Premissa que só existe para justificar o gameplay

A premissa básica de Arcadegeddon é que há uma grande corporação se esforçando para controlar o mundo por meio da tecnologia. Gilly, dono de um arcade local, está tentando salvar seu negócio através de um rápido jogo digital em realidade virtual. Infelizmente, a corporação descobre o plano, e injeta vírus no servidor do jogo — dificultando tanto a vida de Gilly quanto do avatar do jogador. Com isso, o título se torna uma interessante situação em que o jogador está lutando contra uma grande corporação — como milhares de outros games disponíveis no mercado. Mas a questão não é essa, veja bem, já que clichês e lugares-comuns são situações naturais em videogames. O difícil é que essa é uma desculpa que, se depender de um possível senso de urgência instaurado no jogador, não desperta engajamento. A premissa do jogo é lançada para frente do jogador sem nenhum desenvolvimento. É de entendimento geral que o título de Arcadegeddon remete aos fliperamas (arcade, em inglês), mas mesmo assim estamos falando de um jogo com outra premissa, que tenta desde seu primeiro momento ter tons da indústria atual e só prestar homenagens aos estilos de jogabilidade de outrora. E isso destoa da história simples e que, nos poucos momentos em que ela é apresentada para nós, faz questão de contar piadas costumeiras do entretenimento moderno, as referências rápidas e “nerds” que não estariam fora de tom nos filmes da Marvel, por exemplo. É, no fim, um grande acumulado de tendências e buzzwords, mas que não saiu exatamente agradável.

Jogabilidade até se salva

É claro que estamos falando de um videogame, então mesmo que a apresentação, história e contexto sejam péssimos, o título ainda pode se salvar pela jogabilidade. Isso é o que ocorre em partes com Arcadegeddon. Jogando no PlayStation 5, é possível ver que o jogo conta com uma jogabilidade responsiva e rápida para jogos de tiro. Os tiros saem de maneira satisfatória, a movimentação é rápida e conta com opções como aceleração e rasteiras, o personagem pode se abaixar — os ingredientes básicos para uma receita eficiente de jogos de tiro. A questão é que, como falamos mais acima, independente da procura de novas armas ou da intensidade do combate, o jogo só não consegue prender suficientemente a atenção do jogador para se tornar um título frequente em sua biblioteca.  O título pode estar repleto de situações  como lutas de chefes, buscas por minigames competitivos, lutas contra inimigos controlados por computador ou mesmo competição entre jogadores, mas nada parece respirar algo engajante. É uma experiência curiosa. Ao mesmo tempo, deixo elogios para o interessante sistema de comunicação entre os jogadores presente no título, que permite de rápida forma a cooperação entre a equipe para avisar de possíveis armas mais fortes encontradas no mapa, por exemplo.  Junto dessas armas, que podem variar das básicas de qualquer jogo de tiro competitivo (SMG, etc) para as bizarras (Pixel Popper, arma que lança os inimigos como balão para o céu), Arcadegeddon vai criando também uma interessante dinâmica, embora não inovadora, de procurar itens pelo mapa para ficar mais capacitado nas batalhas.  É um loop interessante que já deu certo em vários títulos, e que possivelmente pode, pelo menos nos primeiros meses do lançamento de Arcadegeddon, também refletir na existência de uma comunidade ativa no título — embora eu continue frisando que a apresentação do jogo, em si, acaba se tornando tão genérica que o verdadeiro potencial de jogabilidade acabe não sendo enxergado pelo público.

Por fim, a customização em Arcadegeddon

Outro ponto contido em Arcadegeddon é a customização do personagem. Seja por resultado em conflitos online ou mesmo realizando objetivos dados pelos nove líderes de gangues presentes no fliperama de Gilly, o jogador pode mudar a forma que seu avatar aparece no jogo. As roupas variam bastante, mas é notável a inspiração na estética do “drip” tão presente nos EUA hoje em dia, com casacos grandes, quadriculados e símbolos de marcas fictícias, gorros, acessórios e afins. Ao mesmo tempo, no outro lado do espectro, temos itens com estética retrofuturista — a forma que os anos 2000 eram vistos pela população dos anos 1980, em descrição resumida e não aprofundada. É comum visores techno, armaduras metalizadas e mesmo cores que lembram estéticas de clipes synthpop, e confesso que essas foram as que mais me chamaram a atenção. Nesse contexto, realmente acredito que se o jogo tivesse focado em somente uma estética dentro da customização e dos próprios personagens que passam objetivos ao jogador, os meus problemas com a apresentação do título poderiam ter ido embora. Como essa não foi a realidade, a dualidade visual, no fim, mais faz mal do que bem para Arcadegeddon.

Conclusão

Arcadegeddon é uma reflexão das tendências da cultura pop e de games atual, e nessa grande mistura de opções acaba se destacando positivamente em poucos momentos. Sinceramente, com o título estando de graça para assinantes da PS Plus Essential no mês de julho, eu realmente acredito que todos deveriam experimentá-lo — com a grande gama de pessoas nele nesses primeiros meses, é possível que a opinião mude, independente dos problemas estéticos e de narrativa presentes no título. Veja também Confira o review do Showmetech de Life is Strange: True Colors!

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