Para definir os melhores discos ano, decidimos incluir três critérios: relevância da obra perante a crítica especializada, sucesso de público e avaliação do redator. Confira abaixo a lista dos melhores discos de 2021, segundo o Showmetech!

10. Batidão Tropical | Pabllo Vittar

Brasil 2021, em meio há um período histórico do país em que o conservadorismo está tão forte, um dos discos mais ouvidos do ano ser de uma drag queen é, em si, relevante o suficiente para colocar Batidão Tropical na mira da crítica especializada entre os melhores discos do ano do país. Mas o último disco de Pabllo não é só relevante politicamente, como também é um dos discos do mainstream que melhor dialoga com um Brasil fora do eixo sul/sudeste nos últimos anos. Depois do sucesso de 111, em que Pabllo se aproximava cada vez mais do pop internacional, em Batidão Tropical o caminho é inverso, agora com influências da música brasileira, mais especificamente para a periferia da indústria fonográfica nacional: o Norte e Nordeste. Pabllo viveu parte da infância e adolescência, entre Santa Izabel do Pará e Caxias, no interior do Maranhão, logo percebe-se que seu novo trabalho faz uma costura entre passado e presente da música pop brasileira de uma maneira em que nenhum artista que cresceu na parte de baixo do mapa do país vai entender. Quem, assim como Pabllo, cresceu nas regiões Norte e Nordeste durante os anos 2000 — quem vos escreve, inclusive — sabe a potência popular do tecnobrega e do forró. Pabllo arriscou ao sair da área de conforto, de onde vinha fazendo muito sucesso, e se joga criando versões atualizadas de grupos de sucesso regional, como Mastruz com Leite, Calcinha Preta e Companhia do Calypso. Tudo à sua maneira, equilibrando entre a originalidade e a homenagem.

9. Marmota | Getúlio Abelha

Se a voz de Pabllo levou grupos de forró e tecnobrega para os quatro cantos do país, foi Getúlio Abelha quem melhor sintetizou essas referências de maneira original, trazendo uma obra que consegue ser tão caótica como um disco punk, ao mesmo tempo que discute política em composições com temáticas LGBTQI+ com extrema leveza e descontração. Em meio a tudo isso, ainda sobre tempo para Marmota ser cafona ao falar de amor. Toda essa mistura, se feita por alguém com menos talento, poderia tornar Marmota um álbum digno de vergonha alheia. A sorte é que Getúlio Abelha, na verdade, é um dos artistas mais completos e criativos da música brasileira. Ainda escondido no underground, parece que falta só um pouco para ele explodir, quem sabe agora que possui um disco. Aliás, para além do registro, outro fator que me faz acreditar que ele pode conquistar o país são suas performances ao vivo, que certamente estão entre as mais animadas e cheias de frescor da atualidade.

8. Tyler, the Creator | CALL ME IF YOU GET LOST

Considerado há alguns anos como um dos principais rappers da atualidade, Tyler, the Creator parece, a cada obra, se desafiar. CALL ME IF YOU GET LOST parece mais um de seus desafios ao criar narrativas e personagens. Porém, diferente de seus últimos e mais aclamados trabalhos, Igor e Flower Boy, e seu novo registro existe menos conceito e até mesmo menos pretensão, mas nunca decaindo em qualidade. Cômico e provocador, talvez essas sejam as melhores formas de resumir CALL ME IF YOU GET LOST e essa parece uma saída boa para que o artista não fique refém da própria genialidade. Sentimos a leveza e a atmosfera, da falta de pressão que Tyler criou para esse disco. Sem toques tão pops ou experimentais, temos uma volta à musicalidade de seus primeiros registros, tudo envolto a um disco que tem um enredo universal: músicas de amor, outras mais descontraídas, de introspeção e temas sociais. Acima de tudo, tem a personalidade complexa, excêntrica do talentoso Tyler, The Creator.

7. Corisco | Bonifrate

Sou suspeito a falar sobre Pedro Bonifrate, o multi-instrumentista de Paraty que liderava uma banda de rock psicodélico chamada Supercordas, no qual era muito fã. Embora tenha uma carreira extensa, principalmente no underground, Corisco pode ser o disco que quebra a barreira da música independente para um novo público. Outro fator importante nesse registro é de ouvirmos uma obra que foi diretamente mutando durante o período de produção na pandemia. Corisco foi produzido num longo período de quatro anos, o registro é marcado por questões existencialistas, medos e experiências oníricas parte de inquietações e conflitos pessoais do músico, de certa forma torta, mas sempre poética. Porém, a obra cresce para além dos limites de um disco abstrato. De forma diferente de seus últimos registros, que iam para uma direção mais experimental, aqui sentimos na musicalidade, mas principalmente em suas composições, as direções que o artista quer levar seu público. A construção instrumental, feita toda analogicamente nos dá uma sensação boa de frescor ao ouvirmos um rock psicodélico “cru” feito em pleno 2021.

6. Trava Línguas | Linn da Quebrada

Em 2017, Linn, literalmente quebrava tudo com Pajubá, seu disco de estreia. De forma extremamente dominante e sexual, as canções e performances eram como se Linn estivesse apertando o pé na garganta da sociedade transfóbica. Sair da sombra de um disco tão poderoso era o desafio de Trava Línguas. O disco de onze faixas e quase quarenta minutos é uma ode às nuances que governam a exploração de gênero e as experiências de uma mulher trans ou travesti – além de contar com Linn falando com muito orgulho em ser uma arista negra e brasileira. Trava Línguas explora muitos ritmos e assuntos, sempre encontrando o fio que une todos estes temas. São canções que preservam o forte discurso político, debates sobre sexualidade e personagens marginalizados, mas que a todo momento aportam em novos territórios conceituais, dando maior profundidade ao material. E isso se reflete não apenas na construção dos versos, cada vez mais pessoais, mas na escolha dos temas instrumentais e decisões criativas que definem a identidade estética do trabalho. Uma prova de que é possível esperar qualquer coisa de Linn da Quebrada, menos o óbvio.

5. SOUR | Olivia Rodrigo

Um sucesso inesperadamente estrondoso. Há quem diga que o disco de estreia de Olivia Rodrigo seria tudo isso mesmo por conta da história dela como musa teen, somado a um caso de traição que o mundo todo soube. Sim, esses sucessos adolescentes aparecem com certa frequência, mesmo envoltos à polêmicas ou histórico de celebridade antes da música, mas seria inocência dizer que SOUR não foi um dos melhores discos de 2021. Confesso que, estou longe de ser o público-alvo da cantora, mas mesmo assim, é fácil reconhecer os motivos que fizeram o disco um dos mais ouvidos e queridos do ano. SOUR surpreende já nos primeiros segundos de sua execução na íntegra. Após um breve instrumental de ambientação, “brutal” já apresenta um dos melhores riffs de guitarra de 2021 que lembra (e muito) os clássicos do Riot Grrrl dos anos 2000. Dali pra frente, o disco vai por inúmeras direções e revela ao mundo uma artista que não tem medo de ser autêntica e, ao mesmo tempo, tem uma facilidade em dar voz a grandes hits radiofônicos.

4. De Primeira | Marina Sena

Marina Sena é, sem dúvidas, uma das artistas mais importantes e populares de 2021. Dona de, talvez o maior hit do ano, com “Por Supuesto”, que viralizou em redes sociais, principalmente TikTok, ela alcançou patamares milionários nas plataformas de streaming de música, com seu disco de estreia De Primeira. No álbum, Marina mistura suas origens no indie com música pop, MPB e rock alternativo ao partilhar suas visões de mundo através de relatos sobre relacionamentos onde parece que cada faixa conversa com situações pelas quais todos já passamos eventualmente. Somado tudo isso a uma voz fora dos padrões, que cria uma identidade única já em seu registro de estreia.

3. Lil Nas X – MONTERO

Lil Nas X poderia ser mais um dos casos de artistas de um único hit. Não por falta de qualidade, mas sim pelo estrondo que foi “Old Town Road”. Nas sabia disso e a cada lançamento o artista se mostrava cada vez melhor e completo. Saindo de um hit county, Lil Nas X foi criando uma persona artística sexual, provocadora e questionadora. MONTERO parece ser o ato final da germinação desse novo momento da carreira do artista. Um álbum que, assim como seu autor, chegou para quebrar barreiras e levar ao topo algo totalmente diferente do que tínhamos visto até então. Versátil desde a faixa-título da obra, que aposta em uma sonoridade sensual, mais eletrônica, a sua contrapartida está em outras canções que referenciam o pop punk e ao mesmo tempo se encaixam com perfeição em meio a todas as outras influências de Lil Nas X. Tudo isso sem perder se tornar uma obra conceitual apenas, pelo contrária, há aqui um artista com facilidade extrema em criar sucessos para a rádio.

2. Juçara Marçal | Delta Estácio Blues

Juçara Marçal é a voz do Metá Metá, um dos projetos mais interessantes da música brasileira na última década, que leva brasilidade e ancestralidade a um jazz fusion com pitadas de MPB. Ao lado de Kiko Dinucci, uma das Metá da banda, ela lançou do disco solo Delta Estácio Blues. Por ter dois dos três braços do Metá Metá, era claro que haveria um experimentalismo com música brasileira no novo disco solo de Marçal, mas em Delta Estácio Blues ela vai além. Expandindo seu leque sonoro com a presença de vozes maquiadas pelo auto-tune e do rap, por meio da participação de Rodrigo Ogi, o disco se conecta com o ouvinte tanto através do instrumental poderoso quanto por suas letras, em uma mistura de camadas e comunicações que não é fácil de se atingir. Aqui, é como se a cada audição você descobrisse novas nuances, timbres e passagens, fazendo da experiência auditiva uma verdadeira viagem, fruto de um minucioso processo de pesquisa e ressignificação que resgata, tritura e remonta tudo aquilo que a artista tem produzido em mais de três décadas de carreira.

1. The Turning Wheel | Spellling

Em um ano com o lançamentos de tantos discos que geraram expectativa ao público por anos, nada foi tão arrebatador que um álbum de uma artista de nicho. The Turning Wheel é a obra definitiva de Spellling, que põe ela, uma mulher negra, como uma das maiores do pop transgressor. Esse nicho formado praticamente só por mulheres brancas, como Kate Bush e Björk, agora ganha Spellling como uma das maiores. A artista, marcada pela inquietude musical, faz questão de ir para um caminho diferente, embora lembre as artistas acima citadas em seus melhores momentos. A cada novo disco Spellling busca por novas possibilidades dentro de estúdio, e em The Turning Wheel parece que tudo deu certo. Um raro caso de trabalho artístico que parece perfeito. E isso vai além de minha avaliação pessoal enquanto redator, mas uma constante para parte da crítica especializada. Espacialidade, instrumentos de sopro, metais, orquestras e até mesmo solos de guitarras. As faixas do disco parecem caminhar, de forma leve por vários campos musicais, de forma ousada e teatral. A artista parece brincar com o tempo, espaço e o som. O obra marcada por temas orquestrais se conectam com a instrumentalização das vozes e arranjos e estruturas complexas, que resultam numa experiência diferente do tradicional, mas extremamente sofisticada e prazerosa.

Menções honrosas

Fazer uma lista com 10 discos sempre uma tarefa complicada. Afinal, no decorrer dos anos ouvi dezenas – quem sabe até centenas – discos, mas alguns dos meus preferidos acabaram não se encaixando nos critérios de avaliação ou ficando fora da lista por detalhe. Por isso, resolvi fazer uma lista menor e mais breve com menções honrosas, merecem a mesma atenção quanto os 10 acima. Ana Frango Elétrico é um dos nomes mais interessantes da música brasileira nos últimos anos e em 2021 produziu o disco de estreia de Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, intitulado como…. Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo. O disco que é uma mistureba de MPB, rock de garagem com letras divertidas, que passam por divagações do jovem pós-moderno até de amor, da maneira mais cafona possível. Tudo embalado por um instrumental clássico de banda de rock, mas muito bem feito. Certamente um dos discos mais divertidos de 2021. Tani é uma artista que há alguns anos toca nas noites amapaenses, mas que só em 2021 lançou seu primeiro EP, sabiamente intitulado como O Que Eu Queria Ter Feito Antes. Na obra temos uma doce e poderosa voz falando sobre ancestralidade e feridas abertas, em composições que misturam sua vida pessoal e artística. Musicalmente marcada por violões e tambores, numa mistura de MBP e Marabaixo — expressão musical amapaense com raízes africanas marcada musicalmente por suas percussões –, as seis faixas dialogam forte com o título do EP, por meio de temas universais, mas sob perspectiva de um olhar artístico forte de uma mulher preta e do Norte. Giovani Cidreira agora é Gio. Outro artista inquieto, que busca sair da zona de conforto e começar por outros caminhos. Seu último disco, Nebulosa Baby, é o resultado de toda essa inquietação, que começou após o fim da turnê do bem-sucedido Japanese Food. Ao lado de Benke Ferraz, guitarrista do Boogarins, Gio sai da estrutura de banda de rock tradicional e experimenta um som eletrônico, num disco que parece uma colagem ambulante, não só de registros sonoros, como também das próprias canções do artista, que aqui requenta e põe temperos novos em músicas lançadas anteriormente por ele e parceiros. Por último, mas não menos importante: Donda. Kanye West é um dos artistas mais importantes da música neste século, para o bem e para o mal. A figura controversa que ele se tornou misturou o personagem, o arista e sua música. Donda parece ser o fim de um ciclo. Ela é uma obra pretenciosa, grandiosa, mas que sua inspiração é extremamente pessoal: homenagear sua falecida mãe. A começar pela quantidade de faixas, 27, entendemos que trata-se de uma tentativa de épico, que pareciam ainda maiores durante o processo de gravação e lançamento, que em determinado momento pareceu que nunca ia acontecer. Com excelentes músicas, momentos grandiosos e também excessos, Donda não é perfeito, mas é uma obra que presenta muito bem o que Kanye West é hoje. E aí, o que achou da nossa lista? Faltou algum disco? Faça sua lista aqui nos comentários!

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