Parece uma fixação por sequências de números que são, aparentemente aleatórios. É interessante relembrar o bizarro Número 23, um filme de suspense de 2007 que não foi tão bem recebido pelo público. Nele, o personagem principal (interpretado por Jim Carrey) fica obcecado pelo número 23 depois de ganhar um livro sobre ele. Depois de assistir, muitas pessoas provavelmente ficaram intrigadas com o número ou buscaram relações em um outro que aparece constantemente em suas vidas.
Criando fixação por sequências de números
Não é difícil ficar intrigado com alguns números ou sequências de números especiais. Quando elas aparecem em programas televisivos, então, parece que nossa fixação só aumenta. Afinal, queremos saber por que tais números são tão especiais e até mesmo se quem os escolheu tinha segundas intenções.
Se você acha que a lista de sequências de números que já apareceram na telinha é pequena e que não dá para ficar muito fixado por elas, aqui vai uma atualização: a Lottoland fez um levantamento que lista 14 sequências que apareceram em séries e filmes.
Na série Lost, por exemplo, Hugo Reyes, o Hurley, encontra uma sequência de números (4, 8, 15, 16, 23 e 42) em algumas anotações. Por ter recebido um prêmio ao apostar nos mesmos números e ver coisas ruins acontecerem com as pessoas ao ser redor, ele acredita que os números são amaldiçoados. Atualmente, essa é a segunda sequência mais popular apostada na Lottoland.
Nos Simpsons, as sequências aparecem três vezes: quando Kent Brockman descobre que ganhou durante seu próprio programa (3, 17, 25, 38, 41 e 49), quando Marge teria ganho se tivesse jogado seus números habituais (3, 6, 17, 18, 22 e 29) e quando Homer acerta os números e leva um prêmio de 1 milhão (1, 6, 17, 22, 24 e 35).
Para ficar um pouco “bitolado” por elas, é só começar a brincar com os números. Tente encontrar alguma lógica entre eles ou descobrir por que foram os escolhidos. Também podemos começar a procurar pelos números que aparecem com mais frequência em nossas vidas, que podem ser para nos dar “sorte” ou “azar”.
Estatisticamente falando sobre sequências de números famosos
O problema da fama dessas sequências de números é que todo mundo sabe sobre elas. Por exemplo, há alguns anos, cerca de 2.500 pessoas dividiram um prêmio porque apostaram na sequência de Lost. Sortudos ou não, a verdade é que, para a estatística, esses números têm a mesma chance de serem sorteados que os demais. Embora alguns estudos da área mostrem que alguns grupos podem aparecer com mais frequência que outros, isso não significa que especialmente as sequências de números que apareceram em alguma série ou filme vão ser sorteados com mais frequência nos resultados. Inclusive, por falar em estatística, os sorteios de números são um prato cheio para quem gosta de probabilidades. É possível, por exemplo, aplicar a Lei dos Grandes Números – uma teoria da estatística que afirma que, quanto mais vezes uma experiência for repetida, mais a média tende a se aproximar do valor esperado. Além disso, vale destacar a noção de eventos independentes: o fato de um número ter saído algumas vezes não indica que ele pode ser sorteado da próxima vez ou que não será sorteado.
A ciência explica nossa fixação
Como seres humanos racionais, tendemos a buscar por padrões (e podemos ficar bem chateados quando não os encontramos). Desde os primórdios da humanidade, a busca e a compreensão de padrões nos ajuda a entender o ambiente que nos cerca, de modo que possamos reagir a ele tentando prever o que vai acontecer. Afinal, o desconhecido é interpretado como uma ameaça.
É bem provável que esse seja um dos motivos pelos quais criamos fixação com algarismos que achamos ser “nosso número da sorte”, sequências de números sem explicação, formas que aparecem em vários locais e, claro, números que aparecem em filmes, séries ou livros. Basta uma sequência aparecer em um episódio que é bem provável que alguém vá usá-la como uma senha, para fazer apostas ou como números da sorte.
Ainda, em um universo onde a desordem reina (entropia), esperamos encontrar uma relação de causa e efeito nos padrões, podendo, assim, explicar os fenômenos que nos cercam. Porém, vale lembrar que nem sempre é possível encontrar padrões (principalmente em sequências de números aparentemente aleatórias) e que a existência de um não significa que a causa é realmente significativa. Aliás, ficar muito fixado com alguma coisa pode facilmente te levar à loucura.
Um viés que é preciso destacar é que é provável encontrar alguma ordem em um número muito grande de tentativas aleatórias, mas isso não quer dizer que essa ordem realmente exista ali. Por exemplo, o famoso Pi é um número irracional, ou seja, um número decimal infinito e não periódico. Isso quer dizer que, nas infinitas casas decimais de Pi, não há um padrão.
Em contrapartida, como Pi é infinito, é bem provável que você encontre parte do seu número de celular, sua data de nascimento ou a sequência de Lost em alguma parte dele. Não é proposital ou tem alguma correlação: se Pi é infinito, você pode encontrar qualquer sequência de números nele – só precisa encontrar casas decimais o suficiente para isso, claro.
A tecnologia está do nosso lado
Atualmente, temos a tecnologia a nosso favor na busca para reconhecer padrões. Criamos programas de computador que visam encontrar uma relação lógica entre grandes séries de dados e consigam nos ajudar a predizer o futuro. Por exemplo, programas que analisam vários dados meteorológicos para tentar fazer a previsão do tempo ou dados cerebrais para tentar prever alguma desordem no padrão e identificar quais alterações são indícios de doenças. Ainda, é possível citar uma lista gigantesca de outras aplicações.
Além disso, é uma forma de sobrevivência: prever eventos meteorológicos severos nos permite tentar amenizar suas consequências antes da hora e prever o aparecimento de uma doença permite iniciar o tratamento o quanto antes. A tecnologia só facilitou – e muito – esse processo.
Você pode usar a tecnologia para encontrar padrões em sequências de números famosos. Basta usar um programa já pronto ou criar um e deixar rodando em busca de uma correlação entre os números. Para pequenas sequências isso é bem simples e destaca como os recursos tecnológicos tornam a busca mais fácil.
De toda forma, é preciso saber discernir sobre a busca de padrões. Há buscas que nos levam a resultados proveitosos, como algo que pode ser usado para salvar uma vida. Porém, pouco custa para o nosso cérebro buscar uma fixação por algo sem relevância.
No caso das sequências de números famosas, é possível que, mesmo que você gaste sua vida procurando por um padrão, ele simplesmente não exista. Se você acredita em sorte e azar, pode carregá-los consigo para usar quando precisar de alguns números ou pode optar por eles por simplesmente não ter uma opção mais atraente. No fundo, eles sempre estarão por aí, aparecendo em apostas, em senhas, em números de telefone e nas casas decimais do Pi.