As novas ideias para thrillers mais únicos foram muito bem-vindas, e talvez isso represente o início de uma era mais versátil desse nicho, da mesma forma que os cinéfilos passam a assisti-los com mais afinco e tolerância. Sabemos que os mais conservadores — como, por exemplo, boa parte dos integrantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas — ainda têm dificuldade de enxergar o potencial que diretores (muitos deles jovens) e suas propostas carregam. Isso explica, por exemplo, a falta de premiados do gênero no fim de cada edição do Oscar. Mas, com um pouquinho de esperança, há de chegar a hora deles. E por falar em hora, este momento é inteirinho do novo thriller da A24, que é distribuído nacionalmente pela Sony Pictures. O filme possui uma escolha narrativa e um público-alvo bem definidos. E, mesmo que simples, é quase impossível não querer engajar com essa experiência maluca. Confira a seguir a nossa análise sem spoilers:

A intersecção entre thriller e comédia

Nos Estados Unidos, um grupo de sete jovens se reúnem para uma festança em uma mansão de uma das integrantes. Sophie (Amandla Stenberg) chega com Bee (Maria Bakalova), sua namorada, depois de todos, que já estão curtindo o clima. Dentre os integrantes, estão: David (Pete Davidson), amigo de infância de Sophie; sua namorada Emma (Chase Sui Wonders); a disciplinada Jordan (Myha’la Herrold); a divertida Alice (Rachel Sennott); e o seu namorado mais velho Greg (Lee Pace). Todos estão dispostos a fazer desse encontro o maior de suas vidas. Ou seja, muita bebida, drogas e brincadeiras duvidosas. Uma delas se chama “Bodies Bodies Bodies“ Neste jogo, são sorteados papéis para cada um dos jogadores. Quem for designado como Assassino deverá matar os inocentes, enquanto os mesmos procuram desvendar o mistério. Isso é basicamente uma versão do nosso conhecido “Detetive”. Até aí tudo bem. Só que eles descobrem durante a noite que alguém realmente está cometendo assassinatos, e então o jogo ultrapassa os limites. Se essa premissa soa muito curiosa no escrito, imagine na prática. O que é A24 faz aqui mais uma vez é promover uma experiência escrachada, imersiva e totalmente instigante. É bom adiantar que: não, essa não é a construção narrativa mais complexa dos thrillers/slashes. Mas ela funciona simplesmente por ser bem feita. Do início ao fim, o filme dirigido por Halina Rejin provoca o espectador e o faz criar várias teorias sobre o que poderia estar acontecendo — talvez até mudá-las durante o caminho. E ele consegue segurar até a última cena, que surpreende pela escolha nada convencional.

Morte Morte Morte é um ‘zoológico millennial e Z’

O roteiro de Morte Morte Morte tem uma construção muito interessante, principalmente no que diz respeito às falas dos personagens. Sem dar nenhuma revelação aqui, os discursos em cena beiram à estupidez, mas é justamente nesses pontos que a criatividade do filme brilha: quando põe em cheque o comportamento da geração Z e millennial. Todos as figuras do longa são jovens — com exceção de uma, que mesmo assim tenta emular uma jovialidade. É como se estivéssemos observando um aquário enquanto peixes brigam pela comida. Ou ainda um ‘zoológico’ cheio de humanos animados, confusos e bêbados. Nesse sentido, a provocação se destina a uma geração que, em linhas gerais, tanto se empenha para ser politicamente correta e empoderada, mas que não é capaz de manter uma comunicação sólida e com clareza. A narrativa vai escalando em níveis absurdos, que realmente fazem pensar em como os jovens, amantes da internet, se comportam em meio a críticas situações humanas. Por outro lado, tudo isso soa cômico, quase como uma autoidentificação com o que se passa na tela (excluindo, claro, os assassinatos).

O elenco de primeira da A24

As duas atrizes mais conhecidas pelo visual provavelmente são Amandla Stenberg e Maria Bakalova, que atuaram em Jogos Vorazes e Borat: Fita de Cinema Seguinte, respectivamente. Maria, inclusive, foi indicada ao Oscar 2021 por esse papel. Pete Davidson possui um histórico conhecido tanto em filmes, como O Esquadrão Suicida, quanto no mundo das celebridades, como seu recente relacionamento com Kim Kardashian. O restante do elenco é ligeiramente desconhecido, e isso é bom. É revigorante assistir a novos talentos nas telonas. Todos os atores contracenam bem e possuem uma ótima química. Mas é preciso fazer uma menção especial para a hilária Rachel Sennott. Conhecida por atuar em Shiva Baby, ela rouba a cena diversas vezes com seu carisma inegável. É nessa pegada que Bodies Bodies Bodies acaba conquistando o espectador. Um elenco inteligente, que entende o bom roteiro e consegue emular as emoções mais pífias e verídicas possíveis dessa geração impulsiva.

Vale a pena assistir ao thriller?

Se você busca entretenimento estúpido de qualidade, este filme pode te surpreender. E não se engane quanto ao termo ‘estúpido’, aqui ele é usado como elogio. Morte Morte Morte não é uma produção perfeita. É possível observar um erro de continuidade e algumas cenas que não fariam muito sentido nem no contexto caótico que é mostrado, mas nem por isso o lançamento se torna menos interessante. Existe aqui uma ideia clara que, felizmente, consegue ser bem direcionada. Com apenas um cenário e sete atores, o espectador pode prestigiar comédia e terror de boa qualidade em pouco mais de 1 hora e meia. Até a trilha sonora casa perfeitamente com a energia dos personagens. Além disso, sua crítica ácida aos jovens da geração pós-internet é certeira e — o melhor — não se leva tão a sério. Com tudo isso, a obra promete se popularizar entre o público. Quem sabe daqui a uns anos ela não se torna mais um clássico incompreendido? Veja também: Acesse também outros conteúdos relacionados no Showmetech. Leia a nossa crítica de Abracadabra 2.

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