas agora, que sou adulta, eu vejo o quão bonita era a cena – dando uns beijos. Druyan: Óbvio que estávamos chapados enquanto escrevíamos Contato. Ele fazia uma cena onde tirava o seu chapéu imaginário para mim quando estava muito satisfeito com algo que havia escrito. Quando eu lia aquele pedaço, eu só conseguia pular nele e gritar. Para mim, esse era o maior momento de felicidade. Sagan e Druyan finalizaram seu trabalho Contato em 1980. No ano de 1982, o produtor Peter Guber, na época chefe do Casablanca Records and Filmworks, comprou os direitos e o levou à Warner Bros. E lá ficou, por sete anos, em um período de desenvolvimento infernal. Druyan: As 110 páginas que fizemos pareciam muito com um roteiro. Mas, infelizmente, não se tornou um projeto de filme por um longo tempo. Obst: Eu estava trabalhando na Casablanca com o Peter Guber, quando ele comprou os direitos de Contato. Quando eu saí da empresa para fundar a minha, ele continuou desenvolvendo-o – ou algo assim. Ele o passou para vários diretores errados – um dos que eu lembro foi o sentimentalista do Robert Harling, um roteirista e diretor de comédias românticas. Peter mudou o cerne da ideia. Na visão da Ann e do Carl, a protagonista seria uma radioastrônoma que estava procurando por sinais de outras civilizações no espaço. Peter havia modificado para uma cientista que abandonou seu filho e parte em busca dele – onde ela supostamente deveria estar procurando, e não nas estrelas. A misoginia beirava o inacreditável. Peter fez de tudo para distanciar Contato de Carl. Carl e Annie eram demandavam precisão na ciência demonstrada no filme, mas Peter queria inventar ciência, então ele contratou um engenheiro chamado Gentry Lee, que costumava trabalhar para o Carl no primeiro Cosmos, e ficou radiante em se juntar ao seu primeiro filme e justificar qualquer coisa que o Peter queria. Enquanto isso, Sagan e Druyan escreveram o livro Contato, que se tornou um best seller. E em uma feliz obra do destino, a Warner Bros. demitiu Gruber de Contato e contratou Obst como produtora, em 1989, com James V. Hart junto ao roteiro. Obst: A primeira coisa que eu fiz foi juntar Carl novamente a Contato depois que a Warner Bros. tirou o filme das mãos do Peter. Eu fazia outra coisa para a Warner Bros. e eles me disseram “poderia nos ajudar num projeto chamado Contato?” Eu ri demais. Eles não sabiam que eu o havia produzido originalmente. James V. Hart, escritor: Eu continuava dizendo não. Eu não ligava para quanto queriam me pagar. Eu achava que era uma adaptação muito complicada. Não era igual aos filmes de sci-fi daquela época: não tinha aliens, espaçonaves ou invasões da Terra. Eu descobri que sete outros roteiristas haviam trabalhado no projeto. Eu disse, “Beleza, me mandem alguns scripts.” A única coisa que eles tinham em comum era que Ellie Arroway entrava em uma espaçonave que ia para o centro da galáxia para um contato com extraterrestres. Um deles tinha o filho dela a bordo. Obst: Na minha opinião, o maior erro de todos foi que eles não entendiam ser possível uma mulher dedicar sua vida à busca pelo conhecimento em vez dos filhos e do marido. Druyan: Era mais ou menos assim: havia muitas pessoas que queriam transformá-la em uma mulher convencional. Hart: Eu finalmente perguntei: “Ninguém conversou com o Carl sobre a adaptação?” E não, nenhum deles falou com o Carl – nenhum dos diretores ou dos roteiristas antes de mim. Por conta disso, a Lynda marcou um final de semana para que nossas famílias pudessem se encontrar. Naquele final de semana nós encontramos o filme no livro. Ele era, sobretudo, sobre a relação entre pai e filha. Sagan: Uma coisa que eu realmente acabei de notar é o quanto aquela era uma história sobre pai e filha. Eu vou começar a chorar agora. Hart: No livro, isso não existia. Eles não tinham nenhuma conexão emocional. A título de crédito para Carl e Ann, eles disseram, “Bem, vamos criar isso.” Nós trabalhamos mais um ano naqueles rascunhos. Depois, George Miller veio para dirigir, em 1993. Obst: Nós então começamos o desenvolvimento com o George Miller por alguns anos. Ele disse para Carl e Annie que deveriam recusar a fazer parte o roteiro em algum momento. Druyan: Em 4 de dezembro de 1994, nós tivemos uma conferência telefônica depois que ele leu nossa versão do roteiro, e, pela primeira vez, ele havia abraçado o material. Aquele foi um momento de grande alegria para mim. Depois, eu estava recebendo uma massagem no hotel, estava deitada na mesa, pensando, Nosso filhote é bom. Carl é bom. Nós criamos uma coisa que um diretor renomado acha valioso. Então o telefone tocou. Eu levantei da mesa de massagem e atendi o telefone, era o médico do Carl dizendo que o resultado do exame de sangue dele havia chegado e que ele havia sido diagnosticado com uma doença fatal. Esse foi o começo de uma jornada de dois anos para encontrar um jeito para que Carl sobrevivesse.

O estranho filme que poderia ter sido

Em 1994, Sagan foi diagnosticado com uma Síndrome Mielodisplásica, uma rara doença na medula óssea. Ele e Druyan tentaram tudo o que era possível para mantê-lo vivo pelos próximos dois anos, inclusive com 3 transplantes de medula, quimioterapia, e radiação. Neste período, o desenvolvimento de Contato seguia com o George Miller, o diretor australiano de Mad Max, que imaginou um filme “estranho”, que jamais chegou às telas. Jodie Foster, Ellie Arroway: Para George Miller, o filme era completamente diferente. Era um incrivelmente longo – coisa de 200 páginas. Era loucura. Parecia algo como o filme O Oléo de Lorenzo, ou até com momentos a lá Eraserhead. Druyan: George Miller foi a primeira pessoa que notou que o filme precisava ser fora da caixa, e não seguir a fórmula clássica de blockbuster de Hollywood. Ele participava de seminários com militares e movimentos sociais sobre como seria um mundo traumatizado, como pensamos que seria, em caso de uma situação de contato real. Era mais estranho – já que era essa a ideia. O universo é estranho. Haviam cenas atropeladas que não pareciam estar no caminho certo, mas serviam para direcionar a história e haviam o poder de expandir a consciência do telespectador. George Miller se recusou a comentar sobre esta história. Em 2015, em uma entrevista para o Collider, ele descreveu sua versão de Contato como menos “segura” e menos “previsível” do que a de Zemeckis. Ele comparou seu roteiro com outro filme de Matthew McConaughey, também produzido por Lynda Obst, Interstellar. “Não estou dizendo que ele seria o 2001, Uma Odisseia no Espaço, mas seria uma exposição muito, mas muito menos forçada.” Hart: George trouxe Menno Meyjes, um roteirista incrível, que trabalhou no roteiro com ele. Eu não queria que a Lynda me trocasse. Ainda assim, ela tinha todo o direito. Eu fiz uma adaptação muito complicada. E eu acho que o estúdio ficou desapontado, já que o roteiro era pesado e matemático. Menno Meyjes: roteirista não-creditado: Eu acho que conheci o George em um churrasco. Eu dei umas ideias meio soltas, até meio subversivas. Eu lembro quais são elas, mas não vou dizer aqui, já que seria crucificado num piscar de olhos. Só sei que no momento seguinte eu estava em um avião rumo à Sydney. Hart: O trabalho de Menno Meyjes foi sensacional. Trouxe aquela coisa do mundo de fora: amplificou a mídia, a ameaça terrorista. Eles não existiam no livro, eu os inventei. Meyjes: Eu fui mandado embora antes do Geoge. Todos amaram o rascunho, menos a Jodie. “Eu havia amado as duas versões. Quem sabe um dia não fazemos Contato de uma forma diferente.” Disse Jodie Foster. Obst: George ficou feliz com o trabalho de Menno, mas o estúdio não. Então eles chamaram Michael Goldenberg, que fez um rascunho antes de Menno. Michael Goldenberg, roteirista: Aquele foi um rascunho que deixou todo mundo feliz, o estúdio, a Jodie e fez com que o projeto voltasse a andar. Um problema constante era a Ellie como personagem – ninguém a entendia, então não simpatizavam ou se conectavam com ela. Mas eu era aquela criança, como o Carl, que vivia sozinha e lia muita ficção científica e queria transcender das circunstâncias mundanas. Eu via isso na Ellie como uma personagem. Obst: Seu roteiro era maravilhoso. Depois eu o dei para o Geroge, que gostou, mas queria fazer alterações. Então tivemos nosso maior contratempo: “George, você vai fazer o filme esse ano?” E ele estava tipo “ Provavelmente, se eu tiver o roteiro.” Os executivos do estúdios disseram: “Bom, nós achamos que temos um roteiro”. E ele respondeu, “Eu acho que ainda não temos.” O estúdio organizou uma mega reunião decisiva. Byron Eric Kennedy (falecido em 1983), produtor original de George, disse ao amigo que “eles estão blefando”. Enquanto isso, eu dizia “George, eles não estão blefando. Ele foi até a reunião com um complexo diagrama sobre como ele queria o roteiro. E os executivos perguntaram, “George, você está comprometido a começar a gravar o filme junto ao Natal?” Aquele era o momento da decisão. Todos rezávamos para ele dizer sim, mas ele disse não. Eu me lembro de afundar na minha cadeira. Druyan: George foi demitdo. A Warner Bros. queria seu blockbuster. Eles queriam colocar na agenda de lançamentos. Mas é claro, nós não estávamos nem próximo disso, já que o George cuidava de todas as tratativas do jeito dele. E agora ele não estava mais lá. Eles já tinham o Robert Zemeckis na produção no dia seguinte. Eu acho que já sabiam o que aconteceria quando dessem o ultimato ao George e o deixaram pronto como um produtor reserva caso precisassem. Robert Zemeckis, diretor: Eu sempre fui um grande fã de Carl Sagan. Eu amava a série Cosmos que ele fez na PBS. Eu soube quando o livro Contato saiu. Mas, para ser honesto, eu nunca fui fã de filmes de alienígenas. Eu nunca liguei para o design dos aliens – como alguém poderia saber como eles se parecem? Um rascunho mostrava o céu aberto e os aliens apareciam para provar para e Ellie que sua jornada havia sido verdadeira. E eu só disse, “não, obrigado”. Então passei para frente. Aí fiz outro filme, depois fiz Forrest Gump. Depois Contato voltou. O fato de o roteiro ter vindo após o lançamento de Forrest Gump provavelmente solidificou a ideia de que eu estaria a cargo da parte criativa do filme. Eu não faria mais nenhum filme sem o corte final novamente. Obst: Ele não queria manter uma relação de trabalho comigo, eu acredito que seja pelo fato de eu ter trabalhado muito perto do George. Golderberg: Jodie era muito perspicaz. Ela tinha umas anotações. Ela fez com que nós três nos reunissemos em uma sala e decidir que tipo de filme seria – Eu não sabia na época o quão bom aquilo era, sendo bem honesto. Carl e Annie fizeram um novo rascunho de roteiro. Nós nos encontramos em Seattle enquanto o Carl estava se tratando. Robert foi amável com ele. As coisas que eram realmente importantes para eles – eles estavam balanceando as coisas que precisavam para um filme de duas horas e meia. Hart: estava claro para mim que quando vi o roteiro que seria filmado que Goldberg havia feito um excelente trabalho em incorporar o roteiro de Menno no rascunho. Não era possível ver até término da escrita do roteiro o quanto do trabalho de Carl, Ann, Lynda e eu fizemos estava incorporado no texto e até havia sido expandido. Eu fui creditado no filme como um dos roteiristas. A Warner Bros. havia colocado apenas o nome do Michael Golderberg como destaque em comerciais de TV e em trailers. Porém, eles tiveram que mudar tudo. Houve um sentimento de ressentimento muito grande, já que muitos acreditavam que eu não havia feito nada. Goldenberg: Eu me lembro de ficar devastado. Tipo, era meu primeiro grande filme. Eu me senti o dono dele. Mas isso já está no passado. Hart: Menno não foi creditado. E isso sempre me perturbou. Nós assistimos ao filme juntos. Meyjes: Eu não posso dizer que sentei lá com um baldão de pipoca e disse pra minha esposa, “Querida, essa noite vai ser fantástica.”Eu assisti e meio que pensei, “Que porra é essa? Zemeckis: Tudo o que eu sei é que Michael Goldenberg trabalhou pra caramba. Foster: de um jeito meio esquisito, eu via duas possibilidades para Contato. Uma seguia um caminho artístico e filosófico. O tipo de desconexão humana que vivemos desse cotidiano altamente tecnológico. E também os questionamentos da fé, e se a fé pode reparar essa conexão, ou então esse seria o papel da ciência. A outra possibilidade era de um filme bem pés no chão, trazendo a NASA e tudo o que sabemos da experiência cinematográfica que o Robert Zemeckis pode trazer. Druyan: Eu sempre tive esse desejo secreto de ver o filme do George. Mas a visão do Robert casou bem com a nossa visão. Não o quero insultar de jeito algum. Obst: Eu acho que o Zemeckis fez um baita trabalho. Mas eu queria poder ver o filme do George.

Um tipo raro de personagem

Como resolver o problema que era Ellie Arroway? Quem em Hollywood tinha o alcance para interpretá-la, o intelecto e a empatia para entendê-la? Em quem ela foi baseada, afinal? E qual ator poderia estar a altura dela como a virtuosidade filosófica de Palmer Joss? E ele precisava ser atraente? Obst: Tinha um pessoal disputando Ellie. Julia Roberts queria fazer. George Miller flertou com Uma Thurman por um momento. Mas não havia ninguém tão perfeito ou em que todos estivéssemos tão animados quanto Jodie. Foster: Eu não precisei fazer um teste. Eu já havia vencido dois Oscars naquela época. (Acusados(1989) e O silêncio dos Inocentes(1992)). William Fichtner, Dr. Kent Clark: É difícil descrever, mas existem certos papéis cujos atores são perfeitos para o papel, e eles não poderiam ser interpretados por mais ninguém. E esse é um caso destes. Zemeckis: O fato de trabalhar com Jodie foi o que mais me atraiu no projeto. Golderbeg: Eu me lembro de ela me dizer uma vez, “Faça Ellie intransigente! Não tenha medo de fazer com que ela seja intransigente.” Muitos atores querem ser compreensivos, querem ser amáveis. E isso foi o mais impressionante: “Faça ela ser dura, difícil e mípoe, do jeito dela.” Matthew McConaughey, Palmer Joss: Jodie não é tola. Ela é bem direta. Eu a conheci bem para saber que ela tem um ótimo senso de humor, mas Jodie não brinca. Eu acho que isso fala pela sua longevidade. Você não se torna uma instituição e se mantém como uma e se mantém relevante e com tanta demanda por tanto tempo se você fica puxando o saco do que acha que a indústria quer de você. Foster: Eu acho que, diferente de qualquer outro personagem que eu já vivi, Ellie Arroway é a mais parecida comigo, ou a mais parecida com o que eu deveria ser vista – como eu me vejo ou algo assim. Ela é profundamente emocional tanto quanto é uma prodígio do mundo acadêmico, e isso fez com que ela vivesse uma vida solitária. Eu não diria que foi sozinha, mas sim solitária, sabe, o tipo bom de ficar sozinha. Eu não era muito boa em matemática, e eu não tenho certeza se sou boa em muitas coisas, mas uma coisa que eu com certeza tinha era essa ligação prodigiosa com o comportamento humano e essa habilidade de compartimentalizar – ser capaz de examinar algo enquanto eu o estava sentindo. Isso é parte de Ellie e é algo que me conecta também. Sagan: O personagem da Ellie é filho dos meus pais. Eles a criaram juntos. Druyan: Ela foi batizada de Eleanor por causa da Eleanor Roosevelt, que ambos adoravam. “Arroway” veio por ser o nome real do filósofo Voltaire, mas escrito de maneira diferente. Tudo por conta da ideia da tradução literal do nome, Arrow que é flecha, e Way que é caminho – afinal, ela iria viajar como uma flecha em direção ao cosmos. Ela não foi baseada em Jill Tarter, eu não a conhecia, que eu respeito e adoro, ate anos depois de ter terminado a minha parte da escrita. Mas há uma evolução convergente aqui. Já que ela era uma das cientistas que nós apresentamos à Jodie, para que ela ficasse confortável no papel de uma cientista. Obst: Tem uma outra cientista que acha que é sobre ela também. Mas eu acho que não devo dar seu nome. Seria muito controverso. Mas acredite em mim, tem uma grande cientista planetária que acha que é sobre ela. Isso se deu por termos falado com vários cientistas no começo do projeto sobre como lidavam com o isolamento que a ciência trazia. Sagan: O jeito com que a Jodie interpreta a Ellie me lembra muito o meu pai. Ela conseguiu captar o genuíno desejo de saber se tem alguém lá fora – não acreditar, mas sim saber. Obst: A Ellie me lembra mais a Annie do que o Carl. Eu acho que a Annie foi mais influente, mas ela não dirá isso. Hart: Jodie estava canalizando Carl. Eu percebi isso somente quando estava vendo o filme pela terceira vez e disse, “Ela está interpretando o Carl.” Jena Malone, Jovem Ellie: O papel foi apresentado para mim como “Eles estão procurando uma jovem Jodie Foster, e você seria perfeita.” Eu acho que a Anjelica Huston disse coisas boas sobre mim. Eles me disseram que Jodie queria me encontrar. Eu estava nervosa. Nós sentamos e conversamos. Não era sobre o roteiro. Eu posso dizer que ela me olhava como um falcão observando a presa. Zemeckis me disse depois que ela estava me estudando, ela queria ver meus movimentos e as coisas que podíamos ter igual. Eu acho que eu acabei colocando meu cabelo atrás da orelha várias vezes, e ela fez esse mesmo movimento quando estava olhando para os satélites. Hart: Nós criamos um romance entre a Ellie e o Joss que não estava no livro. Eu não conseguia ver Joss como um religioso. Obst: Naquela época, era meio que obrigatório ter um romance. Palmer era um pensador espiritualista no livro – o que pedia que pessoa fosse um pouco mais velha e mais sábia do que o grande astro dos Estados Unidos. Mas o que a Warner quer ela tem, e Matthew foi excelente. Você escala Matthew pro filme e ele automaticamente chama atrai alguém. Zemeckis: Ele é um pedaço de mal caminho, né? Ele tinha aquele toque texano na voz. Eu achava perfeito. Foster: Ele era bem jovem. Ele tinha feito apenas Tempo de Matar. E se mantinha forte as suas raízes texanas, e eu amava isso nele – o fato de que, mesmo sendo jovem, Hollywood iria o transformar e jogá-lo na falsidade da indústria. McConaughey: Eu nunca tive aulas de atuação. Eu entrei em Hollywood em Juventude Inconsciente e trabalhei por três semanas. Eu não sabia o que era atuar, mas parecia ter o instinto para a coisa. Na estreia de Tempo de Matar, eu tinha 100 roteiros que faria sem nem pensar muito, e 99 respostas que eu recebia eram “Não”. Na segunda seguinte, do nada, desses 100, 99 eram “Sim.” Eu parti em um retiro espiritual de 22 dias no Peru. Eu sempre fui crente. Eu passei um tempo da minha vida pensando em ser monge. Eu voltei, e foi quando eu decidi fazer Amistad e Contato. Ao invés de escolher ser o papel principal nos filmes que me ofereceram, eu queria escolher qual história que eu achava necessária e válida de ser contada? Foi como uma escolha filantrópica, eu ouso dizer. O fato de ser proposto como um paradoxo entre ciência e religião, entre a ciência e a crença, entre a ciência e a fé, era um assunto que eu me interessava a vida toda. Eu escrevia trabalhos sobre isso na faculdade. Minha crença sempre foi a de que a ciência é a busca prática de Deus. Eu não fiz um teste. Eu me encontrei com o Zemeckis. Depois eu acho que me encontrei com Jodie. Ela aprovaria quem faria o papel de Palmer. Depois me foi oferecido o papel. Zemeckis. Eles eram ótimos juntos. Eles tinham uma verdadeira química na tela. Foster: Tinha essa coisa nova e interessante na tela – uma conexão erótica, mas totalmente intelectual. McConaughey: Todos que já estiveram em um relacionamento em suas vidas sabem que é possível ser intimo de várias maneiras. Com Jodie e eu isso se dava através de uma confrontação intelectual. Foster: Ele ficou mais ou menos com o papel da mocinha, e eu achava isso interessante, honestamente. Normalmente é a mulher quem fica em casa enquanto o homem parte em uma jornada. Nós ficamos em casa e pensamos na família, nós temos essa vida privada que os exploradores não tem. Nós trocamos. Ellie Arroway é a exploradora, ela é a navegadora, ela é o Galileo. Ele é o cara sério que fica em casa e pensa sobre a vida. McConaughey: “eu sou o cara com o avental, mas sem o avental.” Foi essa frase que me deu a ideia para fazer o Palmer Ross, ele é meio renegado. Isso deu ao Robert a mim uma liberdade para com o cabelo, ou um botão da camisa. Zemeckis: A única coisa que me deixou nervoso com o Matthew foi que ele entrou de cabeça no personagem. Ele queria deixá-lo com uma barba gigante de lenhador. Mas eu disse “Eu não entendo o que levaria ele a ficar assim. Afinal, ele é o cara que fala com a imprensa.” Foi então que ele desistiu.

Seu Deus é Muito Pequeno.

Depois de quase duas décadas depois que Sagan e Druyan estavam à beira da piscina, Contato começou a ser filmado em 24 de setembro de 1996. Assim como Sagan fez, Contato lida com intermináveis questões de ciência e fé. Essas questões incomodaram muito o elenco e os produtores, e todos entravam em intensos debates sobre Deus, o universo – até mesmo sobre algumas falas que soavam como sacrilégio. Foster: Eu queria que fosse real. De jeito maneira eu teria o conhecimento de um cientista real. Muito da minha pesquisa eu nao entendi, mas uma pessoa muito esperta me comprou um livro infantil sobre ciencia e buracos negros. Fichtner: Eu sou formado em direito criminal em Buffalo. Eu me esforcei pra caramba, mas cara, eu fiz um astrofísico. Robert Zemeckis queria tudo certo, e haviam muitas pessoas que realmente entendiam aquilo tudo. Obst: No início, fizemos uma série de workshops com especialistas de diversas áreas. Havia teólogos Cristãos que nos falaram conosco sobre a Joss e o significado do pensamento apocalíptico. Jill Tarter nos falou sobre rádio astronomia. Nós queríamos fazer o debate entre ciência e religião do jeito certo. Nós queríamos que os cientistas vencessem, mas não queríamos que a religião perdesse. Foster: Honestamente, eram basicamente os computadores. Ninguém os entendia direito na época. Eu me lembro do meu primeiro dia com Gerry Griffin, que foi o diretor de voo da Apollo 12. “Eu não entendo nada. O que estou fazendo aqui?” Ele sentava e me explicava, mesmo depois de 25 minutos eu não entendia nada. Robert chegou e disse: “Okay, chega. Você vai apertar essa tecla e depois essa.” Eu queria entender, mas não conseguia. Carl esteve na produção. Ele nos deu uma aula sobre o cosmos. Ele vestia uma camiseta de gola alta, e depois fizemos perguntas. McConaughey: Nós nos tornamos uma audiência cativa enquanto Carl Sagan nos levava para o início dos tempos. Se eu me lembro bem, era tipo,”Se você pegar um relógio e o observar bidimensionalmente, ele estará na ponta do canto esquerdo do topo do número cinco do relógio. Essa é a nossa galáxia em que estamos. Está sempre se expandindo, e há muitos universos.” Eu estava imerso o tempo todo. Tudo o que ele falava me preenchia, e me fazia mais crente do que eu já era. Ele terminou e disse, “Portanto, Deus não existe.” E eu disse, “Peraí. Você me fez acreditar ainda mais na existência de Deus, e você termina sua fala assim?” E ele respondeu. “Sim, e eu adoraria discutir sobre isso.” Obst: Carl nunca se metia com os personagens, mas se tivesse uma frase que não era verdadeira ou que pudesse ser melhorada para se tornar verdadeira – ele estava sempre checando a ciência. Um exemplo disso, Ellie inicialmente viajaria através de um buraco negro. Carl enviou seu livro para Kip Thorne, o maior especialista do mundo em buracos negros. Ele fez alguns cálculos e disse: “eles estão viajando através de um buraco de minhoca.” Foi então que Carl reescreveu essa parte do seu livro. Esse era o tipo de checagem que ele fazia. Nós não sabemos dizer se está certo dizer que há um buraco de minhoca ou se há outra sociedade inteligente, do tipo que pudesse ler nossas memórias ou mentes, e visse na forma corporal que quisesse, e também que essa forma de vida vinda do centro da galáxia poderia se transformar no holograma da protagonista. Poderíamos especular à vontade, mas sem nunca quebrar as leis da física. Druyan: O que Carl e eu queríamos era que Eleanor Arroway fosse cética. Mas então ela teria essa experiência onde ela veria seu pai no Paraíso, e que maneira legal de mudar algo dentro dela. Já que ela literalmente acredita ter visto seu pai no Paraíso. Nós queríamos que Palmer Joss percebesse que seu Deus era pequeno – Ele não era grande o bastante para o universo, e a ciência revela isso. Mas Matthew não quis. Eu não queria que ele se tornasse Richard Dawkins, mas queria ter feito ele dizer: “Meu Deus é muito pequeno.” Obst: Isso era o que Carl realmente acreditava das pessoas que achavam que Deus não teria colocado outras inteligências no universo. Era um Deus pequeno. Mas um Deus que concebia diversas formas de vida – esse era um grande Deus. McConaughey: Eu não me imagino dizendo essa frase que rebaixa tudo o que eu acredito. E que é uma mentira. Eu não posso mentir pelo meu personagem. Fazer um personagem que no final acredita que “Oh, meu Deus é muito pequeno”, é diferente de dizer, “Oh, o quintal de Deus é maior do que eu acreditava.” Zemeckis: Eu concordaria totalmente com o Carl, ele não gostava da frase: “Seria um terrível desperdício de espaço.” Já que as palavras literais não significam nada. É como uma piada ruim. Druyan: Enquanto o roteiro foi passando de mãos em mãos e o livro foi para outras, havia mais como uma sensação de um forasteiro do que alguém de dentro. Eu lembro que falava muito sobre gases nobres – o tipo de coisas que fazem os cientistas parecerem meio malucos. Nós sentíamos que esse tipo de coisa refletia em quem não entendia como era participar de uma eletrizante conversa com dois cientistas. Zemeckis: Nós tentamos fazer a coisa toda o mais crível que conseguimos. Eu não tenho tanta certeza que a NASA teria um botão vermelho para abortar a missão como nós tínhamos. Mas eu sei que eles tem como parar a contagem caso algo de errado surgisse nos últimos segundos. Quase como uma pílula de suícidio? Eu não sei. Mas caso fizessem algo assim, eles teriam como negar. Tipo, o que aqueles quatro caras que foram para a lua iriam fazer caso a nave lunar não funcionasse? Não acha?

O show de Robert Zemeckis

A história de Contato já era difícil o bastante para se filmar: criar e explorar espaçonaves, viajar ao centro da galáxia, imaginar um alienígena se disfarçado de humano em uma praia intergalática. Para capturar isso tudo, Zemeckis gravou em Very Large Array, próximo de Socorro, Novo México, Arizona, em Porto Rico, Washington D.C., Newfoundlad, nas ilhas Fiji, em em estúdios de som em Los Angeles. Durante a filmagem, os atores e os membros da produção se perguntavam direto se Deus realmente existia, Ele era vingativo, e amaldiçoou a produção de Contato? Foster: Robert é um ser adorável, bacana e otimista. Ele é muito calmo. Nada consegue deixá-lo irritado. Zemeckis: Eu não me importo com nada. Fazer um filme é como dar um salto de fé, certo? Você gasta todo o dinheiro e todo o tempo. Como me foi explicado bem no começo da minha carreira por George Lucas, filmes são binários: ou eles funcionam ou não. Foster: Uma coisa incomum de vê-lo trabalhar é que todos os dias ele chegava ao set de filmagens e criava um problema cinematográfico. Ele dizia algo como: “Eu quero sentir que a câmera e a Ellie estão viajando juntas através do tempo, e eu quero que ela se conectem, mas eu ainda quero que os telespectadores tenham a noção de movimento” E todos pensavam “Okay, isso é impossível”. E ele dizia “quer saber? Nós vamos fazer dar certo.” Ken Ralston, supervisor de efeitos visuais: Eu gosto de trabalhar com o Robert por conta de uma grande porcentagem – coisa de 40% – parece impossível. Mesmo quando algo não se parece com um efeito visual na página, ele pode se tornar um. Então eu entendi, “nós vamos fazer esse projeto. Nós vamos ser pioneiros. Ou vamos ter um enorme sucesso e essa será uma ótima maneira do mundo saber do que a Sony é capaz ou vamos falhar miseravelmente. David Morse, Theodore Arroway: Zemeckis sempre tem umas cenas nos seus filmes que você pensa “Como assim?” Ralston: A cena do espelho, para começar. Você nunca esperaria nada de especial naquela cena onde uma garotinha encontra seu pai morrendo e corre até o armário. Zemeckis: A garota tinha que subir as escadas e pegar o remédio do pai, certo? Então você pode simplesmente gravar a cena e todos vão entender, ou então você se pergunta: “como podemos fazer isso de um jeito totalmente novo?” Então eu tive essa ideia: eu fui até o pessoal da câmera e dos efeitos especiais e disse: “tentem imaginar que a lente da câmera não é a câmera, e sim um espelho. É o espelho com o armário de remédios, e ela está a sua procura para pegar o remédio.” E é assim que a gravação se pareceu. Quando você corta para o ponto de vista do espelho, todo o set fica invertido. As escadas estão do lado errado, a face dela está invertida. Ralston: Eu me lembro quantas vezes Robert Presley, nosso câmera com a steadicam, teve que subir aquelas escadas de trás para frente. Ele ficou exausto. Malone: Eu acho que poucos filmes são tecnicamente proficientes. Eles colocam tudo junto, nada é premeditado. Eu adoro como as pessoas realmente tentam fazer uma boa gravação no set. Ralston: Robert é definitivamente seu pior inimigo, isso acontece já que ele faz de tudo pelo filme. Eu já o vi surtar, e ele sabe disso. Ele fica doido. Perde o controle. Xinga demais. Em O Náufrago eu já o ouvi dizer que a culpa é dele próprio. Foster: O filme todo foi amaldiçoado pelo tempo. Em Socorro, onde ficavam os telescópios, se você quisesse com que ele estivessem virados em uma posição específica, era preciso pedir muito antes. Nós nos adiantamos e fizemos os pedidos oito meses antes do necessário, mas o tempo ruim nos fodeu, e atrasou tudo. Quando fomos para Porto Rico nós sofremos com muitas tempestades e deslizamentos de lama. Em Washington D.C. estava um frio de amargar em todas as cenas externas. Com absoluta certeza foi o pior clima em filme que eu já estive na vida. McConaughey: Eu não lembro se estava amaldiçoado. Mas me parecia excessivamente molhado. Ralston: Um segundo grupo foi para Newfoundland, para o Parque Nacional Gros Morne para gravar belíssimos fiordes como pano de fundo da segunda máquina em Hokkaido. Nós estávamos gravando em helicópteros e o clima ficou horrível, nevou que nem doido. Não dava para ver nada. Foster: Tinha uma cena com muitos figurantes – quase como uma Comic-Con, onde todos estavam fantasiados, mas eles estavam no deserto, tipo o Burning Man. O dia passou e eles precisaram mudar o filme, – já que era um filme de 35mm – eles acabaram expondo tudo. Então eles tiveram que voltar e gravar tudo de novo. O cara que expôs o filme todo por acidente, que era assistente de cameraman, acabou sendo demitido. Trágico. Então, em uma cena, eu tinha que falar com alguém, me virar e entrar no jato. Mas a porta era mais baixa que eu, e toda vez eu batia a cabeça. Então eu tinha um galo gigante na cabeça. Eu tinha uma outra grande cena que eu tinha subir correndo um morro, e acabei sendo picada no pescoço por uma abelha. Era possível ver no filme: a marcona vermelha no pescoço e o galo na cabeça. Sério, esse filme foi levemente amaldiçoado. Zemeckis: Eu não acho que tivemos nenhuma dificuldade durante as filmagens.

O problema com a Máquina

Zemeckis e sua equipe usaram de licença poética para trazer Contato para as telonas. Por exemplo, Ellie não estaria ouvindo ondas de rádio, ela estaria procurando por sinais visuais. Uma das principais discussões centrais sobre a história entre Sagan, Druyan, Zemeckis, Goldenberg e Ralston foi: Como a máquina que levaria Ellie até o espaço iria ser? Druyan: A máquina veio diretamente do meu trabalho com os filósofos pré-Socráticos e a história da ciência e da irracionalização do número dois – uma obsessão dos antigos Gregos – e a padronização Euclidiana das formas geométricas sólidas e como, assim como visto em Cosmos, você poderia chegar à uma outra dimensão ao pegar um cubo tridimensional e projetando suas lindas e ângulos com luz até a quarta dimensão. Nós queríamos que a nave fosse supersimples. Zemeckis: Eu tive vários encontros maravilhos com o Carl, e debatemos muito sobre a aparência da máquina, e eu acho que ele não gostou. Ele disse que parecia uma alegoria de carnaval. Mas eu dizia: “Carl, você nunca a descreveu no livro, você não pode fazer isso agora.” Então a máquina foi toda ideia minha. Ralston: Tem algumas cenas que a máquina não… parece tão real quanto queríamos. São cenas rápidas, eu aprendi com o George Lucas anos atrás: você consegue se safar de cena pra lá de maluca se tudo for coreografado muito bem e o telespectador não puder ver o que nós vemos. Goldenberg: Eu discuti um pouco com o Robert sobre a cena da viagem pelo buraco de minhoca. Robert era direto: “Na vida real seria apenas um corte, você já chegaria lá. Não haveria jornada.” E pensando pelo lado físico da coisa, ele está certo. Mas eu achava que precisava de uma jornada. Eu dizia: “É como ir para o Fantástico Mundo de Oz sem a jornada no tornado”. Nós perguntamos ao Carl o que ela deveria ver durante a jornada. Zemeckis: A travessia de Ellie pelo buraco de minhoca é completamente arbitrária. Algo como: “Okay, vai ser do jeito que o Robert Zemeckis disse que a viagem seria.” Era tipo uma ceninha musical: “Beleza, nós vamos parar aqui e vamos para lá; vamos fazer isso.” Foster: Toda ficção científica é sobre os nossos medos e desejos. Não é sobre o que é possível ou real. Morse: Eu acredito que levamos duas semanas para gravar a cena. Eu sempre fico impressionado com a cena, já que eu sei que ela estava sozinha. Ela tinha que criar toda aquela cena emocional. Foster: Foram umas três semanas comigo sozinha em um fundo azul. Isso faz com que você não queira mais fazer um filme com fundo azul de novo, pode ter certeza. McCounaughey: Uma tela não reage a você. Então só acabamos pensando: “isso soa tão idiota quanto parece para mim?” Golderbeg: Eu peguei a dica: “precisamos de um diálogo para essa cena.” Mas era a cena com ela narrando o que acontecia – eu queria ter cortado. Teria sido mais poderoso se fosse somente o silêncio, já que a cara da personagem transmitia muita força. Foster: Nós fizemos muitas coisas, e eu falava e me movia de trás para frente. Então eu tinha que aprender o diálogo de trás para frente, e então fazer a cena. “Eles deveriam ter mandado um poeta” Zemeckis: Nós metamorfomos Jena ali também. Malone: Eu tinha que me sentar com uma estrutura na cabeça e uma bola de tênis no topo da cabeça. Não conseguia me mexer. Eu me lembro que não fiquei satisfeita, era tudo muito técnico, não consegui fazer perfeitamente, mas no final deu certo. Golderberg: Eu acho que escrevi a frase “estou pronto para seguir” e foi como se a Jodie tivesse tomado a frase e a transformado no seu mantra que a mantinha inteira. Foster: Eu dizia “eu estou pronta para seguir” milhares de vezes, obviamente. É isso que o pessoal da NASA diz. Mas o fato de isso se encaixar com a morte, fim da vida, Budismo, fé, e todas essas coisas é extremamente maravilhoso. Tinham coisas que eu fazia e depois tinha que repetir mas de forma diferente. Eu estava, tipo, grudada naquele uniforme. Zemeckis: Nós demos a Jodie uma armadura a lá Joana D’Arc que era parte de uma cadeira. Ela acabou sendo presa à cadeira. Nós a balançamos bastante. Foi bastante violento. Foster: Antes de gravar, Robert me mandou a Magic Mountain. Alguém me levou umas dez vezes seguidas, sem intervalo. Então eu acho que eles estavam seguros de que eu aguentaria o tranco. Zemeckis: E ela pegou fogo. Foster: Jill, minha dublê, estava amarrada à cadeira, mas tiveram que tirá-la rapidamente. Uma falha elétrica queimou tudo, a coisa se espalhou muito velozmente. Zemeckis: Mas só perdemos poucas horas.

Uma praia tão real que parece falsa

Todo o sucesso do filme se baseia em um momento: Quando Ellie finalmente pousa no seu “destino” e faz contato com um alienígena em uma praia surrealista no centro do universo. Foram necessárias uma quantidade gigantescas de trabalho para fazer com que essa cena saísse do jeito certo. Druyan: Quando eu era criança, meu irmão era um operador de rádio amador. Teve uma vez com que ele conseguiu o sinal de Pensacola. Eu era pequenina, e aquele conceito, o nome Pensacola, me fez criar uma ideia de manter contato antes mesmo de ter algum conceito daquilo. Alcançar o mundo e encontrar outra alma no planeta. Eu achava que a Ellie experimentaria o que eu vivi quando criança – a primeira vez que ela entendeu a noção de um universo maior do que sua própria experiência. Zemeckis: Os aliens puxaram aquela memória do cérebro dela. Eles criaram a ideia de uma praia que estava nos pensamento dela. Mas nós queríamos que fossem aliens. Quando eu descrevi para o time de efeitos especiais, a ideia era quase com que a praia inteira coubesse dentro da nave, e tudo não passava de uma simples projeção. Nós tivemos a ideia de que ela estava dentro de um balão e a imagem era projetada na superfície do balão e poderia oscilar ao menor toque. Acho que era essa a minha ideia de céu. Ralston. Ela não está em outro planeta, mas sim nas profundezas do seu subconsciente. Zemeckis: Tem sempre a possibilidade de ela ter sofrido um pequeno derrame, ou algo assim. Ela pode ter morrido por alguns segundo, vai saber? Morse: Quando eu li o roteiro, essa cena era mais cara. Eu viajei por toda a Terra e, de todos os lugares, fui até o Grand Canyon. Eu pensava, eu não vejo a hora de fazer isso. Então eu disse sim para o filme. Depois eu recebi um novo roteiro, e todos aqueles lugares que os personagens iam naquela cena longa – haviam sumido. Goldenberg: Era pra ser tudo o mais simples o possível. Ralston: Nós levamos Jodie e David Morse para uma pré-gravação. Tínhamos apenas um pequeno grupo de vídeo, e fomos para a praia de Leo Carillo, em Malibu, e em apenas um dia gravamos a cena toda. Robert veio e gravou tudo como se fosse pro filme mesmo. Morse: Ele nos gravou, com os roteiros na mão, de diversos ângulos. Depois fomos para casa, esperando pelo dia em que gravamos a cena. E quando o dia chegou, a cena ficou ainda mais curta do que antes, o que foi um pouco desapontador. Nós não a faríamos na praia. A cena seria gravada nas Ilhas FIji sem nossa presença. Ralston: Eu acabei indo pra lá com minha equipe. Nós vivíamos em um barco. Não havia atores. Depois nós voltamos com muitas horas de gravações, tudo muito complicado. Mas agora começava todo o processo criativo de descobrir o que realmente faríamos com aquele pano de fundo. Morse: Ao invés de estar nas Ilhas Fiji, Jodie e eu passamos três dias em frente a uma tela verde. Havia um pequeno prato com um pouco de areia nele e essa era nossa praia. Precisamos fingir todo o resto. Foster: Eles adicionaram coisas depois da gravação, como os meus lábios vermelhos, e coisas nas nossas faces, e isso deu uma sensação hiperrealista. Tem uma parte de mim – como eu posso dizer isso? Eu não estou 100% seguro do que fizemos. Tem uma parte de mim que adoraria ver como seria mais real, ao invés de hiperrealista. Morse: Tudo o que precisávamos éramos nós e aquele pratinho de areia. Podíamos fazer tudo o que precisávamos. Não fazíamos ideia de como ficaria, claro. Quando o vimos, meu Deus do Céu, ficou espetacular. Goldenberg: Eu sei que desapontamos muitas pessoas que queriam ver mais. Mas o Robert estava convicto de que não havia nenhuma maneira de mostrar os aliens de um jeito que não parecesse bobo. Eu concordei com que mostrasse o pai e depois tivéssemos toda aquela contemplação emocional da protagonista dizendo adeus para ele. E é isso o que é mais belo na filosofia de Carl: “A única coisa que encontramos para deixar o vazio suportável é um ao outro.” Foster: Como Carl diria: “As chances de você reconhecer um alien são minusculas, por quais motivos ele teria uma forma reconhecível?” Tem uma grande chance de ele ser parecido com uma lula com uma maçaneta no lugar da orelha. Druyan: Sempre me foi esquisito a forma como imaginamos os extraterrestes, nas nossas fantasias eles sempre são mais avançados tecnologicamente, mas com os mesmos sentimentos. É tão óbvio que essa é uma projeção dos nossos medos, já que essa é uma projeção da maneira com que tratamos uns aos outros no planeta Terra. Nós somos brutalmente egoístas, e assumimos que todos são assim. Eu acho que essa é uma falha da imaginação. Tom Skerritt, David Drumlin: Eu nào sei por quais motivos as pessoas sempre são levadas pelo lado assustador das coisas ao invés das coisas que possam trazem um sentimento bom. Contato é meio que sobre isso.

O que aconteceu com o final de Carl?

O final de Contato sempre esteve em desenvolvimento, desde o momento de sua concepção. Como você termina uma história como a de Ellie – seu final deve ser ambíguo ou conclusivo? Científico ou voltado para o lado da fé? Emocional ou racional? Realista ou transcendental? Obst: A história não foi difícil de adaptar, mas sim o seu final. Esse foi o nosso desafio. Depois que ela volta da galáxia, o que queremos dizer? O que os aliens queriam dizer? No que eles queriam testá-la? O que aconteceria quando ela voltasse sabendo do que aconteceu mas sem nenhuma prova? Agora vem a parte profunda: ela é uma cientista, e não quer ficar presa ao que acredita, mas sim no que pode provar. George Miller não pôde se comprometer 100% com o filme por não saber como queria o final. Cada um tinha uma ideia própria de como deveria ser. Hart: Eu amo Contato. Eu não gosto do final, já que não foi o de Carl. Ele foi extremamente específico para mim quando trabalhamos juntos e queria que a fé fosse um problema, mas no final, o que aconteceu com Ellie e a galáxia pode ser provada como real. Não foi ambíguo do jeito que o filme fez. Goldenberg: Haviam diversas versões para o final. Eu me encontrei com o Steven Spielberg e falei sobre isso. Em algum momento, ele considerou fazer o filme, mas seria o terceiro de sua trilogia de ficção científica: Contatos imediatos de terceiro grau, E.T. e depois Contato. Uma das ideias era fazer com que Ellie fizesse um discurso sobre como seria se as pessoas pudessem ver o que ela viu, e os aliens ouviram isso, e no final, fariam um show de luzes, o mesmo que Ellie viu no centro da galáxia. Não deu certo. Eu estava tentando fazer alguma coisa. A audácia de deixar um final ambíguo, meio que deixando aos poucos, ao invés de terminar com algo impactante era a convicção de Robert, e eu acho que ele estava certo. Zemeckis: Eu não ousaria fazer nada diferente de ambíguo, já que qualquer outra coisa soaria falso. Druyan: Nós queríamos fazer com que ela fosse uma pessoa que jamais acreditaria em alguém que dizia ter uma experiência fantástica sem nenhuma evidência e depois se tornaria essa pessoa. Mas meu filho, Sam, me disse: “Se eles tivessem 18 horas de vídeo, como poderia ser ambíguo? Como isso aconteceria? Zemeckis: Dezoito horas de estática digital que acabou em um chip que passou um tipo bizarro de campo magnético é o mesmo que nada. Goldenberg: A fita de 18 horas foi minha ideia, mas muito tarde durante a produção. Essa cena foi escrita muito depois, e gravada perto do fim da nossa programação. Eu não tinha certeza se havia sido uma boa ideia. Ann está certa – a balança pende mais para o lado do “isso definitivamente aconteceu”. Mas posso dizer para você que, quando eu assisti junto com o público, era possível sentir no cinema. Quando a cena aconteceu, o público captou a mensagem. Eu tenho certeza que o filme foi um sucesso graças ao sentimento de, “Cara, quer saber? Aconteceu.” Mas mesmo que estivesse ambíguo, do ponto de vista lógico, nada mudou, mas do emocional mudou tudo. McConaughey: O final ficou aberto para mim. Eu senti como se aquele fosse o ponto certo para ele. Foster: Tem uma coisa maravilhosa sobre o quão contido, pequeno, interno, e pessoal o final é. O momento em que Ellie está respondendo perguntas e o James Woods diz algo como “Aconteceu ou não?” Sua resposta é o verdadeiro final: “Eu tive uma experiência, e tudo me diz que foi real, está vivo dentro de mim, eu posso te dizer isso.” Morse: Eu acho que foi um final muito inteligente, já que não sabemos o que está lá fora. Nós temos nossas esperanças e fé, nossa busca, o que é tão importante quanto qualquer outra dessas coisas. Druyan: Eu queria que fosse diferente. Eu o achei maravilhoso, mas se Carl e eu fossemos poderosos, e Carl estivesse bem de saúde, então eu teria feito tudo diferente, e ele também. A ideia era que a Ellie aprenderia a ser modesta. E o Palmer também. Por quais motivos a sua versão da realidade se mantém mesmo sem nenhuma base? Sagan: A filosofia do meu pai durante toda a vida foi: “Nós não temos evidências ainda.” Com os questionamentos dos extraterrestres e outras tantas que buscamos respostas a milênios. A capacidade de manter um lugar para a resposta em vez simplesmente depositar algo lá porque nos satisfaz a curto prazo, isso é muito do que aprendi com meu pai. Obst: Zemeckis adicionou um adendo para o final, uma cena onde ela está ensinando. Eu nunca vi essa parte, nem ligo – eu acho uma coisa muito banal para uma pergunta tão profunda. Eu adoro a sensação da areia escapando pelos dedos, muito por conta da vida ser assim. Ela está escapando pelos nossos dedos assim como aquele pequeno brilho. Ela tem esse momento de admiração não só pelo ambiente no seu entorno, mas também por tudo o que ela não consegue entender. O que talvez nunca vamos entender. Zemeckis: Eu me considero ateu, mas eu percebi trabalhando nesse filme que eu confundia Deus com a espiritualidade, e elas são coisas diferentes. Contato, para mim, foi uma forma de entender que um ateu é arrogante por acreditar que Deus não existe, e isso pode deixá-lo arrogante igual um crente. Espiritualidade é a única forma de modéstia humana, ser capaz de aceitar que você está bem mesmo sem saber e sem precisar saber. Foster: Eu estava indecisa. Eu estava tipo, “Eu sou ateia. Eu não acredito em Deus. Mas espera aí, eu acredito em Deus? E isso faz diferença? É tipo um esquema da pirâmide. Certo, mas o esquema funciona…” Eu ainda me questiono. Druyan: Nós somos bebês. Somos novos. Eu acho que o Carl sentiu que único lugar apropriado na nossa posição de ignorância era ser agnóstico. “Eu não sei.” Modéstia é a única posição a se tomar.

A grande perda

Em 20 de dezembro de 1996 morria Carl Sagan, aos 62 anos. E então começou o processo. Obst: Ele foi heroico no final. Ele trabalhava até começar a receber uma transfusão de células tronco. Druyan: Um mês de Carl morrer, nós fomos à Washington D.C. ver uma gravação. Carl estava cansado mas era capaz de mostrar o seu fascínio quando falava sobre o filme. A energia era extremamente positiva, mas é claro que nós estávamos lidando com uma crise existencial que ameaçava tudo. Foster: Infelizmente ele morreu no meio das gravações. Druyan: Carl viu apenas uma pequena cena, onde o Bill Clinton falava sobre os aliens. Obst: Eu estava com a Annie e com Carl quando ele se foi. Druyan: Eu senti como se tivesse me amputado algo, mas não fazia ideia de qual parte fora removida. Sagan: Muito da minha associação com Contato se deu pela perda do meu pai. A ideia de que finalmente estava acontecendo depois de anos de trabalho e muitas tentativas e ele não conseguiu ver o filme finalizado, essa é uma ligação extremamente emocional que eu tenho. Zemeckis: Eu fiquei triste. Foi horrível. Mas foi um privilégio passar tanto tempo com o Carl. Eu realmente queria que ele visse a obra pronta. Meu próprio egoísmo era que eu não poderia falar com ele sobre o filme quando fosse finalmente terminado, mas ao mesmo tempo, quem sabe, ele poderia não ter gostado. Druyan: Carl foi enterrado em Ithaca, Nova Iorque, apenas cinco minutos da onde eu vivia, e depois do seu funeral, uma limusine levou meu pequeno e eu para casa. Aí estacionou um carro. Eu achei que alguém tinha enviado flores ou comida, já que sabiam que o Carl havia morrido. Então esse cara vem e me dá uma intimação. Anos antes, mesmo antes de eu conhecer Carl, Francis Ford Coppola tinha vindo para Ithaca para trabalhar com Carl em um filme de ficção científica, mas nada foi feito. Ele teve 20 anos para fazer algo, e não fez. Esse foi o jeito dele de conseguir uma liminar para impedir o filme de seguir em frente. Naquela época, somente uma pequena parte havia sido gravada. Obst: Francis ficou maluco e decidiu que por ter tido uma conversa com Carl uma vez ele tinha direitos sobre Contato. Druyan: Eu não acreditava que alguém poderia ser tão sem coração. O executivo da Warner, Courtenay Valenti nos disse: “Relaxa. Estamos com vocês. Ele está bravo por causa de Pinóquio(um processo onde o diretor tentou mover o filme para a Sony, mas perdeu em instâncias superiores), e é por isso que ele está fazendo isso. Nem tem motivos para você ser envolvida.” Zemeckis: O que ele queria? Nem ideia. Não sei de nada, mas foi uma loucura. Druyan: Eu fui entrevistada várias vezes pelos advogados dele. Eu estava lá, poucos meses depois da morte de Carl, e mal me aguentava sozinha, a dor e o desespero latente. Eles me mostravam os manuscritos de Carl com sua belíssima caligrafia, eu chorava só de ver sua escrita. Obst: Ninguém levou a sério, mas foi feio. Ele processou e perdeu feio. Zemeckis: Eu não sei se você se lembra da série Cosmos, mas toda vez que Carl fazia uma previsão ele sempre dizia: ”Isso se não nos destruirmos.” Hart: Eu nunca o ouvi dizer uma palavra negativa pelos três anos que passei com ele. Um dia, do nada, Carl disse: “Eu nos dou dez anos.” E eu indaguei: “O que quer dizer? Dez anos?” Eu estou preocupado que não estaremos por aqui para receber o chamado.” Muito tempo depois eu fui perceber que ele falava de si mesmo. Goldenberg: Foi ideia do Robert de colocar “Para Carl” na última cena. Eu fiquei surpreso. Foster: Ser responsável, de certa maneira, pelo legado de Carl Sagan é incrível para mim. Isso é realmente uma coisa importante para mim. Druyan: A pura alegria de pensar que durante os 20 anos que ficamos juntos é fenomenal. Foi tão romântico. Tudo o que fazíamos juntos era romântico. O que é mais romântico do que a Voyager (um programa espacial de 1977 que partiu com algum conhecimento da Terra em naves espaciais). Isso ainda é surreal pra mim. Eu penso nisso todos os dias. Penso nisso todos os dias desde 1977. E ainda assim não compreendo toda a beleza da nossa história, e da nossa vida juntos.

A ideia de uma sequência

De luto por Sagan e correndo contra o relógio, o time de Contato tinha até a data da premiére, em agosto de 1997, para finalizar o filme. “A premiére teve cenas incompletas. Ninguém sabia disso.” lembra Ralston. Por fim, o filme arrecadou dobrou o seu custo, que era de US$ 90 milhões. Seu lançamento ficou em segundo lugar no seu primeiro final de semana, perdendo apenas para Homens de Preto, e recebeu análises positivas. Porém, com o passar do tempo, a estima do público e dos críticos só aumentou; Roger Ebert, que na época do lançamento havia dado três em quatro estrelas possíveis, adicionou a obra a sua coleção de “Grandes Filmes” em 2011. Druyan: Eu lembro que estava sentada assistindo a premiére, menos de um ano após a morte de Carl. Eu estava segurando a mão da Lynda, e assistimos aos três primeiros minutos. Nós só tentavamos relaxar. Alguém sussurrou para outra pessoa, “ Vai ficar tudo bem, é realmente muito bom. Os três minutos que eu estou muito orgulhosa. Obst: Nós conversamos sobre Contato bater aquela filme estúpido, Independence Day, que tinha saído um ano antes e se tornado um sucesso. Você se lembra da imbecilidade que era aquilo? Com aliens atirando em computadores? É um filme que eu detesto de forma irracional por uma razão: eu o odiava por refutar Carl. Ele acreditava que se você der entretenimento que estimula o córtex cerebral deles, fazê-los pensar de uma maneira instigante, seria muito mais bem-sucedido do que apelar para o cérebro reptiliano. Eu queria que Contato fosse o número 1. Mas estreamos contra os Homens de Preto, e saímos em segundo. O que deixou muito brava por muito tempo foi aquele filme estúpido ter vencido. Mas agora as pessoas me dizem que assistiram a Contato com suas filhas pela primeira vez. Eu percebi, que é tudo sobre a sua longevidade, não é? É uma longa corrida. Ninguém se lembra do Independence Day hoje em dia. E todos se lembram de Contato. McConaughey: O filme se saiu muito bem, não? Foster: Se estivermos falando sobre expectativas, era um filme do Robert Zemeckis, e eu era a mais atriz de Hollywood. Eu acho que haviam muitas expectativas de que o filme deveria se tornar um blockbuster somente por conta de nós dois. E como um blockbuster, deveria se transformar em uma franquia. Mas Robert Zemeckis sempre faz filmes épicos que são sobre pequenas coisas pessoais. Eu acho que as pessoas se surpreenderam com a quantidade de ressonância. Nós fazíamos isso. Nós fazíamos filmes que ressoavam e também entretiam. Zemeckis: O filme foi caro, e eu sei que foi lucrativo, mas nada perto de Titanic, ou algo assim. Eu acho que o final ambíguo impediu o filme de se tornar um gigantesco hit blockbuster. Um final ambíguo jamais causará isso. Eu acho que o melhor comentário sobre Contato veio de South Park. Eles mencionaram o filme, e o personagem vomitou no chão e disse: “Eu assisti duas malditas horas desse filme para descobrir que o alien era o pai dela.” Esse com certeza é meu comentário favorito sobre o filme. McConaughey: Muitas pessoas vieram até mim depois e disseram: “Essa foi uma escolha muito errada para sua carreira.” E eu dizia: “Pra você talvez, pra mim não”. Foster: Eu me senti corajosa. Dentro de Contato há um pequeno tesouro. Se você o liberar, verá o livro de Carl Sagan, e verá também o filme de George Miller. Eles estão ali em algum lugar. Druyan: Eu me sinto orgulhosa que conseguimos proteger Contato o suficiente para manter uma heroína feminina que podemos nos orgulhar. Obst: Uma das melhores coisas de Contato é que hoje temos mais mulheres na astronomia. Quando Annie e eu fazemos algo juntas, nós sempre encontramos astrônomas que nos dizem: “É por causa da Ellie.” Foster: Eu sinto que as pessoas sempre passam por Contato, e eu nunca entendi o motivo. As vezes acho que é por conta do poster parecer, não sei… eu não diria brega, mas tipo mais um filme de Hollywood. Matthew era tipo o jovem gostosão. As pessoas ainda não viam o grande ator que ele era. McConaughey: Eu estou muito interessado em ver o que meu filhos, quando forem velhos o bastante, vão achar quando assistir ao filme. Agora mais do que nunca, há ciência para certos empreendimentos espirituais com tecnologia – que provam o valor da meditação, da risada, do senso de comunidade, do toque humano, do sono. Há coisas que eu aprendi e gostaria de compartilhar com a plataforma que eu tenho, tipo a do Palmer Joss. Eu não sei se essa é a minha vocação. Ainda assim, como eu disse, eu achava que deveria ser um monge por um tempo. E eu ainda tenho tempo. Morse: Eu me mudei para a Filadelfia logo depois que o filme saiu, e havia um clube onde eu praticava natação. Um pai estava lá com suas filhas, e as garotas ficavam olhando para mim. Eventualmente, o pai veio com as meninas e disse: “Veja, eu queria que você soubesse que…” – desculpa, isso sempre me afeta. Ele disse: “A mãe das garotas faleceu algumas semanas atrás. E nós vimos o filme. E nós gostaríamos que soubesse o quanto significou para nós e quanta esperança nos deus.” Malone: De todas as coisas que eu fiz, essa foi a primeira que eu mostrei pro meu filho. Eu estava tipo: “Você quer ver a mamãe quando ela era uma criança?” E ele me disse: “Sim, mamãe.” Então eu liguei o filme, e naquela primeira cena, o universo inteiro saiu dos meus olhos, o que é muito louco. Ele ficou perplexo. Zemeckis: Muitos me dizem que Contato é seu filme favorito dentre todos os que fiz. Goldenberg: Eu tenho uma ideia para a sequência. É como um modelo de série limitada que receberia uma nova entrada. Hart: Seria muito legal uma série no streaming, já que o livro do Carl é tão expansivo e tem muito dele que nunca foi falado. Obst: Todo mundo fala sobre uma sequência, mas sei lá. É complicado. Zemeckis: Esse filme provavelmente não seria feito hoje em dia. Já que é sobre alguma coisa. Filmes podem ser sobre coisas, caso elas não custam muito para se fazer. Nenhum dos filmes que eu fiz no anos 1980 ou 1990 seria feito hoje em dia. Obst: Bom, a indústria dos filmes é uma droga, mas uma coisa que eles gostam é de sci-fi. Eu tenho certeza que eles fariam outro filme de ficção realista hoje em dia. Será que eles fariam um filme original de US$ 100 milhões sem um herói da Marvel atrelado a ele? Zemeckis: Eu tive uma boa jornada. Os filmes já estão entre nós há 120 anos. Nós estamos no ponto de inflexão. Talvez tudo fique bem, ou talvez esse seja o nascimento de uma nova era de ouro do cinema. Artigo traduzido de Vulture. Veja também: Para ficar por dentro do mundo da cultura, como a nossa crítica da série Light and Magic, e também do universo da tecnologia, fique de olho aqui no Showmetech.

Uma hist ria oral de Contato - 23Uma hist ria oral de Contato - 85Uma hist ria oral de Contato - 80Uma hist ria oral de Contato - 65Uma hist ria oral de Contato - 66Uma hist ria oral de Contato - 77Uma hist ria oral de Contato - 13Uma hist ria oral de Contato - 67Uma hist ria oral de Contato - 74Uma hist ria oral de Contato - 63Uma hist ria oral de Contato - 61Uma hist ria oral de Contato - 36Uma hist ria oral de Contato - 85Uma hist ria oral de Contato - 90Uma hist ria oral de Contato - 63Uma hist ria oral de Contato - 94Uma hist ria oral de Contato - 32Uma hist ria oral de Contato - 41