Em episódios longos (cerca de 1 hora cada), a série ocupa muito bem cada cena e consegue prender a pessoa espectadora a quase todo momento de diálogos obtusos e a cenas de ação alucinantes.  Confira a seguir o que achamos da série até agora.

Tensas realidades

Flynne e Burton Fisher (Chlöe Grace Moretz e Jack Reynor, respectivamente) são irmãos e vivem no interior de Virginia, EUA, numa pequena cidade dos Apalaches. Ambos se ajudam bastante no dia a dia, inclusive nos videogames, hobby que compartilham desde a infância (e que hoje usam profissionalmente). Flynne também ganha a vida com impressões 3D ilegais e faz de tudo para proteger o irmão e ajudar a mãe que está com glioma, um tumor maligno que se inicia no cérebro e a deixa cega aos poucos. Baseada no livro homônimo de William Gibson, a premissa da série é a de que Flynne dê suporte ao irmão num mundo virtual criado para prever o futuro de Londres e, logo, o futuro da humanidade. Tudo isso para ganharem seu sustento e, logo, ajudem sua mãe juntos.  A história se passa, entretanto, em um mundo real que acaba de passar por uma grande guerra novamente e, mesmo que numa pequena cidade, seus cidadãos aparentam ser bastante hostis. O lugarejo também reflete uma sociedade decadente, onde o Estado é pouco presente (há apenas um xerife na cidade, com pouca força jurídica e representativa: Ossian, interpretado por Julian Moore-Cook) e existem conflitos constantes entre gangues e grupos distintos que apoiam ou não empresas em esquemas criminosos. Sinistro… As atividades virtuais são financiadas por grandes corporações, análogas às big techs que conhecemos bem hoje, e funcionam via um dispositivo neural externo, muito avançado para a época em que existe (2032). Repleta de personagens secundários, a série se desenvolve a partir de situações de conflito intenso dos interesses da família Fisher e seus aliados e as grandes corporações capitalistas e seus asseclas (pessoas que fazem de tudo pelo dinheiro oferecido e se alimentam constantemente do crime e da exploração de gente honesta).  Estéticas completamente sérias de uma versão muito bem adaptada de Periféricos ganham formas muito mais elegantes em comparação ao filme Jogador nº 1, por exemplo, no qual igualmente há metaverso, relações humanas complexas (offline, no caso) e escolhas de avatares/skins. A todo momento, é possível perceber ares misteriosos, sustentados pela lore da série, que ela está tratando de assuntos seríssimos e delicados. E o caminho tomado é o de sempre trazer boas referências de ficção científica não só das mídias similares (cinema e TV), mas de livros, quadrinhos e jogos também.

Colírios do metaverso

Você pode achar tudo de Periféricos, exceto que é uma série feia esteticamente. Sua paleta de cores, filtros, jogo de luzes em cenas específicas e pós-produção a deixa extremamente bela visualmente. Movimentos de câmera também ressaltam personagens e fazem com que embates de diálogo e de lutas se tornem bastante interessantes aos espectadores, salvo alguns cortes excessivos em alguns poucos momentos.  É impressionante perceber como a direção de arte está constantemente preocupada em criar diferenças entre realidade e os diversos tipos de metaverso disponíveis em suportes tecnológicos dessa época. Enquanto Flynne utiliza seu aparelho de última geração para entrar num mundo completamente similar ao real, incluindo as sensações de todos os sentidos humanos, Corbell Pickett (um dos antagonistas, interpretado por Louis Herthum) usufrui de seu conjunto de sensores que dão acesso a um metaverso com cores saturadas e personagens não-jogáveis nada convincentes, ainda que bem realistas. Além disso, a série mostra grande elegância ao estruturar cenas em cada situação diferente, traçando toda uma narrativa em cronologia linear e usando poucos recursos de previsão ou de flashbacks. Essa maneira de contar a história instiga cada vez mais, prendendo os espectadores à tela.

Verossimilhança? Certamente.

Periféricos está sempre “pisando em terreno fértil, sólido e muito agradável” de William Gibson, mas certamente tem um pé na realidade em que vivemos contemporaneamente. Muito conscientes e inteligentes, por sinal. A série trata de temas mais ou menos complexos, desde teorias da Física relacionadas à Teoria da Relatividade e tunelamento quântico até conceitos de Dark Web e a forte presença das impressoras 3D em ambientes mais comuns a nós. Esses e diversos outros temas e objetos – que podem muito bem virar realidade daqui a alguns anos – nos colocam com os pés no chão, mas, ao mesmo tempo, dão asas à imaginação mais perversa possível. É aí que as ficções científicas dão o seu ar da graça, encantando e aterrorizando. Além disso, sua maior crítica, provavelmente presente no livro também, é magnífica, mantendo seu teor verossímil ao nosso presente e atentando a possíveis futuros muito sombrios, cujos costumam ser ignorados com frequência por boa parte do mundo. O próprio fracasso à vista do metaverso é um exemplo concreto do quão podemos estar reféns de tecnologias impostas por big corps muito mal-intencionadas, que levam a humanidade a um precipício sem fim de solidão, de segregação social e de ausência de direitos humanos.  Quem se lembra dos divertidos experimentos de Ryan Trahan, famoso YouTuber, inclusive? Pois é, Flynne tem alguns efeitos colaterais muito similares aos dele em alguns episódios e até problemas físicos muito piores (sem spoilers, isso fica para que você descubra ao assistir) ao usar o aparelho de Realidade Virtual por tempo prolongado. Os clássicos elementos do cyberpunk (ou de futurismos pessimistas) também estão presentes em todos os momentos e dão um frescor muito bom à série, traçando paralelos de decadÊncia e corrupção em relação ao que já temos hoje: justamente o início do metaverso e armas tecnológicas muito avançadas – e perigosas demais, como drones paramilitares. Embates políticos tensos e lutas/tiroteios entre big corps tiranas e poderosas, seus aliados e o pessoal de Flynne ajudam a intensificar as envolventes tramas e narrativas, além de incríveis cenários extremamente belos com e sem CGs absurdas de bem feitas que conquistam pouco a pouco a atenção de quem assiste.  É uma perspectiva muito única criada à série que dificilmente será replicada. Fazer uma Londres futurista, com imensos arranhas-céus em forma de estátuas greco-romanas clássicas, robôs que podem simular a voz e o rosto de pessoas reais (até as mortas) e possibilidades de cura reais a doenças terminais com certeza vão encantar e convencer diferentes públicos.

Conclusão

Com exceção do fato de que cada episódio tem uma hora de duração, Periféricos é uma série perfeita! É raro encontrar produções do nível que ela está alcançando no momento, se mantendo sempre envolvente e instigante, como bons clássicos da ficção científica. E você vai esperar ansiosamente pela continuação da sua história. Ou não (e está tudo bem). Periféricos também tem potencial de se tornar apenas um clássico cult do catálogo Prime Video, já que busca capturar os fãs mais assíduos de ficção científica e de obras adaptadas de William Gibson, que já podem ser de um público muito nichado por si só. Seu triunfo pode ser realmente meteórico e deixar de ser lembrado no longo prazo. E, novamente: a duração dos episódios em nada contribui para seu sucesso estrondoso – uma saída agradável seria dividir o tempo de cada capítulo em meia hora e soltá-los com maior frequência no catálogo (?). Todavia, é uma série muito respeitável em todos os seus aspectos audiovisuais e narrativos. Se você busca muita ação, tramas subversivas e questões “cabeçudas” para refletir seu dia a dia muito relacionado às tecnologias emergentes, Periféricos com certeza é para você. E tudo, absolutamente tudo carrega narrativas e críticas políticas. Com esse título não é diferente. Suas mensagens têm sido muito interessantes até o momento e estamos ansiosos para ver o desenrolar de tramas tão provocativas e cativantes. Periféricos, que já tem 6 episódios, está disponível no Prime Video. Sua primeira temporada vai contar com oito episódios até o dia 9 de dezembro. Recomendamos fortemente! Veja também: Os melhores sites para assistir filmes online grátis em 2022

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