Existem muitos paralelos que conectam a cidade ficticia de Outlast 2 a Abadiânia, uma cidade de não mais que 16 mil habitantes no interior de Goiás, a 117 quilômetros de Brasília, que vive e respira pelo turismo gerado por seu próprio milagreiro. A série de acusações de abusos sexuais contra a figura de João de Deus é apenas a ponta do iceberg, que durante anos em atividade como cirurgião espiritual vem conquistando adeptos mundo afora e deixando especialistas incrédulos com os seus ditos milagres.

João de Deus: o escândalo

No último mês, o médium João de Deus teve seu nome vinculado a mais de 500 casos de abuso sexual. Suas vítimas? Fiéis e sua própria filha. As denúncias são um acumulo de abusos praticados em mais de quase sessenta anos de atividade. Acredita-se que João tenha tratado mais de 9 milhões de pessoas neste tempo. Nascido em 1942,  João Teixeira de Faria é um fazendeiro católico semi-analfabeto, pai de 11 filhos de mulheres diferentes. Desde 1976, o curador brasileiro atende às centenas de pessoas nas quartas, quintas e sextas na Casa de Dom Inácio de Loyola, praticando intervenções chamadas cirurgias espirituais.  Alegando estar possuído por espíritos que têm o dom da cura, seriam mais de 30 entidades que operam pelas suas mãos, incluindo o prórpio Inácio de Loyola, santo do século 14 que dá nome à casa. É uma cena comum se deparar com João realizando uma série de intervenções na Casa de Loyola, incissões de facas e bisturis sem assepsia, chamadas de visíveis. Estes são apenas para casos extremos, porém. A maioria das cirurgias é realizada sem cortes na pele.  Para se ter uma idéia, o trabalho de ‘John of God’ leva mais de mil pessoas por dia a Abadiânia, sendo 80% deste público estrangeiros e cerca de 30 hotéis operam na cidade de 16 mil habitantes. Além de atender na Casa Dom Inácio, o médium viaja anualmente para os Estados Unidos, a Áustria e a Suíça para dar conta da fama internacional. Seu nome e seu trabalho já apareceram em uma série de programas europeus e na Oprah Winfrey, que ficou impressionada com o trabalho do médium para a gravação de seu programa. Uma das sessões levou a apresentadora ao desmaio. Em sua longeva carreira, só houve o registro de uma morte. A austríaca Martha Raucher morreu de infarto em um final de tarde em fevereiro de 2012 na Casa Dom Inácio. O aprendiz do Chico Xavier não estava no local no momento, e a austríaca não havia sido submetida a cirurgias com cortes. O Ministério Público decidiu arquivar as denúncias contra o cirurgião espiritual por falta de provas. No momento, não há nenhuma investigação em curso. Pelo menos nesse aspecto. Os abusos teriam acontecido no mesmo local em que as vítimas acreditavam estar à procura da cura de suas cicatrizes físicas e emocionais. De Deus não é o primeiro nem o último guru espiritual que tem ou terá seu nome relacionado à escandâlos desse tipo. Jim Jones, o Cerco de Waco, Charles Manson, a rede de pedofilia da Igreja Católica em Chicago (que deu origem ao filme Spotlight) e, no Brasil, o caso do cartunista Glauco são alguns exemplos extremos de que a espiritualidade é, infelizmente, uma forma de manipulação e que podem fornecer ferramentas suficientes para promover tragédias. A psicologia explica isso melhor. Há muito na figura de João que é capaz de mobilizar as massas: seu porte físico, argumentos consistentes alimentados por uma lábia que seduz, seu altruísmo (vale lembrar que, além de outros trabalhos voluntários, o passiflora é gratuito) e, no geral, a consciência de saber exatamente o que está fazendo. Outras figuras semelhantes apareceram e, com as mesmos artifícios foram capazes de movimentar milhões. Por força de exemplo, a própria figura de Cristo possui essas características: o trato com os mais necessitados, a bondade que tranborda e a santidade, pura e simplesmente. Até mesmo o seu nome é caso pensado: de Deus. Ele é o casamento perfeito entre à fé cristã, da ideia de penitência e excomungação dos pecados, aliado à certeza de que a morte é passageira. E ainda faz mais: vende a ideia de que as suas ações e a de seus fiéis é movida por uma força extracorpórea, sobre a qual eles não tem responsabilidade nenhuma. Geralmente, quem procura o cirurgião espiritual já foi desenganado pela medicina ou está há anos em tratamentos sem sucesso. O médium não promete cura a ninguém, mas proliferam relatos sobre seus milagres. O que levam os fiéis a Abadiânia é a promessa, e claro, o boca à boca. Um dos mais seus êxitos mais famosos é o da atriz Shirley MacLaine, responsável por divulgar o nome do médium no exterior, que diz ter sido curada de um câncer no abdômen com sua ajuda. É crença no milagre que permite que figuras como João de Deus abuse do poder a que lhes foi consagrado.

Uma terra de tradições

O Brasil tem uma relação muito próxima da espiritualidade. Junto a Filipinas, o país é o berço das cirurgias espirituais. Essa tradição é objeto de estudo do antropólogo norte-americano Sidney Greenfield, que identifica no Brasil uma naturalidade muito orgânica para manter acesa as velhas crenças místicas no sobrenatural, mesmo com o inconstetável avanço da medicina no último século. Nem sempre foi assim. Antés de João de Deus houve José Pedro de Freitas, conhecido simplesmente como Zé Arigó, nascido no interior de Minas Gerais e que foi condenado duas vezes por exercício ilegal da medicina. A primeira condenação, em 1958, Arigó recebeu um indulto (perdão por um crime) do então presidente, Juscelino Kubitschek, cuja própria filha havia sido tratada pelo médium, que canalizava o espírito de um tal Dr. Fritz, um suposto médico alemão morto em 1918. Na segunda condenação, porém, em 1964, o médium também recebeu outro indulto, mas o recusou porque não queria ser perdoado por um crime que não praticara. Os atendimentos de Arigó no Centro Espírita Jesus Nazareno começavam pontualmente às 7 horas da manhã – à tarde, o médium batia ponto no INSS próximo. Canalizando o espírito de Fritz, o mineiro assumia um sotaque alemão. Tratava cerca de 200 pessoas até o meio-dia, todo dia com uma rispidez incomum.

Como João de Deus, organizava-os em filas, fazia as operações em questão de segundos, com rápidas incissões, sem necessidade de analgésicos e mandava embora os casos aue dizia ser sem cura. Os casos mais graves, solicitava uma nova visita. Quando não operava, fazia diagnósticos certeiros sem sequer examinar o doente. Prescrevia longas receitas de remédios, muito deles recém-lançados e estrangeiros, sem questioná-los sobre seus históricos médicos. Não cobrava pelas consultas, pelas cirurgias ou pelas receitas. O hábito é próximo às ações de João, que é conhecido por sua obras de caridade. Em duas décadas, estima-se que Arigó tenha atendido cerca de 2 milhões de pessoas, sem nenhum paciente ter movido uma ação contra ele. As duas condenações por curandeirismo partiram de denúncias da classe médica. Morreu em 1971, em um acidente de carro. A Casa de Dom Inácio de Loyola foi inaugurada em 1976 em Abadiânia. 

A Ciência por trás de João

O sucesso de João não passou despercebido aos olhos das ciência, a Universidade Federal de Juiz de Fora decidiu investigar se as operações de João de Deus não seriam fraudes. O psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da UFJF, investigou 30 operacões do médium. Em seis delas, decidiu recolher tecidos extraídos e os analisou em laboratório. Todos eram compatíveis com as regiões do corpo operadas. Porém apenas um dos tecidos analisados apresentava anomalias, os demais eram sadios – o que trouxe a dúvida sobre a real necessidade das operações visíveis. Acompanhados, os pacientes não apresentaram sinais de infecção ou dor. O antropólogo americano Sidney Greenfield foi ainda mais a fundo na investigação das polêmicas cirurgias. Greenfield veio ao Brasil nos anos 90 e filmou dezenas de operações de norte a sul do Brasil. Identificou uma reação coletiva deveras curiosa: Sempre em que os médiuns empunhavam o bisturi, quem estava em volta parecia estar em transe. Hipnotizados. Na Casa Dom Inácio de Loyola é exigido que se vista branco e não se cruzem os braços de jeito nenhum. Nas paredes e em pequenos altares, santos e pedras espalham-se pela sala, enquanto 150 pessoas oram em silêncio. Há um cenário propício para a meditação. Estava aí uma possível resposta para a segunda pergunta que intriga a ciência: como operações feitas por cirurgiões sem diploma e alheios à higiene não provocam dor ou infecção? Intrigado, Greenfield mostrou as gravações à especialistas que chegaram à seguintes conclusão: a mente fica naturalmente suscetível a entrar em transe num ciclo que ocorre a cada uma hora e meia ou duas horas, ficando mais focada e aberta às palavras do médium. Grande parte dos rituais religiosos leva mais de uma hora e pode envolver rezas, danças, cantos, meditação, depoimentos e tratamento espiritual, incluindo as polêmicas cirurgias com cortes. Palavras, pensamentos e emoções e, em especial, o tempo, acionam a liberação de hormônios que, eventualmente, amplificam a nossa imunidade. O clima propício a estados alterados de consciência, combinado com a crença na cura e com alterações hormonais decorrentes do relaxamento e capazes de turbinar a imunidade, é uma das hipóteses para explicar por que uma cirurgia espiritual com corte não provoca dor e pode, surpreendentemente, trazer benefícios. A própria medicina coleciona casos similares em que o corpo promove a própria cura: chama-se remissão espontânea.  Em 1966, os médicos Tilden Everson e Warren Cole chegaram à conclusão que ela ocorre uma vez em 100 mil casos. O livro Spontaneous Remission (“Remissão espontânea”, sem tradução para o português), de 1993, documentou 3,5 mil referências a cura espontânea não só de câncer como também de outras doenças graves. Elementos como a crença na cura, a perca da confiança na medicina e o ardor reliogioso provocado pelas sessões são elementos sedutores que promovem um bem estar geral. Nada disso, porém,  justifica os horrores testemunhados em Abadiânia. O caso João de Deus é apenas um capítulo de uma religião que cresce e vem ganhando adeptos no mundo todo.

O espiritismo: uma linha do tempo

É fato de que desde os povos antigos, o ser humano sempre teve uma relação muito próxima a espiritualidade. E nem sempre isso foi visto com bons olhos.  A humanidade tem tentado comungar com os mortos desde os tempos antigos. Em Levítico, o Deus do Antigo Testamento proibia ativamente as pessoas de buscar médiuns. Falar com os mortos nunca foi sinal auspicioso. Bruxas eram queimadas na Inquisição. A religião dos povos africanos sempre foi vista com maus olhos no Brasil, desde o tempo da escravidão.  Tal interesse atingiu seu auge no século XIX, época em que a religião e a racionalidade estavam em conflito como nunca antes. Em uma era de descobertas científicas sem precedentes, alguns fiéis começaram a buscar evidências de suas crenças. A união desse embate de crenças veio de duas irmãs americanas, Kate, de 11 anos, e Margaret Fox, de 14 anos. Exatamente no dia 31 de março de 1848, as garotas anunciaram que iriam entrar em contato com o mundo espiritual. Para o espanto de seus pais, eles tiveram uma resposta. Naquela noite, as irmãs Fox conversaram com um fantasma que estava assombrando sua casa localizada no estado de Nova York. A comunicação? Usando-se de um simples código de um toque para sim, dois toques para não. Familiar, não é mesmo? Isso porque, a partir de então, a descoberta das irmãs tornou-se um fenômeno. A notícia se espalhou e logo as meninas estavam demonstrando suas habilidades para 400 moradores na prefeitura. Em alguns meses, uma nova religião surgiu – o espiritismo – uma religião que mistura crença católica com valores liberais e inconformistas, tudo isso regado a conversas com aqueles que já não estão mais presentes no mundo físico. O espiritismo atraiu alguns dos grandes pensadores da época, incluindo os biólogos Alfred Russel Wallace e Sir Arthur Conan Doyle, que passaram seus últimos anos promovendo o espiritismo como modo de eliminar as histórias de Sherlock Holmes.

Até mesmo a confissão das irmãs Fox, em 1888, de que haviam falsificado tudo não conseguiu esmagar o movimento. Hoje, o espiritismo prospera em mais de 350 centro espíritas apenas na Grã-Bretanha. Mundialmente são mais de 15 milhões de adeptos.   Os truques e técnicas usadas pelos médiuns foram expostos muitas vezes por pessoas como James Randi, Derren Brown e Jon Dennis, criador do site Bad Pyschics. Mas nomes como João de Deus, Zíbia Gasparetto e Chico Xavier prosperaram com o alcance da nova religião.

A força da sugestão

Especialistas analisam a este fenômeno com um olhar cético e apesar de todas as ressalvas, a ciência tenta ainda achar lógica em situações que parecem ser desesperadoras. Quais foram as ferramentas de manipulação de João de Deus para seduzir os seus seguidores ao ponto de receber carta branca para cometer uma série de atrocidades? Sugestionar é a resposta.  O Professor Richard Wiseman, psicólogo, afirma que é comum do ser humano a ser suscetível a sugestões. Todos nós somos, sem exceção. Por esse motivo, tendemos a acreditar no sobrenatural, ou em forças de cura, ou até mesmo salvação. O cérebro humano é poderoso a esse ponto.  Em um experimento realizado com mais de 150 pessoas, Wiseman pode identificar que, ao sugerir de que forças sobrenaturais realizassem uma determinada ação (mover a mesa de centro), em uma terceira sessão os participantes estavam convictos de que a mesa havia se mexido, mesmo que este não fosse o caso.  As armadilhas da sessão aumentam a taxa de sucesso. Estar com as mãos dadas impede que os participantes interrompam o truque. A escuridão aumenta a sensibilidade ao som e ao movimento e deixa as pessoas mais assustadas – o que, segundo Wiseman, aumenta a suscetibilidade. A sessão pode ser explicada pela mágica do palco e pela fragilidade humana. Mas o que dizer de fenômenos como mesas se locomovendo ou tabuleiros Ouija?

Tabuleiro Ouija: o chavão dos filmes de Terror

Móveis se locomovendo podem até estar fora de moda, mas são faceis de se  replicar com quatro ou mais pessoas, uma pequena mesa, luzes fracas e um ambiente descontraído. Por esse motivo, talvez sejam a opção favorita dos roteiristas para plots faceis. Toda a ação por si só já mexe com o psicológico. E as consequências, aparentemente, podem ser terríveis. Um grupo coloca as mãos na mesa e espera. Após 40 minutos ou mais, a mesa deve começar a se mover. E a resposta para esse fenômeno sobrenatural é científica. A razão pela qual os móveis domésticos parecem estar possuídos por forças sobrenaturais foi exposta há mais de 160 anos por Michael Faraday, que também descobriu a ligação entre o magnetismo e a eletricidade. Em 1852, Faraday ficou fascinado com a nova mania de mesas se movendo inusitadamente – e se as pessoas ou os espíritos eram os responsáveis por isso. Então ele pegou pedaços de papelão do tamanho de um tampo de mesa e colou-os juntos. Cada folha ficou progressivamente menor de cima para baixo, permitindo a Faraday marcar suas posições originais no cartão acima com um lápis. Ele então colocou os cartões em uma mesa e pediu aos voluntários que colocassem as mãos nos cartões e deixassem os espíritos moverem a mesa para a esquerda. Este experimento permitiu que Faraday indentifcasse o que estava movendo a mesa de fato. Se fossem espíritos, o tampo da mesa deslizaria os cartões de baixo para cima. Mas se os participantes estivessem fazendo isso, as cartas principais, acima, seriam as primeiras a se mover. Examinando a posição das marcas de lápis, Faraday mostrou que pessoas, não espíritos, moviam a mesa. Ele havia demonstrado a resposta motora, o movimento dos músculos independente do pensamento deliberado. Isso também explica o sofisticado irmão mais velho da mesa, o tabuleiro Ouija. Em uma sessão Ouija, os participantes colocam os dedos em um copo sobre uma mesa cercada de letras e observam enquanto se movimenta misteriosamente – e ocasionalmente soletram palavras. A psicóloga Susan Blackmore é mais conhecida como uma proponente dos memes, mas no início de sua carreira ela era uma parapsicóloga. Em Oxford, ela dirigiu o Psychical Research Society, realizando experimentos com tabuleiros Ouija a fim de legitimar o fenomêno como paranormal. De vez em quando o copo soletrava palavras e frases. Mas sua confiança foi minada após algumas sessões, quando ela modificou o quadro. O efeito motor também está em jogo com o copo. “Com um tabuleiro de Oujia, seu braço acaba se cansando e sua capacidade de julgar a localização do seu dedo está comprometida”, diz Blackmore. “Quando o copo se move, o indivíduo naturalmente ajusta seus movimentos para acompanhá-lo. Para se ter uma ideia, no inicio, o copo se move hesitantemente, mas depois de um tempo, assim que ele começa a se mover, a mão de todos segue.” Mas e quanto à capacidade do copo para soletrar algumas vezes frases inteiras? Isso foi investigado pelo psicólogo americano Joseph Jastrow na década de 1890. Ele usou um dispositivo chamado automatógrafo, feito de duas placas de vidro separadas por bolas de latão. Qualquer movimento involuntário das mãos colocadas na placa superior faz com que ela se mova. O movimento é gravado por um lápis preso ao dispositivo. Quando Jastrow pediu aos voluntários que imaginassem olhando para um objeto na sala, o automatógrafo revelou que suas mãos se moviam involuntariamente naquela direção. Apenas visualizando a porta foi o suficiente para as mãos se moverem em direção a ela. E é isso que está acontece com um tabuleiro Ouija. Se os participantes olharem para uma letra em particular, eles involuntariamente empurram o copo em direção a ela. Se o tabuleiro Ouija esclareceu o movimento involuntário, outra técnica, a canalização de espíritos, questionou o livre-arbítrio.

Livre Arbítrio

O psicólogo de Harvard, Dan Wegner, que faleceu este ano, tem um extenso trabalho que relaciona psicologia ao sobrenatural, mas é mais conhecido especialmente por sua pesquisa sobre o efeito rebote. Diga a alguém para não pensar em ursos brancos e eles imediatamente pensam em ursos brancos. Quanto mais tentamos reprimir ativamente um pensamento, menor a probabilidade de sucesso. Mas ele também investigou a escrita automática, onde as pessoas afirmam escrever sem estarem conscientes do que estão fazendo. Parece familiar? Um dos psicógrafos mais famosos foi Pearl Curran, um americano que psicografou mais de 5.000 poemas, romances e peças de teatro, enquanto afirmava estar canalizando o espírito de Patience Worth, uma jovem inglesa do século XVII. No Brasil, temos a figura de Chico Xavier, que, além de muitos feitos, tinha como crédito ser profético. Psicografia, aos olhos da psicologia, tem sido tradicionalmente explicada como a ação da mente subconsciente. Mas Wegner argumentou que a razão estava na ilusão do livre arbítrio. A maioria das pessoas tem uma noção do seu eu interior – o eu consciente que toma decisões sobre a vida cotidiana. Segundo Wegner, esse sentido é uma ilusão. Há evidências para apoiar essa ideia aparentemente improvável. Na década de 1960, o neurofisiologista William Gray Walter contratou voluntários para operar um projetor de slides enquanto seu cérebro era monitorado com eletrodos. Os participantes foram instruídos a pressionar um botão para mudar os slides. Mas o botão era falso – o projetor era controlado pela atividade elétrica no cérebro. Os voluntários, assustados, se virem frente a uma máquina que estava prevendo suas decisões. Uma fração de segundo antes de decidir apertar o botão, a parte do cérebro responsável pelo movimento da mão entrou em atividade e – através dos eletrodos – moveu o slide. Gray Walter mostrou que havia uma fração de segundo entre o cérebro tomar uma decisão e alguém estar ciente de que eles estavam tomando uma decisão. Na década de 80, Benjamin Libert, da Universidade da Califórnia, em São Francisco, fez uma descoberta semelhante depois de conectar voluntários a monitores e sentá-los na frente de uma tela exibindo um ponto em um círculo. Os participantes foram orientados a flexionar os pulsos sempre que quisessem e relatar a posição dos pontos no momento em que tomavam a decisão de flexionar. Mais uma vez, houve um aumento na atividade cerebral uma fração de segundo antes que os voluntários soubessem que estavam tomando uma decisão. A conclusão de Wegner foi que nosso cérebro deliberado e pensante – o eu interior que toma decisões – é uma ilusão. Em vez disso, o cérebro faz duas coisas quando toma a decisão de levantar um braço: a) passa uma ‘mensagem’ para a parte encarregada do o seu interior consciente; b) retarda o sinal que vai para o braço por uma fração de segundo. Esse atraso gera a ilusão de que a mente consciente tomou uma decisão. Wegner argumentou que a psicografia ocorre quando algo dá errado com esse processo. O cérebro envia o sinal para o braço para escrever – mas não alerta o seu interior. Há algo um pouco irônico em sua conclusão. Os primeiros espiritas acreditavam que estavam esclarecendo a transição do espírito humano do corpo físico para a vida após a morte. Wegner sugere que não é caso, não apenas a distinção entre mente e corpo que é falsa, mas todo o conceito da tomada de decisão “consciente” é apenas mais uma peça de trapaça interpretada pelo cérebro. E enquanto isso, 150 anos depois de Faraday ter mostrado que as mesas eram movidas por ninguém além de nós mesmos, continuamos a amedrontar um ao outro no escuro.

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