Uncharted Fora do Mapa (título usado no Brasil) é a nova tentativa da Sony de emplacar um sucesso dos videogames nos cinemas. O filme é oriundo da franquia Uncharted, da PlayStation, que consiste em quatro jogos recheados de ação, aventura e mistério. Seu grande protagonista é Nathan Drake, um caçador de tesouros e ladrão profissional que arrisca tudo para atingir seus objetivos. A convite da Sony, o Showmetech já assistiu ao filme e você confere a seguir os pontos altos e baixos da primeira adaptação cinematográfica da série.
A saga de Nathan Drake
Se você nunca ouviu falar em Uncharted, mas ficou interessado no filme, vamos te contar resumidamente qual é o charme da franquia. Os quatro jogos principais publicados são: Drake’s Fortune (que também batiza o título do filme em inglês), Among Thieves, Drake’s Deception e A Thief’s End. Todos eles são protagonizados por Nathan Drake, o personagem interpretado no longa por Tom Holland. Um último game inédito da série lançado, porém, foi The Lost Legacy, protagonizado por duas personagens que aparecem na jornada de Nathan. Recentemente, você pode ter ouvido falar também no Legacy of Thieves, a versão remasterizada dos dois jogos mais recentes para o PlayStation 5. Em sua essência, Uncharted apresenta os principais elementos de ação e aventura em jogo. Nathan desvenda construções antigas, belas florestas, diferentes povos e suas culturas, além de, claro, enfrentar seus inimigos diretos. Não é tão incomum ouvir por aí a comparação desta série da PlayStation com Lara Croft ou Indiana Jones. Apesar de terem em comum o aspecto de heróis em busca da exploração de recursos valiosos, Uncharted se destaca pelo grande carisma dos personagens. Ademais, a narrativa envolvente, em função do gameplay diversificado, contribuiu ainda mais para o aumento de sua popularidade. Com base nisso, Fora do Mapa tinha a missão de resgatar os principais valores e destaques dos jogos sem torná-lo um filme genérico. Muito disso, como veremos a seguir, foi induzido pelo diretor a partir de easter eggs e cenas icônicas dos jogos. Porém, isso é o suficiente para considerá-lo uma adaptação boa de fato?
A proposta do filme de Uncharted
Dirigido por Ruben Fleischer, responsável por Venom e Zumbilândia, o novo filme de Uncharted foi vendido como um filme de origem. Isso significa que o público teria a primeira visão de Nathan Drake desde que sua jornada em busca de tesouros começou. Sem aprofundar muito na trama por motivos de spoiler, essa escolha narrativa foi uma parte fundamental de Uncharted 4: A Thief’s End que, inclusive, serviu de base para muitas cenas deste filme. O que o diretor faz, no entanto, é tentar encaixar acontecimentos diversos em apenas um longa de duas horas. Dessa forma, os fãs da franquia vão encontrar referências não só do quarto, mas também do terceiro e até do segundo jogo. Isso já foi feito antes — e não há muito tempo — com a adaptação desastrosa de Resident Evil. Aqui, entretanto, não dá tão errado como se imagina. Houve um cuidado maior ao inserir essas cenas distintas. Em sua premissa, o filme aborda Nathan (Tom Holland) em uma vida comum, trabalhando como pode e, principalmente, furtando objetos valiosos das pessoas. Isso acontece até o momento em que encontra Victor Sullivan (Mark Wahlberg), que o recruta para uma missão ambiciosa: resgatar uma cruz milenar que também está sob a vigia de Santiago Moncada (Antonio Banderas). Nessa linha narrativa, o filme de Uncharted usa e abusa das cenas de ação intensas, apresenta novos personagens a este universo e foca, principalmente, na relação cativante entre Tom e Mark que é inegavelmente interessante de assistir.
Personagens simpáticos, mas fora da estética
O que é possível presumir após este filme é que o diretor selecionou o elenco tendo em vista seu potencial e popularidade ao invés de sua semelhança com os personagens dos jogos. Tom Holland é um dos atores em alta no momento, especialmente depois do grande sucesso de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa. A realidade é que ele é jovem demais para se parecer com Nathan Drake, um homem na faixa de seus 30 anos. Mesmo o filme tentando emplacar a sinopse de origem, são incluídas cenas de diferentes momentos da franquia, o que não se sustenta na prática. A performance de Tom Holland tem seus altos e baixos. Em certo momentos, o ator transborda carisma e parece focado em seu papel. Em outros, simplesmente vemos Peter Parker com uma mochila nas costas e um grande desejo de encontrar um tesouro perdido. É possível acreditar que sua escolha para o filme é mais estratégica do que, de fato, complementar às raízes do jogo. Por falar em raízes, Mark Wahlberg talvez seja o mais distante Victor que os fãs poderiam esperar. Nos jogos, o personagem já possui mais de 50 anos e não poderia fazer grandes malabarismos como este Victor moderno poderia. Por outro lado, Mark talvez seja o ator que mais conseguiu captar a essência de seu personagem. A ironia, esperteza e sagacidade de Sullivan está presente em sua versão do personagem. Isto, em particular, é agradável de conferir em tela. Outra figura importante para a série de jogos é Chloe Frazer (Sophia Taylor Ali), que aqui foi representada de uma forma menos sutil do que deveria. A atriz traz um tom mais “bad girl” à personagem que acaba se excedendo um pouco em alguns momentos. Como um todo, ela consegue cumprir seu papel de maneira satisfatória para essa proposta de adaptação. Os personagens secundários chamam a atenção em diversos momentos, embora não consigam maior parte de tela. Antonio Banderas, como sempre, é hipnotizante. Seu personagem, no entanto, acaba se tornando raso. Tati Gabrielle, que faz Jo Braddock, até rouba uma cena ou outra com sua performance, mas sua personagem é limitada a um desenvolvimento quase nulo. “Se os personagens não se parecem com os dos jogos, como eles poderiam funcionar em um filme de longa duração?” A resposta está no fator do entretenimento. No sentido de adaptação, há uma sequência de falhas que, sinceramente, não surpreendem. Mas, no sentido da concepção de um filme solo, Uncharted rende bons momentos de contemplação, especialmente quando as cenas de ação acontecem.
Cenários vívidos e ação frenética
Um dos pontos altos de Fora do Mapa são os momentos de confronto. Tecnicamente, o filme dá um show em cima de outras publicações da Sony — como os efeitos visuais de centavos de Bem-Vindo a Raccoon City. Várias cenas são bem agradáveis de prestigiar, com ângulos interessantes e chamativos. A cena do avião, icônica em Uncharted 3: Drake’s Deception e presente no trailer do filme, beira o absurdo. Mas até aí os jogos também mostram situações bem inimagináveis no mundo real. Nesse sentido, momentos frenéticos como esse acabam sendo divertidos de assistir. O som do longa também demonstrou a veracidade das cenas. Outro tópico relevante aqui é a inclusão de cenários bonitos. Algumas cenas dos jogos aparecem bem semelhantes ao original — como o momento do avião, o leilão e a caverna do barco de tesouros. Até mesmo os novos locais, isentos na série dos videogames, tiveram certa criatividade ao serem constituídos.
Vale a pena assistir a Uncharted Fora do Mapa?
Sem cair muito no clichê (mas já caindo), Uncharted Fora do Mapa é uma tentativa não muito bem-sucedida de adaptar muitos elementos da franquia da Naughty Dog de uma só vez, mas que rende bons momentos de entretenimento simplesmente pelo seu carisma. Para não afirmar que os fãs vão odiar tudo que vão presenciar, o diretor teve a boa intenção de incluir alguns easter eggs bem bacanas — que você descobrirá ao assistir — que também estão na medida certa. Se o filme tiver um ótimo retorno do público, é possível que a Sony produza uma sequência para aproveitar vários outros ganchos dos jogos que ainda estão disponíveis. Por enquanto, o que foi entregue a nós é um filme sem medo de ser o típico pastelão da “Sessão da Tarde” e sem atingir também o completo desastre. Talvez seja o que basta no momento.
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