Segundo uma apuração do Showmetech, ao menos 15 grandes empresas interromperam parte de suas atividades desde 2017, quando resolveram desistir do país de uma vez. Motivos para isso não faltam, afinal, desde 2016 o país atravessa uma grave crise econômica que já elevou a taxa de desemprego, acelerou o aumento da dívida pública e tem mantido o dólar nas alturas. Há 5 anos que o câmbio está acima da faixa dos R$ 3, sem dar nenhuma trégua. Especialistas preveem que este movimento de empresas deixando o Brasil pode ser contínuo e pode incorporar outras companhias nos próximos anos, visto que ainda não há no horizonte uma perspectiva de crescimento econômico – pelo menos não agora, no meio da pandemia. Para David Kallas, doutor em estratégias empresariais, alguns fatores explicam essa debandada de multinacionais: local de atuação, setor de operação e gestão interna das companhias. Segundo ele, quando a junção desses quesitos não mostra um cenário positivo, as estrangeiras preferem encerrar as operações em determinados locais. Ele também destaca a guerra fiscal que traz ao Brasil uma burocracia existente em poucos países, e ressalta: “Em muitos casos, as multinacionais no Brasil precisam de mais funcionários para áreas de tributação do que para o setor de Marketing”.
Quais empresas estão deixando o Brasil ou diminuindo suas operações no país?
A lista de empresas deixando o Brasil é extensa e engloba multinacionais dos mais variados segmentados, do vestuário ao varejo. De forma geral, o principal motivo para essas decisões está amparado em um ambiente de negócios insustentável. Só neste início de 2021, além da Sony, outras duas grandes empresas decidiram romper com o Brasil.
3M (EUA): a multinacional 3M anunciou, no fim de janeiro, o fechamento de sua fábrica em São José do Rio Preto. A marca prevê que esse movimento se conclua no segundo semestre de 2021, resultando na demissão de 120 funcionários.
Ford (EUA): em 12 de janeiro, a Ford enviou um comunicado à imprensa confirmando o fechamento de todas as suas fábricas no Brasil, ainda em 2021. A empresa, que mantém filiais em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e em Horizonte (CE), afirmou que tem sofrido perdas há anos e que a pandemia agravou a situação.
Mercedes-Benz (Alemanha): pouco antes disso, em dezembro, a Mercedes-Benz culpou a situação econômica do país pelo seu mal desempenho nas vendas de automóveis. A montadora fechou uma de suas fábricas, inaugurada em 2016, e demitiu mais de 350 funcionários. Caminhões e ônibus continuam sob produção nacional.
Wendy’s Company (EUA): a rede americana de hambúrgueres quadrados chegou ao Brasil em 2016 e não resistiu muito tempo. Em 2020, a franquia concluiu o processo de fechamento de suas unidades, com o encerramento da maior loja, localizada em São Paulo.
Forever 21: uma das varejistas de roupas do mundo também não deu certo por aqui. A Forever 21 chegou em 2014, mas no início deste ano já tinha encerrado as operações de quase todas as suas 31 lojas. A empresa, que passa por uma crise também nos Estados Unidos, não conseguiu negociar pagamentos atrasados com uma grande incorporadora de shoppings.
Walmart (EUA): o hipermercado americano mais tradicional vendeu 80% de suas operações brasileiras e teve seu nome alterado para “Big”, em agosto de 2019. Nenhuma das 550 lojas no país carrega o nome do varejista tão famoso no mundo.
Glovo (Espanha): a startup de delivery Glovo também desistiu em 2019. A espanhola afirmou que o mercado brasileiro é muito competitivo e que precisaria de mais tempo e dinheiro para ter sucesso em seu modelo de negócios.
Roche (Suíça): em março de 2019, o grupo farmacêutico Roche avisou que fecharia sua fábrica no Rio de Janeiro, encerrando a produção de medicamentos em solo nacional. Na ocasião, a empresa informou que a operação carioca se mostrava insustentável.
Häagen-Dazs (EUA): a marca de sorvetes anunciou o fechamento de suas lojas próprias, em julho de 2018, como forma de equilibrar as operações no Brasil. Em 2016, a Häagen-Dazs já havia fechado as fábricas de São Paulo e demitido mais de 400 funcionários.
Nikon (Japão): em setembro de 2018 foi a vez da gigante de fotografias. A japonesa Nikon comunicou o encerramento de sua atuação e interrompeu a venda de câmeras, lentes e acessórios. A marca informou que passava por um processo de reestruturação.
Fnac (França): em outubro de 2018, o site brasileiro da Fnac saiu do ar e trazia a informação da finalização das atividades. A francesa informou que seu estoque estava cada vez mais injusto em face à recessão econômica que vivia o Brasil no período.
Citibank (EUA): depois de completar 100 anos em solo brasileiro, o Citibank resolveu abandonar a sua atuação no ramo varejista, no início de 2016, e focar somente em investimentos e clientes com grandes patrimônios. O banco Itaú assumiu suas 70 agências e uma carteira de quase meio milhão de clientes.
Kirin Holdings (Japão): a empresa de bebidas japonesa que investiu R$ 4 bilhões no mercado nacional deixou o país 6 anos depois, em 2017. A empresa foi comprada pela holandesa Heineken que assumiu as operações da Brasil Kirin.
Nintendo (Japão): em 2015, ainda no começo da crise, a japonesa de games Nintendo disse que não distribuiria mais jogos e consoles no Brasil, haja vista que o ambiente local de negócios tornou o modelo de distribuição insustentável. Em setembro do ano passado, porém, a desenvolvedora decidiu voltar ao mercado nacional, já com um novo produto, o Nintendo Switch.
HSBC (Reino Unido): também em 2015, o banco britânico decidiu acabar com as suas principais operações no Brasil e na Turquia. Com isso, o HSBC vendeu sua carteira para o nacional Bradesco e, assim como o Citibank, segue atendendo apenas clientes corporativos e com grandes fortunas.
E como vai ser daqui para frente?
São poucos os especialistas que conseguem cravar um cenário para o Brasil nos próximos anos. Além da pandemia, que tem afetado qualquer planejamento econômico de multinacionais, as reformas necessárias para o bom desempenho do país estão paralisadas, sem uma conclusão aparente. Kallas explica que a coisa mais perigosa a se fazer hoje é uma previsão, principalmente por estarmos passando por uma situação sem precedentes e que ainda não se sabe quanto tempo vai durar. Apesar disso, ele elenca alguns fatores que contribuem a favor ou contra o desempenho positivo das multinacionais no país. A instabilidade política que o Brasil passa, a exemplo da reforma tributária que não avança no Congresso, é um fator negativo. Ele ainda complementa falando que a maneira como o governo lida com a pandemia pode ser uma influência negativa para retomar a atividade econômica: Por outro lado, entre os motivos que podem ser favoráveis ao Brasil, ele diz que está mais barato para um estrangeiro investir no país, visto que, quando convertido o dólar em reais, é possível comprar o dobro do que se comprava há alguns anos. Mas ele lembra que também depende do setor de atuação e que em alguns isso pode influenciar mais e em outros menos.