Depois do incrível The Last of Us Part II, lançado no último dia 19 de junho, Ghost of Tsushima chega ao PlayStation 4 como o último jogo exclusivo para o console — já que, pelo menos até o momento, não há nenhum anúncio por parte da Sony de novos jogos próprios para esta geração. Desenvolvido pela Sucker Punch Productions, que tem em seu currículo a série InFamous, entrega uma obra com muito conteúdo cultural e um primor técnico invejável.

Tsushima no Japão Feudal

Ghost of Tsushima se passa em um período bem específico da história do Japão. Apesar de sua história ser fictícia, a ambientação se dá no ano de 1274, época da primeira invasão dos mongóis à terra do sol nascente. A ilha em que se desenrolam os acontecimentos do jogo, inclusive, é um local real, chamado de Tsushima. O jogo se inicia no momento da invasão do Império Mongol ao Japão. Jin, o protagonista, faz parte de um exército de samurais que partem para defender sua terra. Após a conquista da ilha de Tsushima por parte dos mongóis, cabe a Jin lutar para buscar justiça a seu povo, bem como expulsar os invasores. Os primeiros momentos de Ghost of Tsushima seguem uma narrativa linear e servem para ensinar o básico da jogabilidade ao jogador. Não demora até que o mapa fique todo (ou quase) disponível para que o jogador siga seu caminho e o explore como bem desejar. Neste momento, já é possível perceber que o pessoal da Sucker Punch tomou como lição os acertos de outros jogos do gênero. A tela de jogo de Ghost of Tsushima é a mais limpa possível. Além do cenário, há poucas informações aparecendo. Fora de combate, é comum que o jogador não veja nem sequer informações como a vida, o próximo objetivo ou até mesmo um mapa. Isso leva a atenção a elementos de cenário, estimulando o jogador a mudar sua rota constantemente para chegar a locais que por algum motivo chamaram a atenção. Algo que The Legend of Zelda: Breath of the Wild fez com maestria em 2017. Assim como no jogo da Nintendo, em Ghost of Tsushima o cenário é o melhor indicador do que é interessante visitar. Fumaças vistas no horizonte, animais que guiam o jogador, árvores ou formações rochosas são pontos de interesse e que quase sempre contam uma história ou melhoram o protagonista de alguma forma. A ambientação do game é um ponto merecedor de elogios. A ilha de Tsushima parece viva, seja em natureza, seja na presença de personagens humanos. A vegetação é característica do Japão, assim como a arquitetura, que remete não só ao local, como também ao período em que o jogo se passa. Por toda a ilha, há vários acampamentos ou vilas de sobreviventes japoneses que tentam sobreviver e escapar da dominação mongol. Há também inimigos que circulam pela ilha, causando terror aos moradores locais, principalmente em áreas onde o jogador ainda não expulsou os mongóis, algo visto na série Far Cry, da Ubisoft. São nos vilarejos, ou salvando pessoas dos invasores, que Jin consegue objetivos secundários, que, além de conceder recompensas, contam um pouco da história de cada lugar. Aqui vale uma crítica. Enquanto a história de Ghost of Tsushima é empolgante e consegue prender a atenção do jogador, as missões secundárias não seguem o mesmo nível. Não são ruins, mas seguem uma estrutura básica de ir até um local, matar alguns inimigos e voltar, o que acaba por não prender a atenção do jogador por tanto tempo. Principalmente se considerar que a história do jogo é curta, mas a quantidade de missões secundárias é enorme. De qualquer maneira, há espaço para muitas horas de jogatina, mesmo para jogadores mais apressados e que não gostam de explorar.

Beleza técnica

Ghost of Tsushima é, certamente, um dos jogos mais bonitos do PlayStation 4, com destaque para a vegetação. A Sucker Punch soube utilizar bem as capacidades da plataforma da Sony para dar vida aos diversos ambientes que o jogo possui. A ilha de Tsushima tem as características folhagens japonesas, e as cores vivas amarela, laranja, azul, entre outras aparecem constantemente nas árvores, e a direção artística faz com que seja sempre agradável ver as paisagens da ilha. O jogo ainda fornece dois recursos para a apreciação de sua beleza. Um deles é a possibilidade de jogar com um filtro preto e branco, como se fosse um dos filmes do famoso diretor Akira Kurosawa, que ficou conhecido por seus filmes de samurai. O filtro, inclusive, é chamado “Modo Kurosawa”. O outro recurso visual é o modo foto. Nele, vários filtros visuais podem ser aplicados, assim como efeitos de câmera e até a manipulação do tempo e efeitos gráficos. Jogadores que entendam de fotografias certamente terão uma boa ferramenta em mãos para imagens marcantes. A ambientação foi um fator tão importante para a Sucker Punch, que é possível jogar o jogo completamente em japonês — afinal, a história se passa no Japão. É sempre importante destacar, como ponto positivo, quando jogos oferecem a oportunidade de escolha de idiomas de fala e de legenda individualmente e sem estar atrelado ao idioma do videogame. É o caso de Ghost of Tsushima, que também oferece áudio e legendas em português do Brasil — mais um bem-vindo caso de localização por parte da Sony. Para a produção desta análise, o game foi rodado em um modelo slim do PlayStation 4. Apesar de se tratar de um jogo de final de geração, e que fora idealizado para utilizar bem as capacidades de processamento do PlayStation 4 Pro, Ghost of Tsushima roda muito bem nos modelos anteriores, sem nada que comprometa a experiência da obra. Não foram percebidas quedas de performance, mesmo quando vários personagens aparecem na tela simultaneamente, o que é realmente impressionante, dado o nível de detalhamento gráfico presente no jogo. Outro fator que impressiona são as telas de carregamento, que são praticamente inexistentes em Ghost of Tsushima. Uma vez que o jogo é carregado, toda a ilha está disponível para ser explorada, sem que nenhuma tela de carregamento apareça. Caso o personagem morra, ou o jogador realize o transporte rápido para outra área do mapa, a tela de carregamento que aparece é tão rápida que é difícil conseguir ler as dicas que aparecem enquanto o jogador espera. Mesmo jogando em uma plataforma que não seja a mais poderosa disponível, não foram encontradas falhas técnicas em Ghost of Tsushima, e o resultado é um jogo esplêndido. Vale dizer, porém, que o primor técnico tem um preço: para se manter em uma temperatura aceitável, o PlayStation 4 liga suas ventoinhas à velocidade máxima, o que causa um barulho considerável no ambiente.

Como um samurai

Ghost of Tsushima possui qualidades de sobra, mas, dentre elas, o sistema de combate se sobressai. Focado em samurais, o jogo vai fundo nas características de luta dos guerreiros do Japão Feudal. Batalhas contra guerreiros mongóis acontecem do início do fim do game, e a atenção dada a este aspecto impressiona (positivamente). Samurais são guerreiros muito bem treinados e que lutam baseados em um código de honra que, para eles, é extremamente importante. Por exemplo, sempre enfrentam seus inimigos em disputas frente a frente, nas quais vive o guerreiro mais habilidoso. No entanto, logo no início do jogo fica claro que Jin não conseguirá tomar de volta sua terra natal sem deixar de lado seu código de honra. Tendo que zelar pela vida de seus conterrâneos e proteger seu lar, Jin se vê obrigado a lutar nas sombras, adotando um estilo furtivo e, muitas vezes, apunhalando seus inimigos pelas costas. Eis que surge o guerreiro “Fantasma” (do inglês “Ghost”), presente no título do game. Neste contexto, dois aspectos merecem ser comentados. O primeiro é o impacto narrativo que Ghost of Tsushima faz questão de mostrar. De cara, fica evidente que a escolha pelo novo estilo de luta não agrada ao protagonista, com destaque para as expressões do protagonista, que deixam claro que a jornada do herói não se trata apenas de uma aventura de justiça, mas também uma transformação pessoal. O desconforto do personagem se alinha às consequências de suas decisões na história. O segundo aspecto é o combate em si. Frequentemente, Jin se deparará contra vários guerreiros mongóis ao mesmo tempo, e para vencê-los o jogador terá que unir as habilidades dos estilos samurai e fantasma. Ghost of Tsushima não é um jogo fácil, pois Jin não precisa tomar muitos golpes para ser derrotado. O caminho da vitória, portanto, exige movimentos precisos do jogador, que precisa acertar (muito) mais que errar. As animações do protagonista foram muito bem programadas, feitas para que se assemelhem com os filmes de samurai. O resultado são combates que mais parecem uma dança. Conforme avança pelas diversas áreas da ilha de Tsushima, e consequentemente conquista territórios, Jin desbloqueia paulatinamente novas habilidades. Os avanços na jogabilidade vão desde posturas de samurai, que são efetivas contra diferentes tipos de inimigos, ao uso de itens fantasmas, como bombas de fumaça para dispersão ou explosivas para dano. A qualquer tempo durante as batalhas, o jogador pode optar por uma abordagem furtiva ou de combate direto, em outras palavras, entre usar as habilidades samurais ou fantasmas. Não há consequências positivas ou negativas pelas escolhas do jogador, apenas estilos diferentes. A atenção aos detalhes é tamanha que cada corte dado com as lâminas gera uma porção de sangue nos combatentes e no chão, e ao final de cada combate o terreno fica bastante marcado. Isto, somado à violência do game, fazem Ghost of Tsushima ser um jogo não recomendado para menores de 18 anos.

Estrutura (nem tão) precisa

Como já falamos neste texto, Ghost of Tsushima possui uma quantidade considerável de missões secundárias, contudo a história principal não é tão longa. Isso implica em jogadores que priorizam os objetivos secundários acabam por desbloquear quase todas as melhorias de Jin sem que tenham se aprofundado na história, o que diminui consideravelmente o nível de dificuldade geral do jogo. Felizmente, são várias as categorias de melhoria presentes em Ghost of Tsushima. Durante o game, o jogador desbloqueará novas armas fantasmas, habilidades, além de receber várias roupas, cada uma com vantagens próprias de combate. À medida que o jogador realiza as tarefas, seus feitos ganham fama e Jin aos poucos vira lenda na ilha, o que garante pontos de habilidade que devem ser gastos na evolução do personagem. Felizmente, há uma constante sensação de progresso, que empolga o jogador a continuar a aventura. As missões da história principal são variadas, com diferentes estilos de jogabilidade. As secundárias, por sua vez, geralmente seguem a mesma estrutura: com a desculpa de ajudar algum habitante da ilha de Tsushima, Jin deve ir até um local onde há alguns mongóis e matá-los. Não fosse o sistema de habilidades, as missões secundárias cansariam rapidamente. Outro ponto que merece destaque é que, na tomada de pontos controlados por mongóis, objetivos opcionais aparecem, que se realizados concedem bônus especiais, assim como visto reiteradamente na série Assassin’s Creed.

Exclusivo obrigatório

Ghost of Tsushima, último grande lançamento da Sony para o PlayStation 4, encerra com maestria uma excelente coleção de jogos exclusivos do console, no mercado desde 2013. Indispensável para quem gosta de jogos de ação, cenas cinematográficas e uma boa dose da cultura do Japão Feudal, o game é uma reunião do que há de melhor no gênero na indústria dos videogames. Em resumo, um jogo incrível e obrigatório. Aproveite também para conferir o nosso review em vídeo, no canal do Showmetech no YouTube:

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