A Sony cedeu ao Showmetech uma cópia digital de Days Gone para PS4 para testes e, após uma semana de jogatina intensa e recheada de zumbis nós apresentamos a você uma análise completa desse game que, mesmo tendo um grande potencial, não conseguiu escapar dos lugares-comum da sua temática, apesar de oferecer uma experiência sólida e interessante ao jogador.

O mundo em ruínas de Days Gone

Days Gone segue a mesma “receita de bolo” de tantos outros games do gênero zumbi. O game inicia com uma rápido flashback do personagem principal, o motoqueiro Deacon, enquanto ele, seu melhor amigo Boozer e sua esposa Sarah fogem da cidade depois do ataque zumbi. Com Sarah ferida, Deacon escolhe deixar ela aos cuidados de uma equipe médica em um helicóptero que parte para um acampamento, enquanto volta para salvar Boozer, que também estava ferido. Pulando alguns anos, o jogador parte direto para ação enquanto a dupla de motoqueiros selvagens persegue um homem desconhecido que possui recursos essenciais para a sobrevivência da dupla. Prepare-se para muitas sequências de cutscenes e carregamentos, além de janelas de tutoriais aparecendo toda hora. O game leva o jogador pela mão durante um bom tempo antes de lhe dar liberdade para explorar o mundo devastado por um vírus mortal e repleto de zumbis, carinhosamente apelidados de “Freakers”. É difícil afastar Days Gone em seus primeiros 15 minutos de gameplay do clássico The Last of Us. Em diversas entrevistas durante o desenvolvimento do game, os produtores insistiram que o game da Naughty Dog serviu como inspiração para sua obra, mas que de forma alguma estavam tentando copiar o sucesso do título. Essa sensação de estar jogando um game repetido permanece no jogador por um bom tempo antes que Days Gone consiga se sobressair por suas qualidades próprias. As semelhanças com outros games começam a ser colocadas em escanteio conforme vamos conhecendo e interagindo melhor com Deacon. O ator Sam Witwer – o mesmo que emprestou sua aparência e voz para o incrível Jedi Starkiller na série Star Wars The Force Unleashed – fez um trabalho fantástico dando voz, rosto e sentimentos a Deacon. Desde o início do game o jogador consegue simpatizar com o personagem, mesmo que suas motivações e seu arco de desenvolvimento não sejam muito empolgantes. Não espere muitas surpresas em termos de enredo de Days Gone. Em termos de história o game é apenas mais um título que aborda um cenário apocalíptico em que os zumbis dominam o mundo e humanos vivem escondidos ou em acampamentos tentando sobreviver. Como sempre, existe uma organização governamental envolta em mistérios estudando as consequências do vírus que infectou boa parte da população mundial, mas a corporação Nero não vai além dos clichês do gênero. Em diversos momentos do game não é incomum o jogador optar por realizar missões secundárias ou explorar o mundo devastado ao invés de prosseguir na história principal. O enredo fraco de Days Gone não motiva o usuário a buscar por respostas concluindo as missões mais importantes. Felizmente os diálogos e cenas de Deacon com seu amigo Boozer sempre estão nos momentos certos para quebrar a monotonia da história clichê do game. Deacon não é apenas o protagonista e herói principal de Days Gone, mas também o elemento que impede o game de ser totalmente esquecível uma vez que os créditos rolam pela tela. Para aproveitar o conteúdo que o game tem a oferecer, é altamente recomendável investir nas missões secundárias (por mais repetitivas que elas possam ser) antes de prosseguir na campanha principal. Você vai querer estar ao lado de Deacon a maior quantidade de tempo possível antes de descobrir o desfecho decepcionante que o game tem a oferecer.

Uma fiel companheira de duas rodas

O grande destaque de Days Gone fica por conta do item mais importante do inventário de sobrevivência de Deacon: sua moto. É com ela que o personagem atravessa a vasta região do Oregon rapidamente e escapa de qualquer tipo de enrascada com mortos-vivos. Os controles e a mecânica de direção da moto são muito simples e precisos, fazendo com que o jogador prefira muito mais utilizar o veículo do que caminhar. Apesar de Deacon perder sua moto turbinada logo no início da campanha principal, você poderá adquirir uma moto mais simples posteriormente e ir melhorando-a aos poucos com modificações. Além de ficar sempre atento para seus recursos financeiros quando precisar da assistência de um mecânico, você vai precisar cuidar bem de sua companheira na estrada. A moto precisa de gasolina e se desgasta ao longo do tempo, então Deacon vai precisar parar de vez em quando em suas viagens para abastecer o tanque e consertar o veículo. Tanques de gasolina podem ser encontrados em prédios ou postos abandonados, mas tome cuidado, pois líquidos inflamáveis não são brinquedo! Além disso, você precisa aproveitar e coletar partes de carros estragados, pois são essenciais para consertar a moto. O quanto e quão rápido sua moto vai se deteriorar depende de dois grandes fatores: o que você faz com ela e os tipos de melhoramentos que você possui. Por exemplo, atropelar zumbis no meio da estrada pode ser uma maneira prática e divertida de se livrar dos mortos vivos, porém isso desgasta a moto e se ela quebrar enquanto você estiver cercado de inimigos, apenas correr não vai adiantar. Cuide bem de sua moto, pois estar com ela em bom estado pode ser a diferença entre viver ou morrer. Se você se vir cercado de zumbis ou com caçadores ou qualquer outro tipo de ameaça, não pense duas vezes e suba em cima de sua moto e meta o pé na tábua! O auxílio da moto para fugas rápidas é essencial para enfrentar as hordas de zumbis, grupos massivos de mortos vivos que são rápidos e vorazes e nem mesmo todo seu arsenal de armas pode conseguir deter.

Sobreviver é a única saída

Apesar de muitas missões de Days Gone serem repetitivas e sem muita profundidade em termos de história, elas são imprescindíveis se você quiser conseguir muitos pontos de experiência e confiança da forma mais rápida possível. Enquanto a experiência é necessária para obter novas habilidades, os pontos de confiança são úteis para estabelecer laços de amizade com os diferentes acampamentos de sobreviventes. Quanto mais um acampamento confiar em você, mais recursos você poderá obter em termos de armas e partes para sua moto. E falando em armas, variedade é o que não falta no arsenal de Deacon. Em seu inventário o protagonista pode carregar até três armas, além de granadas, coquetéis Molotov e kits de cura. Além dos tipos de diferentes de armas que você pode escolher (rifles, metralhadoras, fuzis, pistolas, bestas), ainda é possível modificar os equipamentos para deixá-los mais mortais e precisos. Você pode preferir colocar um supressor na sua pistola para fazer mortes mais silenciosas, ou mesmo adicionar uma visão telescópica ao seu rifle para atirar de forma mais precisa. Até mesmo as armas para combate corpo-a-corpo, que possuem durabilidade limitada, podem ser modificadas para mortes mais rápidas. Esse tipo de modificação é essencial, uma vez que combates diretos devem ser evitados pois Deacon fica vulnerável a outros inimigos e o oponente dificilmente irá cair com apenas uma pancada ou soco. Apesar de o comportamento dos zumbis ser, na maioria das vezes, imprevisível, tenha certeza que você irá encontrar inimigos humanos ao longo de sua jornada. Por isso, o melhor é sempre optar por uma abordagem furtiva. Como você sempre estará em lugares abertos em grande parte do game, aproveite as vantagens que arbustos e árvores lhe dão para se esconder e planejar sua estratégia. Ataques furtivos são capazes de matar os inimigos com apenas um golpe, e você vai querer economizar munição quando encontrar hordas de zumbis, por exemplo. Apesar de aparecem poucas vezes durante o game (uma triste ironia, pois nos trailers elas receberam grande destaque), as hordas de zumbis são os inimigos mais desafiadores de Days Gone, depois dos tipos de Freakers mais fortes que precisam de muita munição para serem derrubados. Contra as hordas você terá duas opções: utilizar suas armas e elementos do ambiente para se livrar dos zumbis ou simplesmente subir na sua moto e acelerar! De qualquer forma você terá que correr, pois os Freakers são rápidos e vorazes.

Muitos zumbis (e problemas) pelo caminho

Com tantos elementos interessantes e que destacam Days Gone como um jogo de tiro em terceira pessoa bem construído (com elementos de RPG) no contexto de um apocalipse zumbi, se esperava que o jogo proporcionasse uma experiência mais interessante. Infelizmente, o game sofre com a grande quantidade de bugs e os clichês que recheiam a história desse mundo aberto pós-apocalíptico tão grande, mas tão vazio ao mesmo tempo. Dentre as falhas técnicas, a que mais chama a atenção é a inteligência artificial dos zumbis. Os Freakers se comportam de maneiras muito bizarras e com um comportamento que beira a imprevisibilidade. Não fica claro se essa era a real intenção dos desenvolvedores, porém fica complicado para o jogador bolar uma estratégia de combate quando não se sabe como seu inimigo vai reagir. Em vários momentos era possível passar na frente dos zumbis ou fazer barulhos altos e simplesmente não ser detectado pelos monstros. Em outras situações, mesmo utilizando estratégias furtivas você poderia se encontrar cercado por vários zumbis em questão de segundos. Esse problema se agrava mais quando as munições e outros tipos de armas de combate direto são tão escassas, mesmo jogando o game no modo “Normal”. É uma pena que os desenvolvedores não aproveitam a bela recriação visual e gráfica do estado norte-americano do Oregon para povoar esse mundo pós-apocalíptico com mais elementos e desafios interessantes. São vários quilômetros cruzados de moto por paisagens que parecem muito semelhantes, várias comunidades e cidades abandonadas e zumbis que são encontrados de forma muito esporádica. Um mundo tão perigoso nunca pareceu tão vazio. A cereja do bolo na mediocridade do potencial perdido de Days Gone certamente fica por conta de sua história principal e de seus personagens. Além de todos os aspectos clichês que você pode esperar de um enredo envolvendo apocalipse zumbi, os arcos dos personagens são muito mal desenvolvidos. O romance de Deacon e sua mulher Sarah não consegue prender ou cativar o jogador, as motivações pessoais de cada personagem são rasas ou pouco exploradas e o final da história (que se desenvolve razoavelmente) é trocado por uma gameplay repetitiva e desafiadora demais, em contraste com o restante do game. Days Gone era um game que tinha todas as oportunidades para sair fora da curva do gênero zumbi e se tornar um destaque na biblioteca de exclusivos do PS4. Infelizmente, temendo arriscar em novas mecânicas e enredos mais elaborados, os desenvolvedores da Bend Studio optaram pelo caminho mais simples, produzindo um jogo sólido mas que entrega uma experiência simples demais e pouco interessante para se guardar na memória. Matar zumbis sempre foi divertido, mas somente de hordas de mortos-vivos um game não é capaz de se destacar entre a multidão.