A verdade é que, por enquanto, fica difícil saber exatamente qual a posição histórica do COVID-19 entre as outras doenças, até porque ainda estamos longe de um momento em que podemos dizer que a disseminação da doença está controlada e é possível ter uma certeza estatística de que não haverão novos picos de transmissão. Mas, mesmo que ainda não podemos dizer com certeza qual será a posição desta nova doença em meio a outras pandemias, já é possível comparar os dados atuais que temos da doença com dados históricos de outros surtos do tipo – e é exatamente isso que o site Visual Capitalist fez em um infográfico.

COVID-19 vs História

O infográfico montado pelo site separa todas as grandes pandemias que possuem registros históricos em dois momentos: primeira pela época em que eles ocorreram, e depois pela quantidade de mortes que causaram. O infográfico pode ser visto abaixo, mas é preciso lembrar que os dados relativos ao COVID-19 dizem respeito aos números oficiais da Organização Mundial da Saúde no dia 25 de março, então é certeza de que os números reais serão maiores quando você estiver lendo esta matéria. Os dados do infográfico nos mostram algumas informações interessantes: por exemplo, a de que estamos na época histórica mais perigosa para a saúde humana. Enquanto até o século XX havia pelo menos um século de diferença entre o fim de uma pandemia e o início de outra, esse tempo começou a diminuir a partir de 1950 e, em apenas duas décadas desde que chegamos aos anos 2000, já presenciamos cinco pandemias de diferentes doenças (isso, claro, descontando a de AIDS, que se iniciou na década de 1980 e até hoje ainda não foi resolvida). Um dos motivos para isso seja a globalização causada pela tecnologia: com a facilidade de se viajar para diferentes cidades e países – além da existência de uma economia global, onde todos estão em constante contato com diferentes culturas – é mais fácil que qualquer surto de uma doença não fique confinado a uma única região específica, mas se espalhe para um número maior de locais ao redor de todo o globo. Ao mesmo tempo, o avanço tecnológico também permite que essas pandemias não sejam tão mortais quanto no passado. Como podemos ver pela gráfico, era comum no passado que essas pandemias durassem vários anos (às vezes até décadas) e, neste período matassem milhões de pessoas até serem controladas.  Isto não acontece com as pandemias mais recentes: apesar de terem acontecido numa frequência muito maior, elas também duraram menos tempo (se resolvendo em no máximo dois anos, quando não menos) e em nenhum momento chegando a uma mortalidade de milhões, já que os avanços tecnológicos ajudam no desenvolvimento mais rápido de vacinas, tratamentos ou mesmo de formas de conter a disseminação da doença. Claro, há duas exceções neste meio: a AIDS e a MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio). Mas, desses, o único caso realmente grave é o da AIDS, já que atualmente a MERS é uma doença que, apesar de não possuir uma cura específica e tudo o que se pode fazer é tratar os sintomas e esperar que o corpo a combata sozinha, já foi praticamente controlada e os casos dela que ainda aparecem são poucos e isolados.

Mortalidade

Com pouco mais de 16 mil mortos até o momento em que esta matéria foi escrita, o COVID-19 é uma das pandemias mais “brandas” até o momento, mas é preciso sempre lembrar que a doença está no seu começo e ainda não chegou em alguns países críticos como a Índia, que possui umas das maiores densidades populacionais do planeta e um sistema público de saúde pouco eficiente, então ainda é muito cedo para tirarmos qualquer definição sobre a real mortalidade desta nova doença. Mas, com base no gráfico, as doenças que mais causaram mortes na história da humanidade foram as seguintes:

Peste Negra: nome com o qual ficou conhecida a pandemia de peste bubônica que ocorreu na europa na metade do século XIV. Entre os anos de 1347 e 1351, a doença causada pela bactéria Yersinia petis, que era transmitida aos humanos através da mordida de pulgas e de ratos, matou cerca de 200 milhões de pessoas – o que significou a morte de algo entre 30% e 50% de toda a população da Europa na época.Varíola: a varíola foi o grande “bicho papão” dos nativos do continente americano durante o século XVI, já que os conquistadores vindos da Europa usaram a doença como arma para dizimar as civilizações nativas do continente que haviam acabado de “descobrir”, e 90% de toda a população indígena do continente morreu em decorrência da doença, que estima-se ter matado cerca de 56 milhões de pessoas neste período.Gripe espanhola: apesar do nome, esta doença não se iniciou na Espanha (não se sabe exatamente de onde ela surgiu, pois ainda está em debate na comunidade científica se os primeiros casos aconteceram na Inglaterra ou nos Estados Unidos), mas acabou ganhando este nome porque, como ela surgiu em 1918 (ou seja, durante a Primeira Guerra Mundial), os países que participavam da guerra censuraram seus jornais, pedindo para que eles ignorassem a doença para não baixar a moral da tropa. Como a Espanha tinha se mantido neutra no conflito, os jornais de todo o mundo só podiam falar abertamente sobre os casos que aconteciam naquele país, e deveriam ignorar todos os casos confirmados em qualquer outro país que estivesse envolvido na guerra. Por isso a doença ficou mundialmente conhecida como “espanhola” – não porque tenha surgido no país, mas porque a imprensa podia falar apenas sobre as mortes que ocorriam por lá. Entre 1918 e 1919, a Gripe Espanhola matou entre 40 milhões e 50 milhões de pessoas.Praga de Justiniano: muito antes de ser conhecida como a Morte Negra, a peste bubônica já havia causado uma outra pandemia na Europa entre os anos de 541 e 542. Conhecida como a Praga de Justiniano por ter acontecido justamente durante o reinado o imperador Justiniano I, a doença matou entre 30 milhões e 50 milhões de pessoas, e alguns historiadores acreditam que foi um dos fatores responsáveis pela queda do Império Romano.AIDS: a quinta doença mais mortal da história é uma que assola o mundo até hoje. Registros indicam que, desde 1981, a AIDS foi responsável pela morte de algo entre 25 milhões e 35 milhões de pessoas ao redor do mundo.

Alta transmissão

Outro infográfico interessante criado pelo site Visual Capitalist é o que compara a taxa de transmissão de algumas das principais pandemias do mundo – e o faz de uma forma que fica bem simples de entender. O infográfico basicamente mostra uma média de para quantas pessoas cada infectado transmite a doença caso continue circulando normalmente – ou seja, não seja isolado em quarentena. Como podemos ver, a doença de maior taxa de propagação é o sarampo, onde cada pessoa com a doença a transmite, em média, para 16 outras pessoas. Logo atrás vem a varíola e a rubéola, onde em ambos os casos cada pessoa com a doença a transmite para seis pessoas em média, seguidas pela caxumba, onde cada doente infecta pouco mais de quatro pessoas. Mas, apesar do COVID-19 estar abaixo dessas no nível de infecção, ela não é apenas uma “gripezinha”. Mostrado no gráfico, uma pessoa infectada pelo vírus da gripe comum (influenza) transmite a doença para 1,5 pessoas em média, enquanto aqueles que possuem o novo coronavírus a transmitem para 2,5 pessoas em média. Isso quer dizer que, caso as pessoas que contraíram a doença continuem mantendo contato com outros pessoas e não se isolem, o número de infectados pode dobrar a cada dia – e é por isso que o auto-isolamento é a principal medida proposta pela Organização Mundial da Saúde. Além disso, há um outro fator importante nesta história: como a gripe já é uma doença comum no sociedade há anos, não são necessariamente todas as pessoas que contraem o vírus que são realmente infectadas pela doença, já que caso o vírus seja de um tipo que ela já possua anticorpos o corpo tratará de acabar com ele antes que ele possa se alojar, causar sintomas e infectar mais gente. Isto não acontece com o COVID-19: por ser causado por um vírus novo, nenhum corpo possui ainda anticorpos para ele, então ainda que cada doente infecte “só” 2,5 pessoas, o vírus irá se alojar em todas elas. E o pior: como ele pode demorar até 14 dias para esboçar os primeiros sintomas, é possível que pessoas que já possuem o vírus estejam o transmitindo sem nem se dar conta, e é por isso que a recomendação de quarentena é geral, e não apenas para aqueles que apresentam sintomas da doença.

Projetando o futuro

Mesmo que ainda esteja muito cedo para sabermos exatamente qual o lugar que o COVID-19, mas podemos fazer um exercício de projeção de quantas mortes teremos ao fim desta pandemia. Digamos que a doença mantenha a mesma mortalidade que possui hoje – algo em torno de 4%. Isso quer dizer que cerca de 4% de todas as pessoas que são infectadas acabam falecendo. Assim, em um cenário que a doença contamine toda a população mundial (o que é extremamente improvável, mas vamos usar essa possibilidade aqui apenas como um exercício de projeção) que, segundo dados de 2019, é de 7,7 bilhões de pessoas, se 4% dessas pessoas morrerem (a taxa de mortalidade do COVID-19 considerada para este exercício), isso significaria a morte de 308 milhões de pessoas, o que a tornaria a pandemia mais mortal da história. Mas, claro, um cenário em que literalmente todas as pessoas do mundo são infectadas é algo muito, muito improvável. Mas digamos que metade (50%) da população mundial contraia o vírus: neste cenário, e mantendo a mortalidade de 4%, teremos um total de 154 milhões de pessoas mortas pelo vírus, deixando-a atrás apenas da Peste Negra no número de mortos. E podemos continuar fazendo estimativas: caso um quarto (25%) da população mundial contraia a doença, a estimativa de mortos será a de 77 milhões de pessoas. Caso 10% da população mundial (770 milhões de pessoas), teremos cerca de 30,8 milhões de mortos. E, se apenas 1% da população mundial contrair o vírus, a conta será de mais de 3 milhões de mortos. Claro, todos esses cálculos levam em conta uma estimativa de transmissão além da de qualquer expectativa. De acordo com o número de casos existentes hoje e os modelos matemáticos empregados pelos cientistas, as estimativas mais pessimistas é de que a doença atinja cerca de 0,1% da população mundial (ou 7,7 milhões de pessoas) antes de ser contida caso a curva de transmissão se mantenha, o que significaria que, ao todo, cerca de 308 mil pessoas morreriam, o que tornaria o COVID-19 a doença mais letal surgida no século XXI. E, claro, essa é uma estimativa levando em conta a taxa de mortalidade que temos no momento em que esta matéria foi escrita, que é de cerca de 4%. Este valor já é maior do que no início de março, quando a taxa de mortalidade da doença era de 3,5%, e pode acabar mudando (tanto para mais quanto para menos) conforme ela continue a se espalhar. Por isto, este é apenas um exercício teórico e não deve ser considerado como prova de qualquer coisa. A utilidade deste exercício é apenas uma: ajudar a entender o porque se fala tanto sobre “achatar a curva”: apesar de na teoria ela não ser a doença mais perigosa que já encontramos, a alta capacidade de transmissão dela faz com que possa ser uma das mais mortais caso não seja tratada com a devida seriedade, e é por isso que é tão importante a execução de medidas que visam diminuir o máximo possível a capacidade humana de transmitir o vírus para as outras pessoas – como é o caso das quarentenas e auto-isolamentos. Fonte: Visual Capitalist, OMS, Wikipedia (1) (2) (3)

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