Mudar os hábitos alimentares não é uma tarefa simples, em especial nos dias atuais, nos quais somos bombardeados diariamente com propagandas e ofertas de grandes franquias de fastfood. Para realizar uma transformação tão radical é preciso ir além da conscientização, como no caso da foodtech Suprême, fundada em 2018, na França. Recentemente, os cientistas da empresa conseguiram desenvolver a iguaria francesa foie gras, sem abater uma única ave! O que demonstra um grande avanço nas tecnologias de alimentos.

Desafios da alimentação no mundo

Além do difícil acesso aos alimentos nos países mais pobres, existem outros fatores que preocupam o mercado quando o assunto é comida em escala global. Segundo uma pesquisa feita pela ONU (Organização das Nações Unidas), a produção mundial de alimentos deverá crescer 70% até 2050 para acompanhar o crescimento da população, que deverá atingir 9 bilhões de pessoas. O problema é que para alcançar tal número, na maneira que produzimos alimentos hoje, será necessário cada vez mais espaços de terra e, com isso, a destruição do solo, ecossistemas e biodiversidade. Já em 2014, segundo relatório de avaliação de uso global da ONU, os humanos utilizavam 30% da terra para plantio, com tendência para crescer ainda mais. Até 2050, o relatório aponta que a agricultura pode degradar uma área equivalente ao Brasil, ou seja, o modelo atual não irá se sustentar para sempre. A forma como nos alimentamos também gera impacto no aquecimento global, já que a criação de gado é um dos principais motivos para o Brasil estar no sexto lugar do ranking mundial em emissão de CO² (gás carbônico). O desperdício global também é outro problema. São 1,3 milhão de toneladas de comida jogadas no lixo anualmente. Enquanto isso, 821 milhões de pessoas no mundo passam fome. No Brasil a situação não é diferente, mesmo sendo um dos maiores produtores agrícolas, 5 milhões de brasileiros não têm o que comer. Cada local possui sua particularidade nesse quesito, que incluem hábitos alimentares, distribuição de renda e acesso à comida.

Suprême

Clássico francês, o foie gras é um dos alimentos mais polêmicos devido a crueldade em que o animal é submetido para criar o prato. Ele consiste em um patê gorduroso feito com o fígado do pato, marreco ou ganso. Para que o órgão fique no ponto certo, os animais são confinados e forçados a se alimentarem de maneira compulsiva. O prato é tão polêmico que já foi até proibido em alguns países como Alemanha, Itália e Israel. Até hoje, ele é motivo de protestos das entidades protetoras dos animais. O que a Suprême propõe é algo bem menos invasivo. Coletando as células tronco do ovo de algum desses animais, alimentando as células com as mesmas proteínas contidas nos alimentos dos patos – grãos e vegetais. Com isso, eles podem desenvolver mais de um foie gras, sem abater ou torturar nenhum animal. Os pesquisadores garantem o sabor e a textura do prato produzido na forma antiga. Além de todas essas vantagens, é importante destacar que esse procedimento dura apenas três semanas, contra três meses do método atual. A criação em laboratório também é favorável ao planeta, pois utiliza 70% menos recursos naturais. Segundo a Suprême, não há armazenamento, transporte e criadouros reduzindo de maneira significativa o impacto ambiental. Embora esteja em fase de testes, o produto oferece as mesmas propriedades nutricionais que o tradicional.

Fazenda Futuro

Criado no Brasil, o Futuro Burger usa tecnologia importada da Alemanha, mantendo praticamente todas as texturas do original utilizando somente vegetais. O método inovador criado pela foodtech usa a proteína isolada da soja e o grão de bico para criar a “carne”. Já líquido avermelhado que lembra o sangue é criado com o suco da beterraba. Ao contrário do foie gras da Suprême, o Futuro Burger já está disponível em alguns locais do Brasil como nas redes Pão de Açúcar, Saint Marche e Eataly em São Paulo. Já no Rio de Janeiro, é possível experimentar a iguaria na hamburgueria T.T Burger, localizada em vários bairros da cidade, ou compra-lo nos supermercados Pão de Açúcar, La Fruteira e Zona Sul. Substituir a carne bovina é um dos maiores desafios culturais do mundo ocidental. Isso porque as criações de gado são os maiores responsáveis pela emissão de gás carbônico (CO²), responsável pela crise do aquecimento global. Sem contar as grandes áreas devastadas para se tornarem pastos, o consumo excessivo de água na criação de rações e o metano expelido por esses animais. Para se aprofundar mais no assunto, uma dica é assistir o documentário “Cowspiracy”, disponível na Netflix.

Behind The Food

Entre as foodtechs fundadas no Brasil está a Behind The Food, que lançou recentemente seu hambúrguer a base de vegetais. Segundo Leandro Mendes, fundador da Behind The Food, o objetivo é criar diversos tipos de carne preservando a vida animal, utilizando somente plantas. A técnica chamada de PT3 (Plant, Texture, Triple Tissue), visa copiar todos os tecidos da carne tradicional. Seu lançamento ocorreu no restaurante Muda Organic Burger, em São Paulo. Inicialmente a ideia era vender o produto somente para restaurantes, o conhecido B2B, mas a alta procura fez a empresa mudar o modelo de negócio. Os consumidores poderão encontrar o produto nos supermercados entre setembro e outubro. Além disso, a Behind The Food ampliou seu portfólio adicionando carne moída, kafta e polpetone.

Beyond Meat

Essa foodtech teve origem nos Estados Unidos em 2016, mas foi só em 2019 que sua carne vegetal chegou às prateleiras dos supermercados americanos. Desde que abriu seu capital na Bolsa de valores, em maio deste ano, suas ações valorizaram mais de 550%. A empresa informou que se tudo ocorrer como o planejado, pode ser a primeira a vender produtos do tipo em todo o país. Com mais tempo e experiência de mercado, a Beyond Meat é a foodtech com o catálogo mais variado. Além do tradicional hambúrguer, oferecem carne moída e linguiças que podem ser combinadas em diferentes modos de preparo. O próprio site oficial possui uma lista de receitas como churrasco, tacos, almôndegas e molhos. Esta semana foi anunciado um acordo entre a Beyond Meat e a franquia de frangos KFC, para testar a venda de nuggets e “asinhas” feitos à base de plantas. Ainda em fase de testes nos Estados Unidos, a parceria pode resultar em uma expansão com vendas em nível nacional. Outra franquia que já é conhecida por seu estilo mais saudável é o Subway, que também começou a usar as almôndegas da foodtech em seus lanches. Com a entrada de franquias famosas de fast food nos negócios, a tendência é que cada vez mais pessoas descubram alternativas para substituir a proteína animal.

Impossible Foods

O Burger King é outro gigante dos alimentos que realizou uma parceria com a Impossible Foods. Desde o dia 8 de agosto, a empresa está comercializando o Impossible Whopper em todo o território americano. Inicialmente o sanduíche era vendido somente nos restaurantes de St. Louis. O BK garante que os consumidores não irão perceber a diferença do Whopper tradicional, que até lançou um teste que os usuários poderiam pedir as duas versões por US$ 7,00 para tirarem suas próprias conclusões. Além de preservar o meio ambiente, o Impossible Whopper é mais saudável. Com 15% menos gordura e 90% menos colesterol, ele causa menos danos ao coração que um lanche comum. Graças a parceria, a foodtech Impossible Foods pretende expandir os negócios ainda mais, inserindo seus produtos para o consumidor final direto nos supermercados.

Foodtechs e as tendências na alimentação

Segundo o G1, já existem cerca de 40 foodtechs no mundo investindo em tecnologias semelhantes. A maioria em países como Alemanha, Estados Unidos, Holanda e Israel.  Mais que uma oportunidade de negócio, é uma tendência que deve se espalhar ainda mais nos próximos anos.

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