Mas entre expectativas e afins, o jogo corresponde a elas? A resposta você pode conferir no review do Showmetech a seguir:

A dor em Xenoblade Chronicles 3

O primeiro ponto que deve ser destacado em Xenoblade Chronicles 3 é que por mais que seu visual e algumas criaturas (estou olhando para vocês, Nopons) pareçam caminhar para uma estética fofa, a realidade, na verdade, é outra: o jogo é um dos exclusivos mais sombrios da Nintendo. Para entender isso, é importante tirarmos da cabeça a noção que sombrio quer dizer algo violento. Em Xenoblade isso é alcançado através de uma trama tematicamente pesada no sentido em que os personagens estão se rebelando contra tudo que sabem e foram criados para conhecer. Pense comigo, no nosso dia a dia, se ficamos sabendo de algo que envolve diretamente nossa vida e que não foi preparado, ficamos melancólicos e destruídos, principalmente por sermos muito acostumados com a rotina. Descobrir também que o mundo funciona de formas diversas por consequências de decisões de séculos atrás que nada tem relação conosco é outro fator que fazem pessoas não ficarem em plena saúde mental, e por assim vai. Em Xenoblade 3, esse é o ponto principal da narrativa: Noah, o protagonista, junto de seus companheiros, após obterem o poder do Ouroboros, percebem que o mundo em que vivem, em que são soldados cuja vida é resumida em lutar por alguém que eles nem sabem quem é, funciona quase como em um moedor de carne militar. Por que eles têm que passar por isso? É essa pergunta então que permeia todo o jogo, com os jovens protagonistas aprendendo juntos que as coisas não precisam ser daquele jeito e que eles podem mudar tudo aquilo. Repleto de cenas em que os personagens começam a agir como os adolescentes que são após uma vida em que tais emoções não eram permitidas, a mensagem do jogo é clara: o sistema existe, mas podemos viver fora dele – embora, como bom RPG, a resposta para alcançar esse objetivo é lutar cada vez mais contra criaturas mais malignas e muitas vezes divinas, algo que deve estar totalmente em sua mente ao obter o jogo.

Combe, combe, combe!

Saindo da temática e entrando no combate, Xenoblade Chronicles 3 continua se destacando, embora talvez este seja o ponto que mais afaste pessoas, afinal, não são todos que acabam gostando da estrutura de jogar algo que usa os sistemas de MMO. O combate de Xenoblade 3 pega tudo dos títulos anteriores e o junta em um pacote bem interessante. Ao sacar a espada perto de um inimigo (ou ser atacado por ele) o embate começa, com o ataque básico ocorrendo automaticamente, desde que o adversário esteja na distância correta. Enquanto o personagem controlado pelo jogador e os demais membros da party lutam exaustivamente, os quatro botões de ação do Switch ficam associados a diferentes técnicas referentes às classes do jogo. Cada uma tem um efeito específico e um tempo de cooldown, e quando utilizadas em certas ordens comba, além de gerar efeitos como atordoamento, quebra de postura de monstros, cancelar ataques e afins. O sistema, então, exige que você saiba como as técnicas escolhidas funcionam melhor – seja se ela tem melhores danos atingindo a costa adversária ou a frente, se deve ser usada no meio de um ataque para impedi-lo ou qualquer outra situação contextual. Com isso, o jogo assume um curioso ritmo que muitas vezes me lembra até mesmo títulos de estratégia, com cada luta funcionando quase que como uma receita de bolo para saber exatamente o que fazer e como derrotar o inimigo da forma mais rápida. Mas no meio de tudo isso, temos a grande novidade de Xenoblade Chronicles 3: o sistema de Ouroboros. Nele, dois personagens da party se fundem em um poderoso robô gigante, capaz de causar danos extremos e mudar o ritmo da batalha permanentemente – a questão é que, pelo menos na campanha principal, eles não são exatamente necessários a não ser como um boost em chefes mais complicados, principalmente caso a estratégia de combate tenha sido dominada. O mesmo, porém, não pode ser dito deles em conteúdos extras, que contam muitas vezes com conflitos muito mais difíceis, em que a união interlink, como o sistema é chamado dentro do jogo, se torna necessária para superar os desafios – enquanto um maior cuidado na escolha das habilidades também é importante.

Uma trilha tocante

E juntando tanto os momentos de dor narrativa quanto de empolgantes combates, temos um dos aspectos mais fundamentais da experiência que é jogar Xenoblade Chronicles 3: a trilha sonora. Permeada pelo uso de flautas por todas as músicas, junto de guitarras intensas em conflitos e violões acústicos em espaços livres para exploração, o jogo ganha tons um tanto íntimos que ajudam o jogador a se conectar com os personagens. Ainda mais importante é o fato que Noah e Mioh, dois dos protagonistas, são offseers – soldados que devem tocar uma flauta no campo de batalha para que seus companheiros mortos em combate possam ir para o pós-vida. O instrumento no contexto do jogo e na utilização na trilha sonora ganha importantes tons como consequência disso, fazendo quase que os jogadores tenham uma certa união e irmandade com os personagens, e que também entendam a dor das perdas, mesmo que ficcionais. É tocante e estranhamente impactante, sendo capaz de, em certos contextos, até mesmo arrancar lágrimas.

Conclusão

Xenoblade Chronicles 3 é um excelente título do Nintendo Switch e talvez uma das experiências mais robustas do console. Embora não comentado durante o texto, ele sofre, porém, com o mesmo problema de seus antecessores: uma performance longe do ideal – o que, também admitimos, é algo esperado do console da Big N, principalmente cinco anos após o lançamento. Mas considerando a experiência como um todo, isso se torna um ponto quase irrelevante no grande contexto do jogo, capaz de tocar e contar uma história contemplativa – arriscando cair em bordões, praticamente arte em forma de entretenimento eletrônico. Se tiverem chance, joguem. Garanto que não se arrependerão. Veja também: REVIEW: Marvel’s Spider-Man Remastered para PC

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