O game foi lançado em 2016, somente um ano após o lançamento do seu predecessor, Kingdom: Classic. A principal diferença entre os dois jogos repousa no objetivo principal da campanha: em Classic, o seu monarca precisa destruir os portais responsáveis por criar inimigos, os Greed (ganância, em tradução livre) e… é isto, basicamente. Já em Kingdom New Lands, a missão do monarca é fugir de um sistema de ilhas, cada uma mais difícil que a anterior — são 6, sendo 5 parte da “campanha”, se é que dá para chamá-la assim, e a última um desafio. Para tal, o jogador precisa desenvolver seu reino num mundo 2D de pixels bastante agradável e, ao mesmo tempo, intimidador. Por se tratar de um jogo de estratégia e micro administração, ele não é muito fácil e pode dar um pouco de dor de cabeça para quem nunca entrou em contato com esse tipo de estilo. Mesmo assim, é uma experiência muito interessante, sobre a qual você descobre mais seguindo essa leitura.

Beleza em pixels

A arte de Kingdom New Lands é simples — os desenvolvedores apostaram num mundo horizontal 2D baseado em pixels. Felizmente, isso não significa que o jogo seja feio ou rode mal, muito pelo contrário. Os detalhes são bem caprichados, como, por exemplo, a mudança lenta na aparência das árvores conforme as estações do ano são deixadas para trás, ou mesmo a textura da água, que reflete perfeitamente o ambiente pixelado. As torres de madeira ou de pedra são bonitas, as estátuas espalhadas pelo mapa são imponentes, os portais pretos ameaçadores e as cores das bandeiras chamativas. Os cavaleiros e arqueiros carregam as cores do seu emblema, bem como o próprio monarca, que pode ser um rei ou rainha — aquele traja uma capa com essas cores, esta usa um vestido. Os animais presentes são bonitinhos também, sejam eles caça ou montaria (que, como falarei adiante, não se restringe à cavalos). O cenário de fundo parece simples, mas é muito chamativo, com uma sutileza implícita de detalhes. Por exemplo, as nuvens de fato se movimentam e podem acobertar a lua, a chuva deixa rastros mesmo na água e, após um dia chuvoso, é normal ter pontos de neblina bem forte. Kingdom New Lands aposta nestes detalhes para deixar a experiência do jogador mais gostosa, mas nem por isso o jogo é fácil. O único problema aqui é que, para customizar o emblema, o jogador precisa procurar um guia na internet, dado que ele só é mudado por meio de códigos, quase como numa árvore sintática. Nas opções há o espaço para inserir esses códigos, mas é um trabalho grande para fazer algo que podia muito bem ser resolvido na tela inicial. E ficar refém das aleatoriedades pode ser um tanto ingrato, principalmente quando o game te entrega um emblema com fundo vermelho, bordas laranja e símbolo rosa. Sobre a trilha sonora: ela é relaxante e bem feita, apesar de não ter nenhuma música que eu chamaria de memorável. É digna de um jogo mobile e, considerando que o jogo também está disponível nesse formato, ela completa o que se propõe com bastante êxito. Mas não espere uma trilha digna de Oscar.

Jogabilidade, inimigos e o reino

Ao jogar Kingdom New Lands no computador, você só vai precisar de uma das mãos. A depender da sua preferência, provavelmente menos de 3 dedos. São três comandos: ir para o lado esquerdo, para o lado direito e distribuir moedas. Simples, né? Pois bem, essa simplicidade de controles é compensada com a necessidade de se pensar a longo prazo, e rápido, principalmente nas últimas ilhas. Você começa o jogo sem muitas dicas sobre o que fazer, se aproximando, guiado pelo fantasma do monarca passado, de um pequeno acampamento com a fogueira apagada, algumas moedas no chão e dois Vagrants (mendigos, em tradução livre, mas prefiro chamar de andarilhos). Entregando moedas para esses andarilhos, você faz com que eles se transformem em cidadãos do seu reino, ou plebe, como preferir. Assim, é possível dispensar tarefas para eles ao comprar ferramentas, como arcos, que servem para caçar e proteger, martelos, que servem para construir e operar catapultas e balistas e foices, para os fazendeiros. Assim começa seu reinado. Ao anoitecer, pequenos inimigos azul-petróleo com olhos roxos fustigantes vão correr em direção ao seu castelo (ou vila, no começo) para roubar o máximo de moedas e ferramentas possível. Vale ressaltar que quando eles encontram seus cidadãos desprotegidos, eles roubam qualquer ferramenta carregada e uma moeda, aquela que você usou para transformá-los em seus súditos. A premissa foi bem fácil de entender, correto? Pois bem, conforme os dias correm, uma maior quantidade de inimigos aparece e, depois de 20 dias, mais ou menos, outros dois tipos de criatura surgem: uma alada, que consegue roubar seus cidadãos de torres, e uma versão bombada dos Greed que consegue cuspir inimigos menores e aguenta muito mais dano. Ainda nesse sentido, o jogador de Kingdom New Lands precisa enfrentar alguns eventos naturais, como a lua vermelha, que faz com que os oponentes sejam mais fortes e não fujam ao amanhecer. Caso essas criaturinhas irritantes te peguem fora do castelo ou sem proteção, elas vão roubar todas as moedas que você possui num saco (que tem limite, inclusive, o que é bastante desafiador no quesito economia) e, por fim, a sua coroa. Você perde o jogo se perder a coroa, então a dica é não fugir de noite e se abrigar até o perigo passar. Essa mecânica funciona bem, mas uma coisa me incomodou: depois de construir uma barricada, torre ou qualquer estrutura, você não pode apagá-la. Isso significa que é necessário traçar um plano desde o começo, tendo em vista a fuga com o navio (que, aliás, também precisa ser construído e é para onde os fundos vão mais rápido). Nas duas primeiras ilhas, isso não foi um problema — a partir da terceira, no entanto, Kingdom New Lands oferece pouquíssimo espaço para erros, ainda mais porque o mapa é gerado aleatoriamente e ele cresce bastante ao progredir em cada ilha.

NPC’s e outros encontros inusitados

Ao longo do jogo, você vai perceber a presença de algumas personagens. Nas duas primeiras ilhas, por exemplo, há o comerciante, que, em troca de uma moeda por dia, traz outras que ele coletou. Isso é bom porque garante um pouco de estabilidade no início e ajuda a compreender melhor as mecânicas envolvidas com dinheiro e fronteiras. Só não se acostume muito, porque depois ele some e você que se vire. Seus arqueiros podem caçar coelhos e veados para montar sua fortuna, mas isso é um tanto inconstante dado que as estações mudam e você precisa derrubar algumas árvores com os construtores para fazer com que tocas de coelho apareçam e veados fujam. Uma dica que aprendi na marra: quando encontrar um acampamento de andarilhos ou o do comerciante, NÃO derrube as árvores que estão diretamente ligadas a ele, do contrário, aquele acampamento vai sumir e você vai ter problemas para encontrar mão de obra. De qualquer maneira, a principal renda do reino são as fazendas. Separe um espaço, de preferência DENTRO das suas muralhas, que possa ser usado para este fim. Aumente suas fronteiras se for necessário, mas não deixe as fazendas de nível dois para fora, porque os fazendeiros passam a pernoitar ali e se transformam em alvos fáceis para os Greed. O jogo não explica nada disso, inclusive, é necessário descobrir também o que raios um NPC aleatório que aparece no quarto nível do castelo faz. Não sei se ele é um administrador, banqueiro ou o raio que o parta, mas ele coleta suas moedas e as deposita num cofre. É importante porque você pode encontrar dificuldades, ainda mais nas ilhas finais, e se ver preso ali até o inverno. E é no inverno que a coisa fica bem feia: os animais desaparecem, seus fazendeiros não plantam mais nada e sua única fonte de renda é o dinheiro no banco. De certo modo, é o jeito de Kingdom New Lands te mostrar que você precisa, na hora, de new lands (novas terras, em português), ou seja, ir embora daquela ilha, até porque o inverno é permanente. Conforme você avança no jogo e constrói o barco (que ainda precisa ser carregado até o píer pelos construtores), é possível voltar para algumas ilhas anteriores para desbloquear algo que ficou para trás, como montarias, um cachorro e diferentes tipos de ermitão. O ermitão é uma personagem que vive numa cabaninha isolada e que você pode levar com você por 5 moedas. Eles conseguem transformar torres que estejam totalmente aprimoradas em torres especiais, como uma balista, que dispara flechas grandes e fortes bem longe, uma padaria, que atrai andarilhos e uma torre de cavaleiro, que permite ao jogador recrutar mais um cavaleiro do lado onde está a torre. Pessoalmente, não vi muito uso nos cavaleiros sem ser destruir os portais. Eles requerem até quatro arqueiros de proteção, o que inutiliza um pouco da força de caça, e, acima de tudo, não ajudam na defesa. Queria que fosse possível “desfazer” um cavaleiro depois de ter destruído o portal, porque o investimento é alto e o retorno é baixo. Mas faz parte — sem uma torre específica, você pode recrutar 2 deles para cada lado.

Conclusão

Kingdom New Lands é um jogo bastante divertido que pode te prender por muito tempo, ainda mais se você for fã de jogos de estratégia. Sua simplicidade é atraente e, ao mesmo tempo, não torna o jogo mais fácil, o que é surpreendente dadas as limitações ofertadas. Há bastante para explorar, retornar, e explorar novamente — desbloquear montarias, por exemplo, é bem divertido, ainda mais quando você pode montar um urso ou um unicórnio, cada um com suas características especiais. A parte ruim é não poder voltar atrás e demolir algumas construções, bem como precisar se preparar logo no início sem sequer saber o tamanho do mapa e para qual lado você deve expandir seu reino. Infelizmente você vai aprender esse tipo de coisa na tentativa e erro, porque o jogo não faz a menor questão de explicar. Eu acho isso divertido, mas nem todo mundo gosta, o que pode afastar potenciais jogadores do mundo construído por Kingdom New Lands. No geral, recomendo muito, ainda mais para quem conseguiu ele de graça na Epic Store e está procurando um passatempo para aqueles fins de noite onde jogos competitivos não te atraem ou quando seus amigos foram dormir e você está sozinho às 4:30 da manhã sem ter o que fazer. Só tente não passar muita raiva com ele, porque, como diz o próprio slogan de Kingdom New Lands — nada dura. Você pode ver onde o jogo está disponível por meio do site oficial. Não deixe também de acompanhar nossa seção de reviews, onde, espero, postarei mais sobre jogos gratuitos da Epic que não são tão falados assim.

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