Diante de um cenário tão desfavorável, o sucesso na oferta pública de ações (IPO) da empresa não poderia ser menos surpreendente: realizada no último dia 10 de dezembro, a oferta conseguiu angariar fundos para o caixa do Airbnb e reforçou a confiança dos investidores na startup. Pouco antes da abertura da oferta, a empresa pretendia cobrar US$ 68 (R$ 358) por ação, mas encerrou seu primeiro pregão com cada papel sendo vendido a US$ 144,71 (R$ 757) – uma alta de 112,81%. Após o IPO, estima-se que aproximadamente US$ 3,5 bilhões tenham chegado ao caixa da companhia, valor que financiará sua recuperação e crescimento nos próximos meses. Com a abertura de capital, o valor de mercado da startup também subiu para mais de US$ 100 milhões, marcando sua oferta pública de ações como a mais bem sucedida de 2020.

E como explicar esse sucesso logo agora?

Conforme relata o TheNextWeb, a maioria das organizações prefere abrir seu capital em momentos de crescimento ou, no mínimo, de estabilidade. Isto porque, ao aproveitar um período favorável nos negócios para fazer um IPO, a empresa estará mais preparada para escrutínio dos investidores e, consequentemente, aumentará suas chances de conseguir mais recursos com a venda de ações. Noutras palavras, as companhias que se preparam para abrir seus capitais não costumam fazer isso durante derrapadas econômicas ou grandes catástrofes, como guerras mundiais, recessões ou pandemias. A decisão do Airbnb em ir a público enquanto vivemos a maior crise sanitária das últimas décadas, portanto, é destoante – e o fato da empresa ter logrado êxito nessa empreitada merece ainda mais a nossa atenção. Um dos fatores que certamente favoreceu o Airbnb foi seu modelo de negócios. Ao contrário de uma rede de hotéis ou qualquer outra empresa tradicional ligada ao turismo, a startup não precisou gastar tanto para manter sua infraestrutura de negócios durante a pandemia: enquanto companhia aéreas continuaram tendo que pagar seus aviões, mesmo que não estivessem vendendo passagens, o Airbnb jamais precisou se preocupar com os quartos e imóveis que oferta, pois o custo de mantê-los é dos proprietários. Como resultado, o Airbnb pôde focar nas partes mais rentáveis de suas operações e não teve tantos “gastos sem retorno”, como foi o caso da maioria das empresas. Além do modelo de negócios eficiente, os especialistas apontam que o fato da startup ser referência mundial em aluguéis de temporada também contribuiu com o sucesso de seu IPO. Em comparação com rivais menos conhecidos, como o Booking.com e o Expedia, a queda nas vendas atribuída à pandemia foi menor para o Airbnb. No final de 2020, mercados do mundo todo começaram a se recuperar e tivemos a reabertura de destinos turísticos na África, Ásia e América Latina. Adicionalmente, a perspectiva positiva em relação às vacinas em diferentes países também aumentou a confiança dos investidores no setor de turismo. A título de exemplo, o site ainda cita que as ações das companhias aéreas Easyjet e Jet2 tiveram uma alta de 40%. Por fim, seja porque as autoridades estavam ocupadas demais com a COVID-19, ou pela competência de seu departamento de relações públicas, o Airbnb também teve a sorte de não enfrentar, além da pandemia, pressões mais severas dos governos de onde opera. No caso de outras gigantes do Vale do Silício, vale lembrar, este foi um ano marcado por desconfianças, inclusive as relacionadas à possibilidade de mudanças legislativas prejudicarem os negócios.

Um ano difícil, ainda assim

Apesar de estar encerrando o ano com vitórias, 2020 não foi fácil para o Airbnb: em maio, a empresa demitiu 1.900 de seus funcionários, praticamente um quarto de sua força de trabalho. No mesmo período, em abril, também viu seu valor de mercado chegar a US$ 18 bilhões, quase metade do registrado no fim de 2019 (US$ 31 bilhões). No caso do setor de viagens como um todo, dados da Organização Mundial do Turismo (UNTWO), entidade ligada às Nações Unidas (ONU), indicam que as perdas registradas em 2020 podem ultrapassar US$ 1,2 trilhão. Ainda assim, espera-se que esse seja um dos segmentos com recuperação econômica mais rápida, em razão, principalmente, da alta demanda por viagens num cenário pós-Covid.
Embora arriscada, a oferta pública de ações do Airbnb parece ter ocorrido no momento certo: pouco antes da retomada da economia na Europa, que deve acontecer no primeiro semestre de 2021. Bem sucedido, o IPO trouxe a verba necessária para um crescimento sem grandes preocupações. Mais do que isso, no entanto, a aposta também provou, ao público e aos investidores, a posição de liderança e a capacidade de reestruturação do Airbnb, expandindo sua vantagem competitiva para anos à frente dos rivais, ressalta o TNW. Com informações de: The Next Web, Bloomberg

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