Protagonizando um Bond em início de carreira, mais novato e um pouco mais agressivo, Daniel Craig rapidamente se tornou uma das interpretações mais queridas do espião, e o arco de filmes interpretado por Craig fez sucesso o suficiente para se prolongar por mais 3 filmes até chegar ao seu eventual clímax em 2021 com 007: Sem Tempo para Morrer — a aventura final de James Bond e o fim do contrato do ator com a franquia.

Sem tempo para morrer — ou gastar

O novo filme do 007 é uma sequência direta de 007 Contra Spectre, de 2015, onde Bond começa aproveitando sua vida viajando com Madeleine após deixar o MI6. Depois de alguns eventos marcantes incluindo um tiroteio na Itália, as maquinações da organização Spectre mesmo com a prisão de seu líder, Ernst Blofeld, e o envolvimento de Bond com a CIA através de seu amigo Felix Leiter (interpretado por Jeffrey Wright), o espião volta da aposentadoria para impedir um mal que pode ameaçar todo o planeta – com uma dose de vingança pessoal inclusa na receita. Desde o início, Sem Tempo para Morrer traz cenas de ação intensas e cheias de impacto distribuídas muito bem entre diálogos e investigações que mantém a narrativa envolvente, reforçada com o sonoro trabalho de sonoplastia e a trilha sonora composta por Hans Zimmer, famoso por compor trilhas de amados filmes como Piratas do Caribe, Sherlock Holmes e A Origem — e sua versatilidade conhecida continua a brilhar em 007, trazendo o clássico motivo (parte recorrente de uma música) do tema de James Bond durante os momentos de ação e suspense. Mesmo sendo conhecido por sua interpretação mais agressiva de Bond, em 007 – Sem Tempo para Morrer Daniel Craig traduz muito bem uma versão mais madura do personagem, mais seguro de si, mais carismático e com uma pitada mais de senso de humor, traduzindo de maneira natural a evolução do agente secreto. A narrativa do filme é talvez uma das mais emotivas e prolongadas dos filmes da saga, com vários momentos emocionantes e impactantes, e quase 3 horas de duração. O fluxo e ritmo do filme são muito bem feitos a ponto de os espectadores não notarem o tempo passar, com uma distribuição orgânica entre os diferentes momentos – mesmo que ainda haja muita ação, não é como se não tivéssemos paradas para respirar e voltar a entender o que está acontecendo. Porém, é bem notável que o enredo em si é previsível: Tudo o que acontece é relativamente fácil de se adivinhar e com certeza já foi feito antes, na mesma saga ou fora dela. Isto não é necessariamente ruim, mas espectadores que esperam grandes reviravoltas na trama ou grandes novidades provavelmente serão deixados querendo algo a mais.

“Bond Girls” — Sem tempo para morrer, mas bastante tempo para brilhar

Um dos elementos básicos nos filmes de Bond são as espiãs que acompanham o protagonista, muitas vezes chamadas de “Bond Girls”, e Sem Tempo para Morrer traz aos holofotes não só Paloma (interpretada por Ana de Armas) como uma agente novata auxiliar de Bond, mas também Nomi (interpretada por Lashana Lynch), que é a responsável pelo novo título de 007, já que Bond se aposentou do MI6. Paloma é mandada para fazer uma das missões do filme junto a Bond, e ela não fica para trás, sendo mais do que competente em suas cenas de ação e em seu carisma como uma agente relativamente novata, o que não impede ela de saber o que está fazendo, mesmo com alguns imprevistos – tudo interpretado de uma maneira bem mais identificável e mais próxima ao espectador do que o espião veterano. Nomi, por outro lado, é a sucessora do trabalho de Bond: A nova agente 007, uma prodígio (de acordo com ela mesma) que conseguiu o posto e a licença para matar muito cedo — e durante todas as cenas onde ela brilha ela se mostra uma excelente candidata para o trabalho: O charme, a competência e o humor de uma verdadeira agente 00 — mesmo que ela e o veterano Bond ainda fiquem tirando brincadeiras um com o outro sempre que possível. Além das Bond girls, Sem Tempo para Morrer traz de volta quase todos os personagens clássicos de Bond, mesmo que em suas novas versões após a saída do agente do MI6: O chefe do serviço secreto, conhecido por “M” — substituindo a personagem interpretada por Judi Dench até Skyfall, agora interpretado por Ralph Fiennes — e o novo engenheiro responsável pelos aparatos tecnológicos dos agentes, “Q”, é interpretado por Ben Whishaw, e estes personagens não perderam o charme mesmo com o passar do tempo ou mudança de atores, algo que com certeza agradará fãs da saga.

“Não, sr. Bond — Eu espero que você morra!”

Em todo clássico filme de James Bond, os vilões são uma das partes mais importantes e icônicas. Sem Tempo para Morrer traz de volta o vilão de Spectre, Ernst Blofeld (interpretado por Christoph Waltz), e apesar de sua presença limitada – já que está na prisão – o chefe responsável pelas ações da Spectre ainda é capaz de apresentar uma ameaça ao mundo com as ações de sua organização — e Christoph Waltz continua interpretando muito bem o tipo de vilão que o espectador “adora odiar”. Sempre com um sorriso no canto do rosto, falando com tom calmo e comedido quando encontra o protagonista, e com aquela expressão de que já venceu a luta faz muito tempo. Mesmo estando preso, Blofeld ainda tem uma vantagem sobre o “mocinho”, e ele sabe muito bem disso. Porém, a grande novidade de Sem Tempo para Morrer é Stafin, o novo vilão do filme, interpretado por Rami Malek. Stafin é um vilão bem clássico: megalomaníaco, com alguma característica física estranha ou bizarra e dono de uma base secreta em uma ilha distante — o pacote básico completo de vilão de filme Bond. Rami Malek consegue fazer um trabalho decente em dar vida a um vilão amedrontador do qual você questiona a sanidade, mas em comparativos com outros vilões da saga, Stafin acaba não se destacando muito exatamente por ser o básico de “vilão canastrão” da saga, o que difere completamente da fama de “o adversário mais amedrontador que 007 já enfrentou” que havia sido gerada ao redor do personagem. O problema não está precisamente na atuação, mas sim no conceito geral do personagem levando em consideração outros vilões da saga. Também é válido mencionar que, mesmo com uma ameaça global sendo mencionada e planejada pelo vilão, os motivos aos quais realmente é dada atenção são sobretudo pessoais, com a ameaça global sendo colocada em segundo plano — mesmo com sua aparente urgência, o que também acaba por minar a percepção do escopo do que o vilão almeja.

Conclusão

007 – Sem Tempo para Morrer é um filme que atende todos os clássicos pré-requisitos para um bom filme de James Bond: ação empolgante, uma pequena dose de suspense, apetrechos tecnológicos próprios de um agente secreto, um vilão megalomaníaco, uma pitada de romance e uma dose certa de timing e senso de humor orgânico às situações da narrativa, resultando em uma conclusão perfeitamente sólida ao arco de Daniel Craig no papel do espião – -ainda que seja um tanto previsível. Fãs da saga em geral e do arco de Daniel Craig como Bond com certeza desfrutarão de muitos momentos divertidos, intensos e emocionantes – mesmo sendo previsível, Sem Tempo para Morrer ainda consegue ser uma das aventuras mais carregada de emoções do espião, e por sua excelente execução com certeza trará lágrimas aos olhos de alguns espectadores. Fica o aviso: é recomendado assistir a pelo menos 007 contra Spectre antes de mergulhar em Sem Tempo Para Morrer, já que o novo filme continua diretamente dos eventos do anterior. E esperamos novidades de para onde a franquia irá: Ao final dos créditos, somos alertados que “James Bond Will Return” (“James Bond voltará”, em tradução livre). Só resta esperar para conferir. 007 – Sem Tempo para Morrer estreia hoje (30) nos cinemas,e já possui classificação 84% positiva no Rotten Tomatoes.

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