Uma resposta ao Brexit

Embora o setor industrial tenha feito campanha contra o Brexit sem necessariamente criticá-lo de forma direta, alguns desenvolvedores independentes responderam à iniciativa com jogos contendo mensagens bem claras e todas elas com verdades indigestas. Not Tonight, de Tim Constant, por exemplo, oferece uma visão de uma Inglaterra distópica, obcecada com o status de migração, onde os cidadãos europeus são segregados, se desejam continuar morando no Reino Unido, e constantemente sujeitos a verificações de documentos. O cenário claustrofóbico e pixelizado sugere que a Grã-Bretanha iria sucumbir à paranoia: [youtube https://www.youtube.com/watch?v=a8jtPQY3_fw] A Bloomberg News, sempre interessada em novas plataformas, criou o Pick Your Own Brexit, um simulador de negociação baseado em resultados prováveis. (“É complicado. Theresa May está dando o melhor de si, mas você poderia fazer melhor?”, é a tagline do simulador).  O jogador é presenteado com perguntas de múltipla escolha, cada resposta levando a história adiante, mesmo com o cenário alarmante. Enquanto o Pick Your Own Brexit permite que você busque uma variedade de opções, Not Tonight é bem mais efusivo em relação às opiniões de seus desenvolvedores e a intenção do jogo é promover entendimento. Os jogos abertamente políticos não são um fenômeno novo: Papers Please, de Lucas Pope, é a historia de um oficial de controle de fronteiras em um Estado totalitário, tornando-se muito popular na época de seu lançamento. Corbyn Run, outro exemplo, foi lançada pouco antes da eleição de 2017. Mas enquanto Corbyn Run foi capaz de capitalizar e ainda assim continuar extremamente político, mudando, inclusive, a opinião de alguns eleitores, resta saber se tais truques virais podem funcionar novamente.

A indústria se mobiliza

No ano passado, os órgãos da indústria pressionaram o governo para implementar medidas exclusivas para as empresas de jogos, e apoiaram abertamente o Voto Popular na disputa por um segundo referendo. Logo após o resultado do Brexit, a United Kingdom Interactive Entertainment divulgou um relatório detalhando como, com o acesso a vistos de trabalhadores altamente qualificados e cortes de impostos das empresas, a indústria britânica de jogos poderia sobreviver. No entanto, agora parece que o governo não está disposto a se envolver com indústrias separadamente e está se dirigindo para um cenário que quase certamente acabará com algumas liberdades de migração e aumentará as tarifas. No mês passado, deu-se o lançamento do Games4EU, um movimento explicitamente pró-europeu envolvendo muitos veteranos da indústria. Seus objetivos são “apoiar ações pacíficas e significativas para permanecer dentro da UE; demonstrar o dano que o Brexit fará ao setor de games e contribuir para um movimento mais amplo para parar, ou limitar os danos de um Brexit duro ou não comercial”. Em um artigo de opinião para o politics.co.uk, o organizador George Osborn argumentou que a nova situação econômica vai sabotar a indústria de videogames do Reino Unido, prejudicando profissionais do setor e paralisando negócios diários com jogadores e lojas internacionais. “A cultura do videogame é internacional”, escreveu ele, “e o Brexit se irrita contra essa natureza aberta e tolerante”.

Para o bem maior

As preocupações com o status de milhares de cidadãos da União Europeia que trabalham na indústria de jogos do Reino Unido são uma grande parte da motivação da Games4EU para se opor ao novo embargo político e econômico. As pesquisas, porém, não são animadoras – não é garantido que os opositores vençam mesmo que um segundo referendo aconteça. É possível que os jogos, como o resto da indústria criativa, possam ser uma ferramenta poderosa para a mudança política, mas somente se eles pudessem encontrar uma maneira de alcançar a população que votou no Brexit. O conteúdo aqui importa menos que os métodos de distribuição. Criadores e ativistas de videogames políticos devem pensar de forma inovadora sobre atingir públicos cujas visões possam ser desafiadas. Pode ser tarde demais para reverter o Brexit, mas inventar maneiras criativas de desafiar o cotidiano sempre foi o melhor que a arte pode oferecer. Fonte: The Guardian Gostou deste artigo? Deixe um comentário!

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