Para os astronautas, o traje espacial é mais uma espaçonave em miniatura ao redor do corpo do que uma simples peça de roupa. Ele deve ter tudo o que é necessário para garantir a sobrevivência de seu usuário, oferecendo segurança, como pressurização e sistemas de suporte de vida, e ao mesmo tempo garantindo a mobilidade e comunicação com companheiros de missão e missão de controle. Enquanto ninguém tenha morrido por causa de um traje defeituoso, seja em missões da NASA ou qualquer outra, isso não significa que os modelos utilizados sejam perfeitos. Gerald Carr, comandante do Skylab 4 (lançado em 1973), inclusive comentou que devido ao um design ruim, nenhuma das ferramentas dos três astronautas da missão cabia nos bolsos em que deveriam caber, o que o levava a se machucar na virilha com uma tesoura toda vez levantava seu pé direito para amarrar o cadarço. Em outubro de 2019, foram revelados dois novos trajes espaciais da NASA que os astronautas utilizarão em missões para ir à Lua em 2024 e, eventualmente, a Marte (anos atrás, a agência já havia anunciado seus planos de restaurar a atmosfera do planeta): o Orion Crew Survival System, para o lançamento e reentrada, e o traje de Unidade de Mobilidade Extraveicular de Exploração (xEMU), para a exploração da superfície lunar. Em relação ao segundo equipamento, esse será o primeiro redesenho em 40 anos. Apesar de já ter levado o homem à Lua uma vez, o programa Artemis será responsável por levar também a primeira mulher ao único satélite natural da Terra. Um dos principais objetivos da missão é estabelecer presença humana de forma permanente na Lua, principalmente devido à evidência de água no satélite. Em março de 2019, a NASA cancelou os planos para a primeira caminhada no espaço exclusivamente feminina justamente devido à falta de trajes espaciais de tamanho correto.
Os novos trajes espaciais da NASA
Com o aumento das atividades no espaço, houve inovações e melhorias em diversos aspectos, como design e desempenho, tanto nas espaçonaves quanto nos trajes espaciais. Até porque, enquanto pode ser divertido assistir os astronautas da Apollo saltitando pela Lua, o esforço necessário para que pudessem se mover dessa maneira foi mais do que a NASA gostaria.
Orion Crew Survival System
O traje espacial laranja Orion Crew Survival System foi projetado para ser pressurizado durante o lançamento e reentrada na Terra e despressurizado durante a viagem pelo espaço. A tripulação também pode pressurizar o traje para ajudar a deter os casos de doença descompressiva, se necessário, e também se refugiar nesse equipamento no caso de uma emergência. Esse traje espacial também possui cinco alças de segurança embutidas: duas no peito, duas na perna e um nas costas entre as omoplatas para permitir o resgate da tripulação em caso de um eventual problema. Além disso, os sistemas de suporte de vida dos trajes são completamente autônomos dos da espaçonave, um circuito fechado que não será afetado se a cabine for comprometida. A equipe também teve como objetivo melhorar a prevenção de lesões por força bruta que poderiam ocorrer durante um acidente. Por isso, o traje espacial é feito sob medida para o corpo humano e para o assento na cápsula Orion, que se assemelham aos assentos encontrados em um carro de corrida para evitar que os astronautas das missões da NASA sejam empurrados violentamente.
Unidade de Mobilidade Extraveicular de Exploração (xEMU)
Um dos principais pontos do novo traje que será usado nas missões da NASA, a começar pelo programa Artemis que levará novamente o homem à Lua, e posteriormente em viagens a Marte, será sua adaptabilidade para uso em uma ampla variedade de ambientes. A NASA quer um traje espacial que os astronautas possam operar durante caminhadas espaciais, na superfície lunar — que hoje se sabe ser composto de diversos minúsculos fragmentos parecidos com vidro — e, eventualmente, em Marte. Por isso, o novo equipamento é projetado com peças intercambiáveis que podem ser configuradas de acordo com a missão e o local utilizado. O novo traje conta com um conjunto de recursos tolerantes a poeira, de forma a evitar a inalação ou contaminação do sistema de suporte de vida do traje. O equipamento também é feito para suportar temperaturas extremas de -250 graus Fahrenheit (-121ºC) a 250 graus Fahrenheit (121ºC), algo fundamental para as explorações em Marte. Além disso, o xEMU possui menos costuras, sem zíperes ou cabos e lacres para proteger os múltiplos rolamentos dos trajes. Os astronautas da Artemis também serão mais ágeis do que nunca graças as melhorias nos trajes espaciais, sendo capazes de levantar os braços acima da cabeça e estendê-los para trás graças aos novos rolamentos, mais leves e mais próximos das juntas do que os usados nas EMUs anteriores, que permitem a rotação em todas as articulações — nos ombros, cintura, quadris, coxas e tornozelos, proporcionando uma maior mobilidade na parte inferior do corpo. Um novo recurso no design aprimorado do traje é a escotilha de entrada traseira, que permite que os astronautas entrem no traje espacial pela parte de trás, garantindo melhor colocação do ombro, aumentando a mobilidade e permitindo um melhor ajuste, ao mesmo tempo que reduz o risco de lesões no ombro. Além disso, dentro do capacete do traje espacial, a NASA redesenhou o sistema de comunicação. Os fones de ouvido nos trajes em uso podem ficar suados e desconfortáveis, e o microfone nem sempre acompanha bem os movimentos do astronauta. O novo sistema de áudio do xEMU inclui vários microfones ativados por voz embutidos dentro da parte superior do torso que captam automaticamente a voz do astronauta. Para garantir a eficiência e segurança, os equipamentos passam por extensivos testes antes de serem enviados ao espaço, incluindo testes de certificação e testes de nível inferior, no qual partes do traje espacial são testadas independentemente. Os astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional deverão testar os novos trajes em 2023, apenas um ano antes da nova viagem do homem à Lua. Fontes: Popular Mechanics, NASA, Atlas Obscura, Technology Review, Inside Hook